Foto de João Meneres in n.º 19 do “Porto 1901-2001, Guia de arquitectura moderna”, Porto 2001 - In Do Porto e não Só
"Apreciei os dois últimos textos inseridos no vosso blogue dedicados ao futebol na cidade.
Em tempos fiz uma pesquisa sobre clubes mais modestos da
cidade, mas, igualmente com muita história, com a ajuda de alguns amigos que
menciono, pelo que vos proponho para complemento a sua publicação".
É com o maior gosto que a publicamos:
Futebol no CAMPO DO LUSO
“Do campo do
Luso, onde fui centenas de vezes, ver futebol, andebol e, especialmente, hóquei
em campo, tenho milhares de “fotografias” na memória!
Algumas até, peculiares. Como a do Circo Mariano, que
todos os anos pelo Natal se instalava ali, e um ano houve que um violento
temporal lhe levou a cobertura de lona. Tenho bem presente o dia seguinte…
Este campo era do Sporting
Nacional (fundado em 1914), clube mais dedicado às actividades náuticas,
mas que não deixava de jogar o futebol, tendo mesmo comprado um terreno na Rua
da Alegria onde fez um campo para a prática desse jogo, em frente ao que viria
a ser mais tarde o estádio do Lima, junto à fábrica têxtil Matos &
Quintans.
Por outro lado, um outro clube, o Portugal Foot Ball Club, viria em 1923 a ver a luz do dia, nascido
para o futebol, tendo-se asssociado no ano seguinte ao Sport Nacional para
formar o Luso Atlético Clube.
O Luso Atlético Clube passaria a jogar no campo do
Luso e seria extinto em 1937.
O acesso inicial a este campo, construído antes do
Lima, e que ficava encostado à fábrica Matos & Quintans, era pela viela do
Seixal…”.
Memórias de
Victor de Sousa
Como nota
diga-se que o campo do Luso ficava em frente ao Estádio do Lima no terreno onde
estão hoje umas torres de habitação.
O campo do
Luso teve existência até ao levantamento dessas torres em meados da década de
sessenta do século XX.
O campo era
conhecido por lá se disputarem os jogos de andebol de 11 e de hóquei em campo.
No local das torres estava o Campo do Luso
Futebol em Campanhã
“Campanhã é, nos inícios dos anos 20 do século XX, uma populosa freguesia da cidade, onde imensos bairros albergam a grande massa humana que labuta nas suas fábricas, armazéns e outras instalações industriais. Por isso a febre do futebol que, por estes anos, atravessa o país, também aqui se faça sentir. Um grupo de rapazes entusiastas, mas modestos, criam o primeiro clube organizado (?), destas bandas. Dão-lhe o sugestivo e bonito nome de Miraflor Futebol Clube. Era o nome da rua onde a maioria vivia. Mas o clube não crescia, dadas as insuficiências financeiras, e levaram outros à criação de um novo clube, que pudesse chegar ao futebol a sério.
Nascia o Clube Desportivo de Portugal.
Mas cedo chegou uma cisão e, por isso, os líderes das respectivas facções promovem a inscrição de cada uma delas, com o peculiar nome de Clube Desportivo de Portugal nº 1 e Clube Desportivo de Portugal nº 2!
A Associação faz um inquérito e, conclui da justeza do direito ao nome, de cada um dos grupos, decidindo contudo que o nome só pode pertencer a um.
Surge assim o Clube Desportivo do Porto, que joga em campo alugado na Bela Vista e o Grémio Desportivo Portuense, que jogava em campo alugado em Benjóia ou Bonjóia. Mais tarde, este seria o Clube Desportivo de Portugal dos nossos dias, nascido a 25-08-1925.
Mas a rivalidade acentua-se entre estes 2 únicos clubes, existentes nesta populosa freguesia.
Os clubes passam a ser conhecidos pelos favaios ou azeiteiros, numa clara alusão ao negócio dos seus presidentes: o sr. Couto do Desportivo do Porto vendia este excelente aperitivo, e o senhor Nogueira do Desportivo de Portugal, era negociante de azeites.
Entretanto, surgiria em 1935 um novo clube na freguesia, O Faísca, clube dos empregados da UEP (União Eléctrica Portuguesa), e com sede na Rua do Freixo (vinha fazer companhia ao Clube dos Ferroviários de Campanhã, mais ligados a outros desportos, e com o futebol nos corporativos, que jogava no campo de Vila Meã, no fim da Rua do Godim, hoje ocupado pela Via de Cintura Interna, depois de atravessar a linha férrea).
Mas o Faísca cresce, com o apoio da empresa a que está ligado e, o seu presidente, compra o alugado campo do Desportivo do Porto, o campo da Bela Vista.
O Clube Desportivo do Porto tem de mudar de casa. Aluga um terreno que adapta, na rua Nau Trindade, e em 1937 atribui-lhe o nome de um seu atleta falecido: Joaquim Soares Martins. Este recinto será posteriormente usado pelo Bonfim Futebol Clube, clube entretanto fundado, em 21-08-1932 e que em 1946/47 chega aos distritais.
Mas o agora campo do Faísca passa a ter um uso diversificado, pois logo em 1936 o Sport Clube do Porto joga ali o seu hóquei em campo. Hoje, o recinto do jogo ainda lá está intacto, à espera duma daquelas urbanizações sem verde, em que a cidade é fértil”.
Com a devida vénia a Vitor Sousa in futebolsaudade-victor.blogspot.
Antiga entrada do Campo da Bela Vista pela Travessa da Fonte Velha
“O campo da Belavista ainda lá tem o chão intacto. Há muito pouco tempo, ainda parte do acesso estava visitável. Entretanto os proprietários vedaram a zona, que está cheia de mato. O acesso fazia-se pela travessa da Fonte Velha, que o arruamento que liga São Roque da Lameira à Alameda 25 de Abril cortou.
Descendo aquela travessa, hoje cortada pela Avenida 25 de Abril, íamos dar à travessia da linha do comboio, onde hoje está uma estação do metro que nunca funcionou (Benjóia), e do outro lado, estava a entrada para o campo do Ferroviários. O nome oficial do campo era engenheiro Sousa Pires, embora por vezes, nos jornais da época, também lhe chamassem campo de Benjóia (Bonjóia para alguns). Outros preferiam chamar-lhe campo de Vila Meã.
Deste não sobra nada, já que a auto-estrada lhe passou por cima. Literalmente”.
Memórias de Victor Sousa
O Grupo Desportivo dos Ferroviários de Campanhã (G.D.F.C.) foi fundado em 1930, nas Ex- Oficinas Gerais da CP, junto à estação de Porto – Campanhã.
Tem estatutos publicados no Diário do Governo, II série nº 277, de 27 de Novembro de 1943.
Possuiu um parque de jogos próprio em 1940, perto do Bairro do Monte da Bela e junto à Quinta de Vila Meã, com campos de futebol, de basquetebol, de andebol, e ainda, uma modesta, mas apresentável sede social. Essas instalações fazem hoje parte da história e são uma saudade desde 1990, altura em que foram demolidas na sequência da grande transformação operada na área ferroviária adjacente à estação de Campanhã, que incluiu a construção de rodovias, nomeadamente a Via de Cintura Interna da cidade do Porto. Desde 1990 o G.D.F.C. funciona no Complexo Oficinal de Guifões em Matosinhos, com sede mais propriamente na Rua do Ferroviário, s/nº – Gatões-Matosinhos.
O G.D.F.C. conta no seu historial com dezenas de títulos de Campeão Nacional e Regional nas modalidades de Atletismo, Futebol, Futsal, Pesca, Ténis de Mesa, Voleibol, e com destaque para o Basquetebol e Andebol (de onze e de sete).
Localização dos campos do Bela Vista e de Vila Meã
Legenda:
1. Campo da Bela Vista
2. Campo do Ferroviários, de Vila Meã, Engº Sousa Pires ou de Benjóia
3. Avenida 25 de Abril
4. Via de Cintura Interna
5. Via Férrea
Campo Rui Navega na Rua Pinheiro de Campanhã
Na foto acima a entrada do Campo Ruy Navega, do qual, o Clube Desportivo de Portugal há anos faz a sua casa, após a demolição do campo de Vila Meã invadido pela Via de Cintura Interna, onde jogava habitualmente.
O campo Ruy Navega foi recinto desportivo do Grupo Desportivo da Esmaltagem Mário Navega, que jogava no Campeonato Corporativo, tendo chegado a representar Portugal, no campeonato Peninsular defrontando em Espanha o respectivo campeão corporativo.
Bem dotado para época das infra-estruturas necessárias, tinha adstrito um recinto para a prática do Basquetebol e Voleibol e tinha ainda iluminação artificial para a prática desportiva nocturna.
Mário Navega era pai de Rui Navega.
Notícia da época sobre o campo Rui Navega
O texto acima foi impresso no Boletim do Grupo Desportivo Esmaltagem Mário Navega de 1960, com a particularidade de que era visado pela comissão de censura.
“O Grupo Desportivo Esmaltagem Mário Navega orgulhou-se de possuir as melhores, mais modernas e mais bem apetrechadas instalações de todos os agrupamentos desportivos corporativos portugueses de então. O seu campo de futebol era electrificado com bancada coberta e uma bancada descoberta devidamente demarcado para a prática também de Voleibol e Basquetebol, na Rua Benjóia. O piso do campo foi então levantado na altura com as máquinas da Camara Municipal do Porto, e trabalhava-se de dia e noite numa ânsia de possuir o melhor campo nacional ao serviço do desporto corporativo. Foram para além de inumeras actividades de outro cariz, Campeões Regionais de Futebol 9 vezes e Campeões Nacionais de Futebol por 3 vezes.
Mário Navega foi o grande impulsionador deste projecto, para além de ser sócio gerente era também o Presidente da Direcção do Grupo Desportivo Esmaltagem Mário Navega, teve a designação corporativa de CAT - Centro de Alegria no Trabalho nº 227, que lhe foi imprimida pela FNAT desde 03 de Dezembro de 1948. Conforme esta designação o indica o CAT visava a proporcionar aos trabalhadores uma derivação recreativa, cultural e desportiva á margem das suas horas do trabalho profissional.
Trabalho, Recreio e Descanso eram a trilogia do progresso social. In http://bsjoao.com/
“A empresa tinha uma equipa de futebol que impressionava, era formada por trabalhadores que disputavam provas denominadas por campeonatos, creio, do Inatel. Essa equipa era o Grupo Desportivo de Esmaltagem Mário Navega que jogava no, hoje muito maltratado pelado do campo com o mesmo nome em Campanhã. Da varanda da casa que habitava tinha uma vista total sobre o campo.
Grandes jogadores na época, cuja, maioria não abandonavam o clube, porque a fábrica lhes permitia um melhor futuro, casos do guarda-redes, Agostinho, Teixeira, Matos, Silva, Carriço, Fernandinho, Feijão que faleceu ainda jovem e outros que me falham. Assisti a jogos estupendos como aqueles em que o então adversário era a Companhia dos Telefones de Lisboa, assistências em número tal que hoje fariam inveja a alguns clubes ditos profissionais”. In http://bsjoao.com/
“O Campo Ruy Navega seria ainda, a “casa” do Académico FC para os seus jogos de Hóquei em Campo, após o uso do Campo do Luso e do Estádio do Lima, já nos seus derradeiros anos.
Este recinto, propriedade da Fábrica de Esmaltagem da família Navega, para uso dos seus colaboradores, foi disponibilizado ao Académico pelo grande academista e seu presidente nos anos 1932/34 e 1965/72, para o clube aí realizar os seus jogos de Futebol e Hóquei em Campo, após Lima”. Com a devida vénia a José Manuel Carvalho
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E decidimos terminar este lançamento com uma "charge" político-desportiva de Arnaldo Leite sobre 1910:
In O Tripeiro, série V, Ano VI
Olá
ResponderEliminarUma Informação que vem complementar os anteriores lançamentos.
Bem hajam.
Cumprs
Augusto
Muito obrigado pelo seu interesse e persistência.
ResponderEliminarCumprimentos,
Maria José e Rui