8.1.11 – Cerco do Porto - Carta Topographica das linhas do Porto, Defesas da Serra do Pilar, Marquês de Sá da Bandeira, Lutas pela posse da Serra do Pilar
Entrada do Douro – Eduard Belcher – 1833
Carta Topographica das linhas do Porto - Levantada e publicada pelo Coronel Moreira” – 1833 – desde a barra à zona do Freixo
Abaixo transcrevemos a “Descripção Histórica” que se encontra inserida na Carta Topográphica. Trata-se de um texto militar muito rico e descritivo e que achámos do maior interesse:
“O exército Constitucional que bravamente sustentou o sítio do Porto estava circunscrito a uma pequena linha formada por valados, pipos, leiras e muros irregularmente delineados interrompida pela falta de braços, de meios e tempo. Apoiou-se esta linha pelo lado do Mar, no pequeno posto do Farol da Luz ocupando alturas favoráveis pelos fortes do Pinhal e Pasteleiro e baterias do Monte Pedral e Congregados; formadas estas de pedras soltas sem fossos e sem golas. Nos memoráveis dias 5 e 25 de Julho de 1833, não havia para guarnecer linhas, mais que 10.000 bravos divididos em quatro distritos e o 1º. (á direita) sustentado pelo 3 de Infantaria, 12 de Caçadores e um batalhão nacional fixo. O 2º. Pelo 18 de Infantaria, 5 de Caçadores e um batalhão de Voluntários da Raínha. O 3º. pelo 3 de Infantaria e corpos de franceses e belgas, o 2º. Nacional Móvel e dois de ingleses e escoceses. A maior parte da cavalaria, que não chegava a 150 cavaleiros estava do lado do Mar, havendo em reserva no centro 200 lanceiros, com alguns contingentes de infantaria. Os dois outros Batalhões Nacionais, fixo e móvel, estavam em diferentes pontos da linha e o dos Funcionários Públicos no Carvalhido. Não havia mais que três meias brigadas d’Artilharia Volante, além da de Posição. A linha da margem Norte do Douro formava o 3º. Distrito, de fracas baterias em adros de Igrejas e terraços, com barricas singelas ou revestimento de tábuas, sem capacidade de jogar a artilharia. A Serra do Pilar formidável pela natureza do lugar, fortificou-se debaixo de fogo do inimigo circundando com fracos muros nas sinuosidades do terreno em volta do Convento formando baterias pouco sólidas, oferecendo a oportunidade da brecha que o inimigo teve a fraqueza de não montar. Tal foi a bravura dos homens que defenderam e (?) do Porto eram voluntários de Vila Nova e destacamentos que dificultosamente atravessavam o Douro.
A linha dos rebeldes formava em volta do Porto uma curva em redentes e ressaltos de perto de 4.000 braças, quere dizer, mais de cinco léguas de extensão apoiada no Mar pelos fortes de Castro, Ervilha e Serralves em formidáveis posições, construídas a grandes perfis bem concebidas e bem providas, abrangia as povoações, muros e casas com parapeitos com 14 palmos fossas de 12, bem apoiada na esquerda do Douro tendo do Sul deste rio encristando as alturas com imensas baterias de morteiros, obuses e grossos canhões, além de muitos Parques volantes, com que feriram de revés as posições dos Liberais e abraçavam a cidade do Porto, que por todo o lado comandavam. Finalmente nas duas citadas acções de 5 e 25 de Julho que decidiram abandonarem o sítio do Porto o Marechal Beaumont (?) podia dispor de 55.000 rebeldes contra 10.000 Constitucionais que no dia 29 de Setembro não excediam 6.000 comandados pelo Imortal Duque de Bragança Regente em nome de D. Maria 2ª
DE ORDEM DE S.M.I.,
Levantada e publicada pelo Coronel Moreira”.
Esta descrição, feita por um militar liberal, mostra-nos as insuficiências das forças liberais e a grande superioridade das absolutistas, em número e em material, o que nos leva a concluir que, ou os absolutistas estavam tão certos da victória que não se empenharam na luta, ou foram muito mal comandados, ou, ainda, que os militares liberais foram verdadeiros heróis em favor da sua causa.
Gravura do Barão de Forrester - Antes de 1832
In O Tripeiro – Série VI, Ano V
Portal em pedra que foi da Capela do Carvalhinho e hoje está no Seminário Maior do Porto
Pormenor do mapa de Telles Ferreira - 1892
A cidade do Porto incluiu até 1834 a parte de Vila Nova de Gaia que vai do Douro até à R. do Marquês de Sá da Bandeira e Largo dos Aviadores, incluindo a Serra do Pilar.
Bernardo de Sá Nogueira, Marquês de Sá da Bandeira – 1795-1876
Durante o cerco do Porto os Miguelistas tentaram tomar o reduto da Serra do Pilar, mas os chamados “Polacos”, sob o comando de Bernardo Sá Nogueira não o permitiram, defendendo-o energicamente. Este, depois feito Marquês de Sá da Bandeira, foi ferido no braço direito na batalha que decorreu no Alto da Bandeira (actual Largo dos Aviadores). Levado para o Hospital militar, sedeado no palacete da família Guedes da Aveleda na Batalha, foi-lho amputado e enterrado junto de uma árvore do jardim. Os valentes soldados que resistiram foram chamados de “Polacos” em honra dos que heroicamente defenderam Varsóvia na guerra contra os Russos.
Defesas da Serra do Pilar durante o Cerco do Porto - desenho do Barão de Forrester
James Holland – 1838 – Mosteiro da Serra do Pilar ainda com vestígios do cerco do Porto
Serra do Pilar - Foto de Frederick Flower – 1849/1859
Perfil das defesas liberais na Serra do Pilar
In O Tripeiro, Volume I
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