domingo, 3 de novembro de 2013

DIVERTIMENTOS DOS PORTUENSES - XIX

3.5.8 - Foz do Douro e praias - VII


Rua do Crasto – Esta casa pertenceu à família de Francisco Carvalho que, tal como seus filhos, foram comerciantes na Rua dos Clérigos. O pai e seu filho mais velho tiveram uma loja de venda de paramentos e o mais novo uma loja de "carapuceiro". Estes rapazes serão da família a que nos referimos?



As lojas de "carapuceiros" encontravam-se do lado direito de quem desce a rua; não tinham montra pelo que mostravam os artigos à venda dependurados no exterior. Recordamo-nos muito bem desse correr de lojas que eram normalmente procurados por populares e aldeões. A maior concorrência era às terças e sábados, dias das principais feiras da cidade. 





Praia de Gondarém - os passeantes foram surpreendidos por uma onda.


Planta da decoração da Avenida Brasil junto do molhe e da praia – depois dos anos 30 do séc. XX.


Avenida Brasil - anos 30




Pérgola da Foz – construída em 1931, em frente à Praia do Molhe – constructor António Enes Baganha. Custou 53.000$00. O jogo das sombras tem efeitos inesperados. Depois de anos de abandono foi recuperada em 2012 pela CMP.


A cruz que se vê no alto da foto pertence à Capela em Carreiros e que ainda existe, embora desactivada.


Praia do Molhe em 1910 – Recordamo-nos de várias das casas que se vêm na Avenida Brasil. Era interessante saber a que famílias pertenciam.


Nos anos 40 a família de José Allen e António Teixeira ainda eram banheiros desta praia.


Esta foto foi tirada em dia de festa ou de provas no mar, pois vêm-se centenas de pessoas no molhe e na praia junto do mar. Não vieram para apanhar Sol, mas para assistir a algo, dado estarem vestidas. Pelos chapéus de palha a foto parece ser dos anos 10 do séc. XX. Em primeiro plano está um  assistente com uma comprida vara, junto de um suporte de avisos (?). Será um vigilante com uma vara para estender a algum nadador em perigo?


Grupo no Molhe em 1920 - Surpreende-nos uma casa num nível inferior à Avenida de Carreiros e que nos parece estar perto da praia. Alguém saberá de que se trata?


Depois de 1931, pois já existia a pérgola.


Foto de entre 1931 e 1937, pois ainda não está o Salva-Vidas


Anos 30


 1937




Frequentei a praia do Molhe nos anos 40 do passado século.
É com muita saudade que recordo esse tempo, porque era sempre um mês de divertimento e contacto com amigos e famílias que só lá encontrávamos ano após ano. Habitualmente as famílias ficavam nas mesmas barracas, pelo que eram conhecidas. Pareceu-me interessante acrescentar algumas recordações que me ficaram desses felizes anos da Foz.
No Verão os meus pais costumavam alugar uma casa na Rua de Gondarém (esquina com a Rua do Crasto), onde hoje se encontra um prédio, em cuja cave funcionou, durante uns anos, a capela dos frades Carmelitas e depois um mini-mercado. Descíamos a Rua do Crasto, e atravessando a Av. Brasil, chegávamos à pérgola donde descíamos para a praia. Dois desses anos foram passados na Avenida Brasil, na casa em que faleceu António Nobre, em Março do 1900, somente com 32 anos. Esta casa encontra-se muito degradada  e não nos parece que a CMP esteja muito interessada em a recuperar. Tinha uma placa de mármore em que informava esse infausto acontecimento que desapareceu.

Das memórias que tenho quereria destacar algumas que mais me marcaram.


Não posso deixar de falar, em primeiro lugar do mar: era límpido e cheio de vida. Um dos mais extraordinários espectáculos eram as dezenas de toninhas (Pontoporia blainvillei) a saltar e a brincar a pouco mais de cem metros da praia.






Os rochedos estavam cobertos de alface do mar, lapas, anémonas, tintureiros, mexilhões, estrelas-do-mar, ouriços, percebes, búzios, peixes, caranguejos  e pequenos camarões transparentes nas poças; bodelhas, sargaço, enfim, toda uma fauna e flora que hoje desapareceu e não podemos mostrar aos nossos netos.


Na areia encontrávamos muitas conchas, caramujos de diversas cores e beijinhos. Estes, mais raros, eram os da nossa predilecção.


Com que alegria mergulhávamos das escadas de ferro e das pranchas do molhe. Só os “homens” eram capazes de tal!


Não podia haver praia sem o jogo do prego; era o jogo por excelência, pois em mais lado nenhum o podíamos jogar. Eram campeonatos aguerridos, em que na maior parte das vezes eram as meninas que ganhavam.


Fazíamos grandes covas, túneis, castelos, com e sem decoração de conchas e algas, muros de areia para “segurar” o mar, enfim toda uma variedade de brincadeiras que nos faziam felizes no mês de Agosto.


E as guloseimas que só na praia nos era permitido gozar! Passava o “barquilheiro” e logo corríamos a pedir uns tostões para jogar a roleta.

Passava o homem de língua da sogra e todos íamos pedir à Mãe para comprar.


Passava a mulher dos bolos com uma caixa de folha-de-flandres à cabeça, e logo a água nos escorria da boca. Quando, raramente, a mãe deixava escolher bolos, eu escolhia sempre a melhor, a Bola de Berlim.
E os caramilos com sabor a hortelã-pimenta? Que delícia!



De vez em quando passava o vendedor de “vira-ventos” que nós seguíamos durante largos metros a cobiçá-los, e com "ióiós" revestidos de estanho dos maços de tabaco, fazendo-os subir e descer. Mas, o melhor, eram, à saída da praia, os sorvetes Águia. Era o verdadeiro manjar dos deuses. O sorveteiro, no seu característico triciclo em forma de proa de barco, era a atracção máxima! Havia-os de 1 tostão, 2, 5 e 10 tostões. Os de 1 e 2 tostões eram em forma de barco e o de 5 de copo com colher de madeira.
Não tínhamos esperança de ter mais de 5 tostões. Assim eu preferia comprar, em 3 vezes sucessivas, dois de 2 tostões e um de 1 tostão, pois “rendia” mais tempo o prazer.


De longe a longe apareciam os “Robertos”. Que excitação! Todos os miúdos (e graúdos) ficavam presos ao desenrolar do drama, com pancadaria (quanta mais melhor!), berros estridentes,  mortos e feridos... Aquela moca andava sempre numa roda-viva
Enfim, recordar é viver, e sobretudo é uma deliciosa diversão.


Banheira da Foz – Desde madrugada, metidas na água até à cintura, pegavam crianças e adultos e mergulhavam-nos. Ofício muito duro, pois estavam no mar sete ou oito horas por dia. Era costume os veraneantes chegarem à praia, inclinarem-se e a banheira despejava-lhes a água na cabeça, com a gamela que está a seus pés. Também nós experimentámos este suplício quando Éramos pequenos. Era o momento mais desagradável da época balnear. O banheiro apertáva-nos o nariz antes de nos mergulhar.


Era assim a lei de 1941, e nós bem nos lembramos! Por vezes passava o cabo do mar e media a saia das senhoras, que eram multadas se fossem menores que o regulamentado.


Praia do Molhe 2007 – foto de A Cidade Surpreendente - http://cidadesurpreendente.blogspot.pt/

Praia do Molhe – 1975 - vídeo 

3 comentários:

  1. Admirável! Parabéns!
    "Conheço" tudo isto, não por ter vivido nessa época, mas pelos relatos, histórias, acontecimentos importantes relatados pelo meu Pai que viveu tudo isso.
    Ao ler este texto, foi como se o estivesse a ouvir....
    E as suas recordações sobre esses tempos, deixavam-nos presos à sua palavra e ao brilho nos seus olhos!

    Ele deu-me esse conhecimento e eu sinto saudades....

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  2. Lembro-me do meu Pai referir os banheiros José Allen e António Teixeira, na Praia do Molhe.
    A foto da Praia do Molhe em 1910 – as casas a que se referem, ele sabia a quem pertenciam...
    A foto dos mergulhos das escadas e pranchas do molhe - fez-me "rever o meu pai a mergulhar...."

    Tudo "revi" através das "histórias faladas" do meu PAI!
    Maria Celeste

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  3. Ficámos muito contentes por lhe temos lembrado as belas histórias que seu Pai lhe contava. Também nós vivemos esses tempos (anos 40) nestes locais que serão inesquecíveis porque eram as férias da nossa juventude. Muito obrigado pelas suas amáveis palavras.

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