segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

VÍVERES QUE ANUALMENTE SE GASTAM NA CIDADE - I

3.6 - Consumo de pão



Foto de Emílio Biel



Padeiras de Valongo

Quando vinham de Valongo para o Porto traziam, por vezes, os jumentos à arreata, mas no regresso iam sobre o dorso do animal, tão cómodos que muitas vezes adormeciam no trajecto e só acordavam às portas de suas casas. Os jumentos já sabiam o caminho e não se enganavam.


Os padeiros de Valongo saíam de madrugada e costumavam juntar-se na Cruz das Regateiras para descansar,beberem numa fonte ali existente e partirem para os diversos lugares de venda. O pão mais típico e apreciado era, e ainda é, a regueifa. Ao fim da tarde voltavam a reunir-se no mesmo local para seguirem todos juntos de forma a defenderem-se de possíveis assaltos, pois já lá chegavam de noite. 


A Cruz das Regateiras ficava num largo frontal ao Hospital de Conde Ferreira, actual Largo da Cruz. Quando, em meados do Séc. XIX foi aberta a Rua de Costa Cabral o povo chamava-lhe Estrada da Cruz das Regateiras que ligava o Porto a Guimarães. Para a construção do Hospital do Conde de Ferreira foi comprada a Quinta da Cruz das Regateiras que tinha cerca de 12 hectares e as obras começaram em 1868, dois anos após a morte do benemérito. 
A estátua do Conde Ferreira esteve, inicialmente, sobre a frontaria. Pouco tempo depois foi apeada para a sua frente, tendo o lago que aí se encontrava sido levado para as traseiras.


No Porto é vendido um tipo de pão com cerca de 50 gramas a que o povo chamava molete, termo que se usava ainda há uns 50 anos. Diz a história que, em 1809, o exército francês ocupou o Colégio da Formiga, em Ermesinde/Valongo. Como lhe servissem o pão habitual daquela zona, a regueifa, o General Moulet deu ordens aos padeiros que fosse serviço ao exército um pão individual, mais pequeno, que o povo apelidou de molete. A falta de trigo e o transporte foram as razões desta alteração, que, por se mostrar útil e prática, se manteve até aos nossos dias. Na localidade, os padeiros já sabiam que todos os dias o pão tinha que estar pronto à mesma hora e quando colocavam as cestas nas carroças que iam para o Porto dizia-se: Lá vai o pão pr'ó Molete!


Também existiu uma padaria Biju ( ou bijou) que fornecia um pão arredondado com cortes na parte superior em 4 ou 5 lados, cujo nome era também muito conhecido. Pensamos que os cortes em cima pretendiam apresentar um diamante, daí o nome. Não podemos afirmar, mas supomos que este pão nasceu de um padeiro francês da Rua de Santo António.



Biscoitos de Valongo - que saudades dos velhos biscoitos de Valongo! Nos anos quarenta, todas as semanas passava à nossa porta uma velhinha com um burrinho que carregava nos alforges sacas compridas com porções de meio quilo separadas por atilhos. (desenho 11). Estes vendedores corriam o Porto todo, chegando mesmo à Foz. Eram os de milho, os fidalguinhos, de limão, digestivos, torcidos e outros deliciosos. 

Em O Tripeiro, V série ANO VI, Manuel Pedro descreve este interessante costume:



Praça do Pão até 23/10/1835, quando se passou a chamar Praça dos Voluntários da Rainha.



Photo Guedes - 1900



Museu de zoologia da Escola Politécnica – 1900 – photo Guedes


Grandes Armazéns do Chiado na Praça dos Voluntários da Raínha - 1910


Praça dos Voluntários da Raínha e, ao fundo, Santa Teresa ou do Pão - 1908


Praça de Santa Teresa ou do Pão – antes de 1910

Curiosidade: ouvimos há muitos anos contar que havia dois irmãos em que um era muito rico e o outro menos. Divergências entre eles levou a que este mandasse construir uma casa muito estreita na esquina da R. D. Carlos (José Falcão) com a Praça de Santa Teresa (Guilherme Gomes Fernandes) só com a finalidade de tapar as janelas da larga casa do irmão. O povo chamava-lhe o “ferro de engomar”, “casa esqueleto” e “casa tuberculosa”. Em 1948, em O Tripeiro, J. A. Pires de Lima escreve que esta casa seria mais larga, mas teria sido parcialmente demolida para a abertura da rua D. Carlos,o que nos parece pouco plausível. Interrogámo-nos como é que as janelas viradas a esta rua estão tão bem conservadas e porque não teria sido demolida na totalidade… Em 1954 Horácio Marçal dá uma terceira versão à construção desta insólita casa dizendo, que o proprietário deste terreno pretendeu vende-lo ao vizinho. Como este não estivesse de acordo, aquele mandou construir a “casa tuberculosa” para lhe tapar as vistas. A casa maior foi mandada construir pela família Barroso Pereira. Recordo-me de lá ter ido quando lá se encontrava o consultório de radiologia do Doutor Roberto de Carvalho. Esta praça chamou-se Campo da Cancela Velha, Campo da Via-Sacra, Largo do Calvário Velho, devido à existência de uma capela e de um cruzeiro em pedra e só depois Praça de Santa Teresa e do Pão.


Praça de Santa Teresa vista da Rua da Fábrica


Praça Guilherme Gomes Fernandes, nome atribuído em 1/5/1915 quando da inauguração do busto do grande bombeiro portuense.


Jean Pillement (1728/1810)


Usavam um chapéu preto de abas largas e copa baixa no interior do qual para amortecimento do peso das canastras, metiam a respectiva rodilha.


Chegada à Ribeira das vendedeiras da broa de Avintes – foto de Emílio Biel


Ribeira – Padeiras de Avintes

“Padeiras de nome – a Bitela, a Jacó, a Sá e as Cacelheiras – fabricam-na em suas próprias casas e depois, por volta das quatro horas da madrugada, era a broa (sic) levada em canastras por experimentadas criadas para os barcos que a elas pertenciam e que faziam paragem no caneiro de Avintes, para chegarem à Ribeira às primeiras horas da manhã.
Esta saborosa broa, um pouco mais cara que a vulgar, de milho, era distribuída pelas mercearias, casas de pasto e particulares, às terças, quintas e sábados e encontrava-se também à venda, nos dias de feira, nos antigos e desaparecidos mercados do Bolhão e do Anjo, a qual era vendida, salvo erro a pataco o quilo.” 
O Tripeiro, série V,  Ano VI – Manuel Pedro


Estas escadas foram destruídas há muitos anos e reconstruídas há poucos.

“As padeiras vinham em barcos por elas mesmas tripulados (ora timonando ora remando), desciam o Rio Douro e vinham abicar na margem direita, ao desembarcadouro, então existente na Ribeira, um pouco abaixo da ponte pênsil. Cestos à cabeça, lá partiam elas, Rua de S. João acima, por Belomonte e Taipas, em direcção à Praça de Santa Teresa, onde se desajoujavam da pesada, mas saborosa mercadoria, ante um prolongado suspiro de alívio”. In O Tripeiro, Série VI, Ano VII
 




O pão também é usado tradicionalmente na confecção de deliciosos petiscos como as migas, a açorda e as rabanadas. Qualquer deles de comer e chorar por mais.

3 comentários:

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  2. Muy interesante y amena la historia contada. Mañana me voy a Valongo a buscar un pan. Un abrazo.

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  3. Ainda pode comprar deste tipo de pão, mesmo em algumas padarias ou confeitarias do Porto.
    Obrigado pelo comentário.
    Maria José e Rui

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