sábado, 5 de abril de 2014

DESCREVE-SE A CATEDRAL - I

3.11.1 - Descreve-se a Catedral - I


Localização da Catedral, Igrejas, Capelas e Conventos do Porto no séc. XVIII – de Porto Património Mundial



1 - Capela-mor 2 - Capela Absidial/Capela de S. Pedro 3 - Capela do SS. Sacramento 4 - Transepto 5 - Galilé ou Loggia (Nicolau Nasoni 1736) 6 - Nave lateral 7 - Nave central 8 - Salas do Cabido 9 - Capela de S. João Evangelista 10 - Capela de S. Vicente 11 - Claustro gótico (iniciado em 1385) 12 - Sacristia 13 - Claustro velho


Nesta notável foto podem ver-se as Igrejas de S. Francisco, Terceiros de S. Francisco, S. Lourenço (grilos) e a Sé – Se algum leitor souber o autor desta foto agradecemos no-lo informe para o referirmos.

Um forasteiro do sul escreveu em 1908: “O Porto é uma das terras mais religiosas de todo o país. São raríssimo os homens que, ao passarem em frente de uma igreja, não tirem o chapéu; quando, à tardinha, se ouvem as badaladas das Avé Marias, muitos se descobrem; os dias de peixe são rigorosamente respeitados e o registo civil tem um movimento insignificante, apesar da grande população da cidade. As festividades religiosas tomam extraordinário brilho, para o que especialmente concorre a ornamentação das igrejas, que chega a ser luxuosíssima; na verdade as ricas colchas de sedas de cores variegadas, os cortinados franjados d’ouro, os lustres de cristal e as flores apresentam uma disposição magnífica. As missas são muito concorridas, desde manhã cedo até à uma da tarde, que é a hora da missa do “high-life” na Igreja da Trindade.” In O Tripeiro, Volume 2, 20/5/1910

Cronologia dos Bispos do Porto 
http://www.diocese-porto.pt/cronologia/

A primeira notícia referente à vetusta Sé do Porto remonta ao século VI - pois em 589, ano do III Concílio de Toledo, presidido pelo monarca visigodo Recaredo, teve assento D. Constâncio, bispo da Igreja Portucalense. No século VIII, os muçulmanos conquistaram o Porto, arrasando a primitiva Catedral e mudando-se os bispos titulares para Oviedo e outras dioceses do Norte da Península Ibérica. Reconquistada a cidade para as armas cristãs, a Sé Episcopal seria reconstruída.


Após um período em que se declarou "sede vacante", estando encarregue do governo da diocese uma série de cónegos-arcediagos, o bispo francês D. Hugo é eleito em 1114. Recebendo avultadas doações de D. Teresa e, posteriormente, de D. Mafalda (respectivamente, mãe e mulher de D. Afonso Henriques), D. Hugo procede à reedificação da nova Catedral ao longo do século XII.



“ … De 1606 a 1610 no tempo do Bispo Gonçalo de Morais a refez (a Capela-Mor) inteiramente desde os alicerces tendo para isso destruído a primitiva, (SÉC. XII) afim de, alargando-a, a tornar capaz de receber o glorioso e numeroso cabido portucalense. Assim, desapareceu aquilo que seria com certeza a melhor joia da Sé portucalense. Como seria, primitivamente a Capela-Mor? 
1º. A Capela-Mor seria dotada de uma charola ou deambulatório – 
2º. Que três capelas radiais dedicadas a S. Jerónimo, ao Divino Salvador e a Santa Margarida completavam o programa absidial da Sé”. In O Tripeiro, Série VI, Ano III, por Dr. Xavier Coutinho.


Situada no topo do morro de Pena Ventosa, a Catedral românica portuense iria sofrer diversas metamorfoses ao longo dos séculos, devido ao aumento populacional, ao seu estado de ruína ou ainda ao gosto estético de cada época.
A majestosa fachada principal, que mantém ainda as torres românicas e o óculo original no corpo central, foi remodelada em 1772, numa campanha rococó que substituiu o primitivo portal românico e conferiu ao alçado poente o aspecto cenográfico que hoje possui, com o portal ladeado por duas colunas geminadas que suportam um frontão que termina em nicho, onde se conserva a imagem da padroeira da Sé do Porto, Nossa Senhora da Assunção.


O portal nobre rocaille (1772) é formado por dois pares de colunas, sustentando frontão central interrompido e curvilíneo, sobrepujado por edícula preenchida com a estátua de N. S. da Assunção, santa padroeira da Sé e da cidade do Porto. O corpo central é rasgado por rosácea medieval, enquadrado por contrafortes e rematado superiormente por ameias. Ladeiam-no duas altas e robustas torres sineiras contrafortadas, com balaustrada e pináculos, sendo cobertas por cúpulas achatadas.



Na torre Sul vêem-se dois sulcos horizontais que respeitam às medidas usadas há séculos, o côvado e a vara. O primeiro era a distância da ponta do dedo médio ao cotovelo (cerca de 0,5 metros) e o segundo 1,10 metros. Os fiscais das feiras mediam aí a correcção das medidas usadas pelos feirantes. 



Na torre Norte existe um baixo relevo mostrando um navio mercante gravado no séc. XIV, que representa o navio de S. Vicente, primeiro padroeiro da cidade.



Nos séc. XVII e XVIII, especialmente durante a sede vacante (1717-1741) a Sé sofreu enormíssimas alterações interiores e exteriores. No lado Norte foi construído, segundo desenho de Nicolau Nazoni a belíssima galilé, que substituiu a anterior. Esta era em madeira e de tão boa qualidade que foi utilizada na construção dos móveis da sacristia. 


Mas as obras mais importantes foram as da abertura de grandes janelas nas frestas no altar-mor e corpo da Igreja, para que entrasse muita luz. Desfeavam muito o corpo da igreja e estão bem visíveis nesta foto de Alvão. Também ainda se vê, entre as torres a residência do sacristão e sineiro. Carlos Passos escreve sobre este barracão: “Coisa horrenda e abjecta é mais a suja trapeira entalada entre as torres, barracão sórdido de feira em esgares de chasco a aviltar a sagrada canície deste monumento”.



Sino do relógio da Sé e seu pormenor – 1697- Manuel Ferreira Gomes – foto de Nuno Ferreira 

O sino a que ARC chama O Balão “tinha 366 arrobas ( 5.490 kgs.). Foi fundido em 1729 e era um dos maiores do país. Durante o cerco do Porto tocava (três badaladas) para chamar os soldados às linhas de defesa da cidade. 
Na torre Sul havia ainda um sino chamado da Oração ou da Avé Maria, à última badalada do qual, sob pena de pesada multa, mouros e judeus recolhiam aos seus penates; o sino de recolher e o sino municipal de correr ou dos mariolas, transferido para a dita torre em 1583 da Porta do Olival e que se destinava a dar o terceiro e último toque nocturno e com ele terminar toda a actividade local”. O Tripeiro, série VI, ano V.


Gravura da História da Cidade do Porto de Artur de Magalhães Basto

Este sino esteve na Porta do Olival pelo menos desde o século XIV. Porém, a câmara pretendia, desde 1402, mudá-lo para a Sé, com a condição do Cabido e da Mitra pagarem, cada um 1/3 das despesas. Estes não aceitaram pelo que o sino esteve mudo durante vários anos. Só nas cortes de 1417 D. João I ordenou que se cumprisse esta disposição e que as partes a pagar pelo Bispo e o Cabido fossem deduzidas nos impostos , que estes recebiam, da entrada das mercadorias na cidade.
Em 2/9/1583 o Bispo D. Frei Marcos da Silva autorizou a sua mudança para a torre Sul da Catedral.

Sino do relógio da Sé - vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=Wu15ae8fT7g

No Inverno os “toques de recolher” eram três: às 19,30 h. o “toque das orações e Avé Marias”, hora a que deviam todos os judeus e mouros recolher a sua casas, sob pena de multa. Às 20 horas o “toque de recolher”, em que todas as tabernas e casas públicas deveriam encerrar e as luzes serem apagadas. Por fim o terceiro “toque de correr”, em rápidas badaladas, todos os “mariolas” deveriam correr para casa e estas apagarem as luzes e os moradores pararem toda a actividade e barulho.


Frontespício após as obras realizadas na primeira metade do século XVIII – Desenho do Arquitecto Alfredo Machado. De notar o relógio entre as torres. 

No texto abaixo encontramos um pouco da história do sino do relógio da Sé e obras nas suas torres:


Joaquim Jaime Ferreira Alves afirma, ainda, que o relógio da Sé “se deve ter mantido até às obras executadas pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.” Supomos que se quererá referir às obras de 1936 a 1940". Em O Tripeiro Série VI, Ano VIII lemos o seguinte: “ … um dos membros daquele grupo sugeriu que fosse criada uma comissão para angariar fundos e promover a colocação da máquina (relógio) faltosa. Essa comissão veio a constituir-se em 1926… Foi oficialmente aprovado o fabrico de um relógio de mostrador singelo com algarismos romanos, de cor branca, seguindo-se o risco do arqtº. Baltazar de Castro. Foi mandada construir a máquina na conceituada firma Andrade Melo e inaugurado o relógio em 18 de Junho de 1928 no local onde ainda hoje o vemos”.


Sino da Torre dos Clérigos

De Inverno os “toques de recolher” eram três: às 19,30 h. o “toque das orações e Avé Marias”, hora a que deviam todos os judeus e mouros recolher a suas casas, sob pena de multa. Às 20 horas o “toque de recolher”, em que todas as tabernas e casas públicas deveriam encerrar e as luzes serem apagadas. Por fim o terceiro “toque de correr”, em rápidas badaladas e os que ainda se encontrassem nas ruas deveriam correr para casa, estas apagarem as luzes e os moradores pararem toda a actividade e barulho.
Havia, ainda, o "toque do Senhor de fora" que se ouvia sempre que saía o viático para assistir um moribundo. Qualquer que fosse a hora, dia ou noite, os vizinhos acompanhavam o cortejo, mesma não sabendo quem era a pessoa que ia ser assistida. 
Sempre que morria alguém os sinos tocavam de manhã e de tarde várias horas, a ponto de A.R.C. se queixar que o seu barulho incomodava mais os portuenses que a chiadeira das rodas dos carros de bois. 
“toque de nascer” era dado quando uma mulher entrava em trabalho de parto; alguém ia avisar a igreja mais próxima que logo tocava o sino para que os vizinhos rezassem para que tudo corresse bem.
Alberto Pimentel conta que, na sua infância, sua mãe os fazia ajoelhar e rezar pela parturiente e seu filho.
Havia, também, o “toque de 9 badaladas” para “despenar” alguém com ataque cerebral.



Durante o cerco do Porto foi proibido tocar o "toque de incêndio". Em 22/61834 o Provedor interino do Concelho, António José da Costa Lobo, decretou "que tendo felizmente cessado os motivos, que ocasionaram a proibição do toque dos sinos,  estão expedidas as ordens para se tocar a fogo, nas torres da cidade no caso de incêndio, devendo começar o dito toque na torre mais próxima dele por dois sinos a ser contínuo na mesma torre para indicar a direcção em que devem ser conduzidos os socorros, e repetidos nas outras torres na forma do costume".
Em O Tripeiro Série V, Ano V, encontra-se a lista dos toque de sinos indicativo dos locais onde deflagravam incêndios. 
Foi em 1853 que a Câmara mandou colocar caixas em ferro fundido, com indicação, na porta, dos locais e correspondente número de badaladas que indicavam o sítio de um incêndio. Assim era fácil aos bombeiros e populares saberem onde este tinha deflagrado.
Nos anos 60 do séc. XX ainda existiam 6 caixas de toque a incêndio e que estão nos seguintes torres: Igreja de Nossa Senhora da Esperança em S. Lázaro, Igreja de S. Lourenço, Igreja de S. Nicolau, Igreja de Victória, Lago da Maternidade e Quartel dos Sapadores Bombeiros.


Foto aérea da Sé, Claustros, Cabido, Paço Episcopal, Seminário Maior e Igreja de S. Lourenço (Grilos). Por trás da Sé está a Rua de D. Hugo e a Casa-Museu Guerra Junqueiro.


Morro da Sé – 1950
Nesta foto pode ver-se a parte lateral e posterior da Sé e o antigo claustro, a ala Nascente do Paço Episcopal, A Rua D. Hugo, a Casa-Museu Guerra Junqueiro e a Torre dos Clérigos.


Esta foto já mostra a "torre medieval" "reconstruída" por Fernando Távora.


Calçada de Vandoma - 1930


1963


Calçada de Vandoma, Rua D. Hugo, Rua Chã, Avenida Saraiva de Carvalho, Avenida D. Afonso Henriques (dita da ponte) e obras para o acesso à Rua Escura.


Vista do telhado da Sé para o Porto e Torre dos Clérigos

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