quinta-feira, 8 de maio de 2014

IGREJA E TORRE DOS CLÉRIGOS - III

3.11.3 - Torre dos Clérigos - I


O Porto antes da Torre dos Clérigos - 1669



Niccoló Nasoni e sua genealogia 

Este grande artista projectou a Igreja e a Torre dos Clérigos.


Desenho de Gerard Michel (2012)
in httpwww.flickr.comphotosgerard_micheltagsporto

A torre sineira faz parte da igreja com o mesmo nome, e foi construída entre 1754 e 1763. Tem seis andares e 75 metros de altura, que se sobem por uma escada em espiral com 225 degraus. Era, então, o edifício mais alto de Portugal.


1880 – muito interessantes os trajes dos personagens

A construção da igreja colocava alguns problemas interessantes, a que Nasoni soube responder com soluções criativas e inegavelmente eficazes. A dificuldade maior prendia-se com o formato do lote, longo, mas estreito. Para tirar pleno partido desta situação, Nasoni rejeitou a fórmula tradicionalmente usada em Portugal de colocar as torres na fachada e remeteu-as antes para as traseiras, libertando assim espaço na frente da igreja. O projecto original previa duas torres, solução depois substituída por uma só.


Torre dos Clérigos – gravura de Enrique Casanova – 1890 

Considerado o ex libris da cidade do Porto, esta torre sineira faz parte da igreja com o mesmo nome. Foi mandada erigir por D. Jerónimo de Távora Noronha Leme e Sernache, a pedido da Irmandade dos Clérigos Pobres. 
A torre é decorada segundo o estilo barroco, com esculturas de santos, fogaréus e cornijas bem acentuadas. Tem seis andares e 75 metros de altura, que se sobem por uma escada em espiral com 225 degraus. Era, na altura da sua construção, o edifício mais alto de Portugal. 
A espessura das paredes do primeiro andar, em granito, chega a atingir os dois metros. Destacam-se as janelas abalaustradas do último andar, mais comprimido e decorado, e os quatro mostradores de relógio.


Torre dos Clérigos vista da Praça de Gomes Teixeira – em primeiro plano o Mercado do Anjo.


Mercado do Anjo - entrada do lado da Cordoaria 

Em O Tripeiro Série VI, Ano IX encontramos esta interessante descrição:
“Tem servido de baliza, ponto de referência, a navegantes, depois de destruída a velha Torre da Marca, expressamente destinada a esse fim. (A Torre da marca foi destruída em 1832 durante o Cerco do Porto pela artilharia miguelista situada em Gaia). Serviu muito anos de ponto de esculca da chegada, à barra, dos navios correios que não entravam no Douro; e inspectação logo seguida da transmissão da notícia aos interessados no correio estrangeiro, para que apressassem o seu recebimento e aprontassem as respectivas respostas, dado ser de muito curta duração a estadia, na barra, dos navios carteiros. Mal descortinados ao longe, pela sentinela, logo se fazia o aviso à cidade pelo içamento de duas bandeiras laterais no alto da torre; isto no tempo enxuto, porque em tempo pluvioso as bandeiras eram substituídas por dois balões de lata, pintados com as mesmas cores das bandeiras. Estes balões de folha flandrina polícroma, deram lugar a uma troca de correspondência, entre atentos leitores de O Tripeiro na sua primeira série (1908/9). Um deles comunicava aos outros, ser possuidor de uma gravura em que se via o alto da torre flanqueado por dois rotundos objectos que não poderiam ser senão “dois sacos cheios de café”…


Comentário de um leitor de O Tripeiro, Volume I – 10/10/1908


Notável foto pela sua qualidade e diversidade de personagens que mostra. O candeeiro é belíssimo. Fins do séc. XIX, princípios do XX.
Em 1862 numa noite de forte temporal uma faísca derrubou a esfera e a cruz que encimam a torre, tendo sido reparada pouco depois. 
Germano Silva escreveu:
"A Torre dos Clérigos, ex-libris da cidade do Porto, e a mais expressiva obra do barroco portuense, só em 1910, já na vigência da República, foi classificada como monumento nacional. Construída (1748 -1763) como simples torre sineira da igreja que viria a tornar célebre, é hoje uma atração turística. Visitam-na, anualmente, mais de 300 mil pessoas (em 2012). Com os seus 75 metros de altura, foi, durante muitos anos, a mais alta construção do País. Situada num ponto elevado da cidade, serviu como referência aos navios que, ainda no alto mar, por ela se orientavam para demandar a barra do Douro. Os mercadores portuenses utilizaram-na para coisas práticas como servir de "relógio da cidade", no tempo em que aquele objecto era uma raridade. Uma imaginativa engenhoca, constituída por um morteiro, um gatilho de revólver, um fio e uma lente era colocada no cimo da torre. Chamava -se a "meridiana". Quando o sol do meio-dia incidia sobre a lente queimava o fio que soltava o gatilho que fazia detonar o morteiro. Era o sinal que o lojista esperava para encerrar o estabelecimento para o almoço. Mas houve outro curioso aproveitamento. Não havia mercador do Porto que não tivesse negócios com a Inglaterra. O vapor da Mala Real Inglesa, que trazia as encomendas e as letras de câmbio para pagamentos de anteriores fornecimentos, vinha ao Douro uma vez por mês. A fim de estarem preparados para receber atempadamente as letras e despacharem novas encomendas, os comerciantes arranjaram maneira de saber, de véspera, da chegada do barco. Pelo telégrafo, ainda do alto mar, os do vapor comunicavam à Associação Comercial o dia previsto para a entrada na barra. A Associação fazia chegar a mensagem à Irmandade dos Clérigos que mandava içar na torre uma vara com duas bandeiras nas pontas. Era o sinal da aproximação do barco. Tempo de tratar dos negócios. Ora, digam-me lá se isto não era uma gente com imaginação, que tudo fazia para contrariar a inércia e garantir o futuro - o seu e o da própria cidade”.
É evidente que este texto se refere a uma época mais recente que aquela que acima nos referimos.


Torre dos Clérigos e Chalet da Cordoaria, mais tarde Café Chaves – foto posterior a 1890



Os primeiros sinos foram encomendados em Hamburgo e Braga, tendo aquele o peso de 75 arrobas e 15 arrateis, tendo custado, com transporte, 790.477 reis.





Pormenor do sino grande – In Helder Pacheco - PORTO A TORRE DA CIDADE - foto de Rui Ferreira

“De 1918 recolheu-se o ofício de 16/10 do Administrador do Bairro à Mesa da Irmandade, cujo conteúdo, apenas aparentemente risível, tem de ser lido no clima vivido pelas consequências da Primeira Guerra Mundial (que só terminaria a 11 do mês seguinte), com as suas implicações em perdas humanas que abalaram muitas famílias da cidade. Diz o documento: ”sendo prejudicial para a saúde pública que nas actuais circunstâncias haja motivo para deprimir o moral das Populações, manda sua Exª. o Sr. Governador Civil… que até segunda ordem, fiquem proibidos os toques dos sinos em cerimónias fúnebres…” In Helder Pacheco - PORTO A TORRE DA CIDADE.


O actual carrilhão da Torre dos Clérigos foi inaugurado em 1995 e é o mais moderno de Portugal. Foi fundido na Holanda e tem 49 sinos que pesam cerca de dez toneladas. O mecanismo para accionar os sinos inclui um teclado que, para ser tocado, exige uma técnica que pode ser fisicamente esgotante.
O carrilhão é controlado por um computador, marcando as horas e debitando a música através de quatro processos. Está programado para tocar ao meio-dia e às 18 horas e está ligado a um relógio atómico, na Inglaterra ou na Alemanha. O computador capta as ondas emitidas e organiza as horas a partir desses relógios.

Toque dos sinos dos Clérigos - vídeos




Escudo com as chaves do Papa Clemente XIII, a Cruz de Cristo e o M de Maria


No primeiro andar tem uma imagem de S. Paulo. 


Por baixo da imagem de S. Paulo existe uma citação da sua Epístola aos Romanos (Rom, 16, 6) que diz: "SALUTEM MARIAM QUAE MULTUM LABORAVIT IN NOBIS".
O autor teve, seguramente, a intenção de saudar Nossa Senhora. A verdade, porém, é que S. Paulo, por ocasião das saudações finais desta Epistola, entre outras, dirigiu uma destinada a uma cristã chamada Maria, escrevendo "saudai Maria, que muito trabalhou por nós".
Embora esta "Maria" não seja a Mãe de Jesus, o autor quis aproveitar esta frase para saudar Nossa Senhora, sabendo que se não referia a Ela. Nesta época o latim era muito corrente, sobretudo entre o clero.

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