quinta-feira, 15 de maio de 2014

IGREJA E TORRE DOS CLÉRIGOS - V

3.11.3 - Torre dos Clérigos - III


A Torre vista do céu


Mercado do Anjo visto do cimo da Torre dos Clérigos


Vista para Nascente de cima da Tore dos Clérigos – 1870 – a meio, á direita, ainda se encontra o Convento de S. Bento de Avé Maria que era murada, à esquerda pela Muralha Fernandina e a sua cerca que ia até à Batalha – ao centro vê-se o Palácio das Cardosas em obras, a colocar o telhado; a Rua dos Clérigos, entrada da Praça dos Loios, Igreja dos Congregados, as casas do lado Nascente da Praça D. Pedro, Rua de Santo António, a traseira das casas da Rua de Santa Catarina, o espaço em que viria a ser construída a Rua de Sá da Bandeira.


Nesta foto já foi destruído o Convento de S. Bento de Avé Maria e no local está a a estação dos comboios e os túneis - 1902


Vista para NE – avistam-se o Palácio Atlântico e o “arranha céus”, parte nascente da Avenida dos Aliados e da Praça da Liberdade, ao longe a Igreja do Bonfim, o Coliseu do Porto, a Rua de 31 de Janeiro, as Igrejas de Santo Ildefonso e dos Congregados, a estação de S. Bento…


Vista para a Catedral e Paço Episcopal - vê-se a Serra do Pilar.


Vista para o Rio Douro e Gaia - em primeiro plano as casas de nascente da Rua das Flores, mais longe a Rua de Mouzinho da Silveira - à esquerda o Paço e a Igreja de S. Lourenço (Grilos) - muito ao longe a torre da RTP.


Através do varandim vê-se uma cúpula da Rua do Conde de Vizela, parte da Avenida dos Aliados e o Palácio Atlântico. 


Vista para Poente – Vêem-se a Cordoaria, o Palácio da Justiça, o lado Sul do Hospital de Santo António, o cimo da Rua da Restauração, o antigo quartel, o jardim do Palácio de Cristal, a Ponte da Arrábida, as torres da Pasteleira, as torres da Igreja de S. João da Foz, o Rio Douro, Gaia e, ao fundo, o mar.

You Tube – Vistas da Torre dos Clérigos 




A propósito dos 250 anos da Torre dos Clérigos o Professor Helder Pacheco lançou um notável livro. Quem quiser conhecer bem a história deste monumento terá de o ler. 
Deste extraordinário livro recolhemos alguns pormenores que nos pareceram de interesse: 
"Quando do cerco do Porto João Paulo Cordeiro ofereceu ao exército Miguelista uma gigante peça de artilharia. 
“Notemos a chegada ao exército miguelista da célebre peça de artilharia… julgou-se que arrasaria a Torre dos Clérigos, quanto mais as casas da cidade. Chegou ao Alto da Bandeira em 24/12/1832 e foi posteriormente colocada nas proximidades da Igreja de Mafamude para dali bombardear o Porto… Era um dos maiores obuses até então construídos (em Londres, pela fábrica Bowling & Cª) pesava 100 quintais (6.000 kgs.) e tinha um calibre de 32.3 cm. a 2500 metros. O povo chamava-lhe Canhão-Pachão e os miguelistas “papa malhados…” nome porque se designavam os liberais. 
A Torre dos Clérigos estaria , portanto, na mira dos “Papa Malhados”… No dia de Ano Bom de 1833, o jornal Crónica Constitucional do Porto dava conta da acção do “Papa Malhados” e da vontade dos artilheiros miguelistas em atingir a Torre… Segundo as crónicas da época, a pontaria do inimigo não era famosa e produzia estragos, mas não nos alvos escolhidos – e talvez isso tenha salvo a Torre”. 


"Quando da preparação deste livro, o professor Helder Pacheco convidou alguns amigos, entre os quais teve a gentileza de me incluir, afim de testemunhar uma memória ou vivência sobre a Torre. Por coincidência eu tinha mesmo uma interessante memória de criança que com muito gosto lhe enviei:


UMA MEMÓRIA DA IGREJA E TORRE DOS CLÉRIGOS 

Meu Pai nasceu em 1907 na Rua dos Clérigos, casou em 1929 e aí viveu até 1932. Esteve sempre muito ligado à Igreja dos Clérigos, que frequentava. Grande amigo do Capelão Revº. Padre Costa, continuou a frequenta-la mesmo depois de morar na Rua do Pinheiro Manso. Recordo-me bem que, em criança, gostava muito de lá ir porque o Pavilhão de Sacrário tinha sido oferecido por meus pais, e eu sentia-me nele representado. Quando o Sr. Padre Costa foi para pároco de Mafamude levou-o consigo, pois o seu estado já não permitia a sua utilização. 
Em 1963, o Sr. Padre Costa, tendo tido um enfarte no miocárdio, decidiu devolvê-lo ao meu pai acompanhado de uma lindíssima carta em que conta a história deste pavilhão. Muitos anos depois, minha mãe ofereceu-me esta relíquia, que guardo com uma terna e infantil memória. 
Transcrevo parte da referida carta: 

“Meu Exmº. e muito prezado amigo Senhor Augusto Cunha, 
… a história dum Pavilhão de Sacrário, oferta de Vossa Exª. e Exmª. Esposa para a Igreja dos Clérigos, em certa data que eu não posso agora precisar… Um dia fiz um apelo aos frequentadores daquela igreja para ofertarem um Pavilhão para o Sacrário. No fim da Missa, (estou a vê-lo) Vª. Exª. e a Sª. D. Maria Augusta aparecem-me na sacristia e dizem-me: O Sr. Padre Costa mande fazer o pavilhão que os nossos filhos pagam. Vinha o Pedro, vinha o Rui e não sei se mais algum a descoberto. Sei que os filhos eram cinco e a esperança de um sexto. Por aqui já saberá em que ano foi… Esse encontro e essa fala inspiraram-me logo os motivos pictóricos que haviam de figurar nas cortinas do pavilhão: De um lado Jesus, (apenas em esboço) morto, crucificado e de Coração aberto pela lança, de cuja chaga brotariam para um cálice as últimas gotas do seu preciosíssimo Sangue (alusão à devoção eucarística da Agregação do Santíssimo Sacramento) e, para uma concha, as últimas gotas de água (alusão ao Baptismo). Vida e Graça. Perdão e Amor. Toda uma vida cristã… Do outro lado figurariam os anjos em adoração ao Santíssimo Sacramento: cinco em corpo inteiro e um só em parte… E pensei: se eu encontrar quem me realize e expresse este pensamento com alguma arte, sirvo bem Nosso Senhor, a piedade dos fiéis e, um dia, tenho possibilidade de fazer recordar a tão generosa família um episódio muito interessante da sua vida cristã… Entretanto eu saí. Ao sair deixei tudo menos as cortinas que, ao tempo já estavam a abrir e não as voltaria a usar quem me sucedesse. Eram sentinelas do sacrário e continuaram a sê-lo numa outra igreja em outro sacrário, onde estiveram até se gastarem totalmente e donde eu pudesse em todo o tempo, dispor delas para o fim que sempre tive em vista: dá-las a quem as deu, como recordação! Para Jesus do Sacrário já não são úteis nem prestáveis. Qualquer outro destino não convinha. Arranjadas, ponteadas e expostas em qualquer sítio ou guardadas, são motivo de gratas lembranças e oxalá sejam sempre inspiradoras da devoção ao Santíssimo Sacramento… Padre José Rodrigues da Costa”. 

Quando o Sr. Padre Costa conseguiu fazer o pavilhão, já a família tinha crescido, daí poderem ver-se 7 anjinhos, pois outro já vinha a caminho. Foi prometido em 1941 e executado em 1942. Sempre me identifiquei com o anjo do centro do lado direito, cor-de-rosa, porque sou o segundo filho, dos nove que meus pais tiveram. 
Eu próprio, além de ir muitas vezes à Rua dos Clérigos em criança, fui aos quinze anos trabalhar para o 54 dessa rua, no Espelho da Moda. Fiquei sempre muito ligado à Zona Histórica do Porto, que até hoje visito amiudadas vezes, tentando descobrir novos segredos e vivências. Já levei os meus filhos e netos a subir os 225 degraus da Torre dos Clérigos com o intuito de lhes incutir o amor pela nossa maravilhosa e querida cidade. 
Rui Cunha 
Porto, 6 de Agosto de 2012”

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