sábado, 24 de maio de 2014

SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DO PORTO - I

3.11.4 - Santa Casa da Misericórdia do Porto - I




Azulejos na Rua das Flores, 5



Até ao fim do séc. XV a assistência aos doentes, pobres e crianças era prestada pelas Congregações Religiosas, em especial as franciscanas e dominicanas, pela iniciativa episcopal e pelas confrarias profissionais (dos sapateiros, dos alfaiates, dos ourives, etc.) até à criação da Santa Casa da Misericórdia.


D. Leonor


D. Manuel I


Da História da Cidade do Porto - Artur de Magalhães Basto

No site da Santa Casa da Misericórdia do Porto pode ler-se: “A Santa Casa da Misericórdia do Porto foi fundada em 14 de Março de 1499 e constituída na Ordem Jurídica Canónica. A carta que D. Manuel I escreveu aos homens bons e governantes do burgo portuense é referência obrigatória e primordial para todos aqueles que procuram, na história, o começo, a essência e os motivos da fundação da Santa Casa da Misericórdia do Porto. A recomendação régia, expressa naquela carta, a demonstração de espírito cristão, de caridade e solidariedade social, reinante na corte portuguesa, alicerçada e inspirada pela espiritualidade intensa da Rainha D. Leonor, foi determinante para que os homens do Porto se organizassem...
Diz-nos o insigne historiador portuense, Dr. A. de Magalhães Basto, no primeiro volume da “História da Santa Casa da Misericórdia do Porto”, que o documento mais antigo por ele encontrado, em que se fala da “Confraria de Santa Maria da Misericórdia sita e ordenada na Sé”, é de 12 de Junho de 1503. Por isso não se pode concluir com absoluta certeza se a determinação de D. Manuel I foi logo cumprida, ou se demorou algum tempo antes que se efectivasse.
No entanto, embora não se conheçam referências documentais à existência da Irmandade anteriormente a esta data, segundo o Compromisso de 1646, a Confraria foi logo organizada em 1499, tendo como primeira sede a Capela de Santiago no Claustro Velho da Sé.
Segundo este Compromisso, serviriam a Misericórdia cem homens “de boa fama, sã consciência e honesta vida, tementes a Deus e guardadores de seus mandamentos, mansos e humildes a todo o serviço de Deus e da dita Confraria”, que fossem bons cristãos “não de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade”.

De notar a disparidade referente á capela onde se diz ter sido fundada, entre ARC e o site da SCMP.


"Inicialmente instalada na Capela de Santiago, no Claustro Velho da Sé, que se tornou assim na "primeira sala de despacho", a Misericórdia do Porto fixou-se, em meados do século XVI, naquelas que são ainda hoje as suas actuais instalações, localizadas na Rua das Flores. O primeiro grande impulso para o alargamento e consolidação da Misericórdia proveio da carta régia de 15 de Maio de 1521, em que D. Manuel I ordenou a anexação dos Hospitais de Rocamador, de Santa Clara e os de Cimo de Vila, com todas as suas rendas e heranças, que anteriormente eram geridas pelo município”
“…em casinha próxima (da Capela de Santiago) que fora do cabido, eram as sessões dos confrades. Dentro desta capela e pertença da Misericórdia ficava um campo santo onde se enterravam alguns dos primeiros irmãos da confraria”. In História do Porto por Artur de Magalhães Basto


D. Lopo de Almeida

A Santa Casa passou por grandes dificuldades financeiras porque a diminuta renda da cidade não chegava para as despesas dos doentes e pobres. Em 1536 D. João III impõe uma taxa de um real por cada rasa de sal destinada à Santa Casa. E outras imposições se lhe seguiram para manter tão caridosa obra.
“No dia 16/2/1584 o Provedor da Misericórdia do Porto Afonso Ferraz, recebeu uma nova sensacional: morrera em 29/1 último, em Madrid, D. Lopo de Almeida, o riquíssimo sacerdote filho do contador-mor do reino D. António de Almeida, parente próximo do grande D. Francisco de Almeida, primeiro Vice-Rei das Índias, deixando toda a sua fazenda a esta instituição! A Misericórdia reúne os Irmão regentes de seus negócios e manda a Madrid o recadeiro da Relação Lourenço Sarto, com muitas e boas cartas de recomendação e apresentação…
Ganhara esse caminheiro um vintém por légua (eram 90 léguas) e um tostão de ajuda de custo por dia, enquanto demorasse no encargo. Passados 20 dias estava de volta, com a informação de que, na verdade, a Misercórdia fora designada pelo sacerdote português em Madrid sua universal herdeira. E trazia a cópia do testamento, em que o testador declarava, o que mais nos interessa agora: “Os pobres são os meus direitos herdeiros… pelo que deixo por universal herdeiro o hospital e obras pias, que mando cumprir, e por meu testamenteiro e administrador da Misericórdia. Mando que a dita Misericórdia mande recolher continuamente enfermos e lhes administre todo o necessário à conta da minha herança… Toda a fazenda que eu deixar, cumpridos os legados, quero que se gaste em curar os pobres…
Mas a herança de D. Lopo não era inesgotável. Os encargos a que obrigava teriam soçobrado se não acudisse à Santa Casa outro grande legado, o de Manuel Fernandes, portuense, mercador no Oriente. Pode então construir-se junto do velho o hospital novo, que continuou a chamar-se D. Lopo e cujas obras, começadas em 1605, só no fim do século acabaram”.
In História do Porto por Artur de Magalhães Basto.


Bandeira da Misericórdia - História da Cidade do Porto – Dr. Artur de Magalhães Basto


Trecho da História da Cidade do Porto de Artur de Magalhães Basto. 


Foto publicada pelo Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia do Porto 

No século XVIII a irmandade tinha 2.000 irmãos.


Igreja da Misericórdia – desenho de Nicolau Nasoni

“ A construção da Igreja começou em 1555, sendo benzida em 1559, por D. Rodrigo Pinheiro.
Foi concluída, mas sem a capela-mor, aí por 1564 a 1567. 
No séc. XVII foi revestida de azulejos (1628) de que a sacristia conserva ainda alguns exemplares.
Em 1610 a igreja porém já estava a ameaçar ruína, mercê, possivelmente, da má construção e do terreno em que foi implantada que era muito húmido. Foi oferecido por D. Maria da Castro, viúva de Fernando Camelo. Nas traseiras havia água a jorros, ressumando a humidade por todos os lados. Talvez por isso no séc. XVIII voltou a ser indispensável renovar a construção pelo que foram chamados vários arquitectos entre os quais Nicolau Nasoni (1748) que desenhou a frontaria. Estas obras começaram em 1749 e acabaram em 1754. A fachada é composta de dois andares. Em uma fonte (ou em baixo), três arcos plenos separados por pilastras; sobre o entablamento, já no segundo andar, um frontão circular, partido, embeleza, enriquecendo-o, o conjunto. No andar superior três janelas rasgam o conjunto e iluminam o interior. O todo é coroado, no terceiro andar, por um grande frontão com as armas reais e uma coroa. Lá no alto campeia uma cruz ornamentada”. In História da Cidade do Porto por Artur Magalhães Basto.



“Na fachada que patenteia a data de 1780 lê-se, por baixo, esta inscrição: “MAGNA ERIT GLORIA/DOMUS ISTIUS NOVISSIMAE/PLUS QUAM PRIMAE”. Esta inscrição e data lê
m-se numa “cartuche” sobre a porta principal. 



Igreja da Misericórdia – pormenor – foto Francisco Oliveira


“Acabada a igreja, a capela-mor só pode ser construída em 1584-1590 graças às disposições testamentárias de D. Lopo de Almeida. Deve ter feito o risco o mestre de pedraria Manuel Luis, que, em 1584 residia em Amarante. Posteriormente esta capela-mor foi profundamente restaurada por Nicolau Nasoni entre 1749 e 1755, mas deve ter conservado incólume a sua arquitectura primitiva. A sua inauguração fê-la o bispo D. Frei Marcos de Lisboa (1582-1591) bispo do Porto, em 1590 com a colocação do Santíssimo em sacrário provisório por o definitivo só ser feito em 1592”. Idem acima.
Capela-mor de 2 registos, tendo no 1º colateralmente, entre colunas estriadas e com o primeiro terço bosantado, nichos com as imagens dos Evangelistas encimados por janelas com grades de ferro dourado; o 2º registo é ritmado por colunas coríntias. O topo da capela-mor tem entre as colunas painéis de azulejos amarelos relevados e altar trono em talha branca e amarela. Cobertura em abóbada, em parte cilíndrica e em parte esférica, com caixotões almofadados em cantaria.




Em meados do séc. XIX havia Lausperene às sextas-feiras.



Sacristia


Sacristia - pormenores

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