3.11.3 - Torre dos Clérigos - II
Escadas da Torre dos Clérigos – antigamente, no dia 15 de Agosto, festa de Nossa Senhora da Assunção, o acesso à Torre era livre e gratuito. Nos restantes dias custava 10 reis por pessoa.
Pinheiro Chagas, no seu Portugal Pittoresco, em 1883 escreveu:
“Lisboa e Porto teem ambos a sua maravilha legendária. Lisboa é a estátua equestre de D. José I, o Porto a Torre dos Clérigos. Nas províncias do Norte fallava-se antigamente na Torre dos Clérigos como se podia fallar nas Pyramides. Era a oitava maravilha do mundo. Nas aldeias escondidas dos recessos das serras de Traz-Os-Montes, tinha-se fama adquirida quando se podia dizer:
- “Eu que lhes estou fallando, já vi a Torre dos Clérigos”.
E em torno d’elle murmurava-se: “Vê aquele bello rapaz, que parece tão pouco cheio de si? Pois já viu a Torre dos Clérigos”. –
- “Que está você a dizer?”
- “Estou-lhe a dizer isto mesmo, viu, o que se chama ver, a Torre dos Clérigos do Porto”. E quando elle falava todos lhe davam atenção, e algum rapazote mais atrevido ousava perguntar-lhe:
- “Diga-me o senhor uma cousa, e desculpe o meu atrevimento, é verdade que são necessários sete dias e sete noites para se subir lá ao cimo da Torre dos Clérigos?”
- “Tudo isso é uma corja de asneiras. Eu, que lhe estou fallando, subi a Torre depos de almoçar, e o que lhe juro é que não jantei lá mas, quando voltei à noite, vinha esfomeado, isso é verdade, e jantei por quatro na Hospedaria da Águia d’Ouro.
– “Mas então também não é verdade que do alto da Torre se veem os navios que veem de lá desses Brasis?”
– “Isso é verdade que os vi eu que até conheci um dos meus primos que andava a passeiar na tolda de um lugre, porque olhe lá, isso de ter bons ollhos gabo-me eu”. In Helder Pacheco, PORTO A TORRE DA CIDADE.
Rua dos Clérigos no dia 23/11/1908, aquando da visita de D. Manuel II ao Porto – nota-se grande movimento e os portuenses todos enfarpelados. Meu avô Francisco veio, em 1893, com 12 anos, trabalhar para a casa Á Noiva onde esteve até 1903, de onde saiu para inaugurar o Espelho da Moda, um pouco mais acima.
“A. M. Leorne (1860) diz-nos que no cimo da Torre, do lado do mar, havia a seguinte inscrição:
“AD PRIMUSQUE AD ULTIMUM
LIPIDEM TEMPLI TAN AEQUE
TURRIS NICOLAO NASONI CONTRUXIT
AB. AN. 1732 COMPLEVITAN 1763
o que, traduzido, significa: Nicolau Nasoni foi o constructor da primeira à última pedra do templo e também da Torre. Do ano de 1732 completada em 1763”.
O mesmo autor informava: “ Na última varanda da Torre do lado Sul, estava uma imagem de Santa Bárbara, advogada contra os raios, feita de pedra toscamente trabalhada… vendo-se esculpida em latim, na frente que ficava virada ao mar, a oração de Nossa Senhora ou Magnificat, que ainda se lê perfeita e distintamente” (antes da invenção do para-raios procurava-se que a imagem servisse de protecção ao edifício… Em 31/7/1863 a Irmandade dos Clérigos tomou a muito louvavel resolução de… obra de colocação de um para-raios naquela torre.” In Helder Pacheco - PORTO A TORRE DA CIDADE.
Fotos da Torre dos clérigos
Torre dos Clérigos vista da nova Praça de Lisboa – foto Rui Levi
Torre dos Clérigos - documentário
Torre dos Clérigos – vídeo de Manuel de Sousa
Vistas do Porto
http://vimeo.com/moogaloop.swf?clip_id=83946072
Torre dos Clérigos vista do telhado da Sé
O Porto depois da construção da Torre dos Clérigos – Teodoro de Sousa Maldonado - 1789 - esta gravura foi apresentada na primeira edição do livro de Agostinho Rebelo da Costa que estamos a tratar.
Foto da revista A Ilustração Portuguesa de 26/11/1917
Um chá nas nuvens – Raúl Caldevila
“...Houve ainda a escalada da Torre, desde a base até ao vértice, pelos Puertollanos ocorrida, se a memória nos é fiel, em 1917. Também assistimos de ânimo inquieto, ao escalamento feito pelos dois sujeitinhos, de moldura em moldura, sem nenhuma batota, sem nenhuma ajuda, atidos apenas às suas boas unhas, que dir-se-iam garras aduncas e firmes.
Quando chegaram à bola cimeira (que Camilo diz “ser menos dura e menos tapada que a cabeça de Basílio Fernandes Enxertado”), já tinham sido providos através da última “ventana”, das vitualhas que iriam saborear nos braços das cruz de ferro, que é remate da Torre. E, atónitos, todos assistimos àquele chazinho das 5, gostosamente beberricado a setenta e tantos metros de altura, isto, muitos anos antes do chá que é servido agora pelas hospedeiras aeronautas. Depois da chazada, vagarosamente libada nos braços da cruz, os acrobatas despediram, para os espectadores, miríades de papelinhos onde se enalteciam as excelência das bolachas, com que os ginastas estavam a acompanhar o seu chá nas nuvens. Os papelinhos diziam o nome das bolachas do seu fabricante, mas nós não o repetiremos agora, para não fazermos graciosa, uma vez que o Puertollanos também a não fizeram…” In O Tripeiro Série VI, Ano IX.
Meu pai contava-me que assistiu à escalada, em 15/7/1917, muito ansioso com o receio de ver a queda do trepador. E digo-o no singular, pois o atleta foi só o Pertollano (pai), tendo o seu filho subido pelo interior e só ter escalado a bola e a cruz. O autor deste texto deveria ser muito jovem dado não ter sequer a certeza da data. Como se pode ver no documentário acima a assistência foi de milhares de pessoas do Porto e terras vizinhas.
Também, segundo meu pai, e já li algures, a escalada a que ele assistiu foi patrocinada por um comerciante do Porto.
No Livro PORTO A TORRE DA CIDADE, Helder Pacheco conta uma notícia do Comércio do Porto de 11/7/1917 que refere “desde a manhã de hontem que as pessoas que circulavam perto dos Clérigos ficaram sobremaneira surpreendidas vendo capear no ponto mais alto da Torre, três bandeiras alliadas – a portugueza, a ingleza e a franceza. O curioso appareceimento intrigou, com justíssima razão, toda a gente que teve conhecimento, tanto mais… que a Torre de noite se não abrira a ninguém… Segundo elle (o correspondente do CP em Tuy) quem efectuou essa sensacional ascensão foi o famosíssimo escalador José Puertollano… que se propõe verificar nova ascensão à Torre dos Clérigos, mas às escancaras, de dia, à vista de todos, afim de ir buscar as bandeiras que ali deixou na noite de hontem…”
Foto do livro acima
Segundo este mesmo livro realizou-se nova escalada, pelos mesmos acrobatas em 28/10/1914, este, sim, patrocinado pelas bolachas Invicta.
Subida de Perez de Tudela em 2/6/1979 – note-se a sujidade do granito antes da limpeza feita há poucos anos.
Além destas célebres subidas exteriores, outras houve através dos anos, mas com a ajuda de cordas para defender os atletas em caso de acidente. Também houve espectaculares descidas por corda inclinada presos pelos cabelos ou pelos dentes.
Bom dia sr. Rui! Fiz um link para esta postagem e queria pedir autorização para usar a foto da bolacha no meu blogue. Eu já a coloquei...se não permitir, eu retiro. Eu sou uma apaixonada pelas coisas do Porto, novas e antigas. Já vivi na cidade e adorava poder regressar. Por favor veja se concorda e depois diga-me alguma coisa. Obrigada!http://palavras-cruzadas.blogspot.pt/2014/09/a-escalada-da-torre-dos-clerigos-em-1917.html
ResponderEliminarBoa tarde. Não existe de minha parte qualquer problema em usar esta ou outra foto. Só peço que informe onde a recolheu. Cumprimentos portuenses
ResponderEliminarSó uma pequena rectificação.Na escalada de 1917 foi utilizada uma pequena corda colocada previamente :
ResponderEliminar:Segundo relato do guia da Gulbenkian, o atleta venceu "a sós e a pulso" o monumento "com excepção de um lanço de oito ou dez metros, entre o segundo e o terceiro piso, onde o acrobata correu risco tão iminente que a multidão estremeceu (lanço liso e que não oferece possibilidade de escalamento sem cordada)", atingindo ao fim de meia hora a esfera, onde ainda fez o pino.
Em principio a primeira escalada da Torre dos Clérigos sem utilização de nenhuma corda colocada previamente por cima nem nenhum instrumento auxiliar para facilitar a progressão foi realizada pelo escalador Portuense PEDRO PACHECO em 1992
https://www.youtube.com/watch?v=lYC47k8yQPU
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarMuito obrigado pelo seu esclarecimento. Na verdade nunca tínhamos lido qualquer referência a uma corda nas escaladas de 1917. O filme de Raul Caldevilla também não a mostra, mas não tem a escalada na íntegra.
EliminarExato. Se quiser publicar no seu blog posso lhe enviar o documento em causa difgitalizado:Guia da Gulbenkian .Douro Litoral -Volume 4º-Pag.161 a 164.
ResponderEliminarcumprimentos
Agradeço-lhe muito que me envie o documento, pois insiro no blogue, melhorando-o. Pode mandar pata o meu mail ruicunha35@gmail.com.
ResponderEliminarMuito obrigado. Cumprimentos