4.1 – Colégio dos Meninos Órfãos - I
E ste texto é uma homenagem a tão grande e importante figura da cidade, o Padre Baltazar Guedes. Dir-se-á um Padre Américo do séc. XVII. A visão de ARC, da importância desta Obra, está patente na crítica que faz às ofertas a riquíssimas instituições da cidade e esquecimento deste importantíssimo Instituto. O Padre Baltazar Guedes estava muito à frente do seu tempo, pois no séc. XVII a visão social dos Órfãos Pobres, e pobres em geral, não existia.
“Baltazar Guedes, filho do mercador Luís da Costa Rosa e de Lourença Guedes, nasceu no Porto, na Rua Nova (actual Rua do Infante D. Henrique), a 6 de Fevereiro de 1620 (na freguesia de S. Nicolau). Ficou órfão de mãe em 1627 e de pai em 1637. Passou a infância em casa de um tio e cedo mostrou vocação para a vida espiritual e para a protecção dos órfãos. Uma vez concluídos os estudos viu-se confrontado com a falta de fundos para se ordenar…
D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques, costumava trazer consigo uma imagem de alabastro de Nossa Senhora da Graça. Quando do acidente abaixo relatado ofereceu-a à capela a Ela dedicada. Porém, anos antes da demolição desta, desapareceu. A imagem acima é posterior à original, que será do séc. XII ou XVIII.
…Suplicou, então, a intercessão de Nossa Senhora da Graça na velha capela portuense daquela invocação, um modesto templo de origem mal conhecida, que se dizia ter sido mandado erigir por D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques…
(A Capela de Nossa Senhora da Graça fora da Porta do Olival foi mandada construir por D. Afonso Henriques em louvor de Nossa Senhora da Graça e do Anjo S. Gabriel, em 1160. D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques saindo um dia do Porto, a caminho de Guimarães, sofreu um acidente provocado por um talude que cedeu, e que a fez cair da sua montada. Porém, ela nada sofreu. De imediato o Rei prometeu construir esta capelinha).
…As preces foram atendidas, tal como contou o próprio Baltazar Guedes: era dia de Santo António e, ao abandonar a capela, encontrou um financiador. Depois de ordenado presbítero, em 1644, procurou cumprir o sonho antigo de fundar um estabelecimento que acolhesse os desfavorecidos, que eram muito numerosos na cidade do Porto. A 29 de Outubro de 1649 obteve permissão da Câmara do Porto para habitar junto da Capela, tendo-lhe sido também concedido uma porção de terra. (Iniciou a sua vida de sacerdote como capelão da referida capela e albergou-se junto dela com alguns clérigos pobres). Prosseguiu o trabalho com que se propunha criar um colégio para acolher órfãos da cidade e do bispado do Porto. Obteve licença para pedir esmola por todo o país, prática que era frequente naqueles tempos. Foi assim que nasceu o Real Colégio de Nossa Senhora da Graça dos Meninos Órfãos da cidade do Porto. Esta denominação ficou a dever-se à existência de uma ermida nas proximidades do Colégio da invocação de Nossa Senhora da Graça, assim como aos objectivos assistenciais da instituição, fundada por Alvará Régio de D. João IV, datado de 30 de Janeiro de 1650. A cerimónia de inauguração do Colégio ocorreu a 25 de Março de 1651, no dia de Nossa Senhora da Encarnação, e a primeira pedra foi lançada a 21 de Novembro do mesmo ano…
O Tripeiro - Volume 3
D. João IV e D. Luisa de Gusmão tinham por esta figura e sua obra uma grande admiração, ao ponto de lhe conceder o estatuto para realizar o seu desejo de abrir o colégio e enviar para a Câmara do Porto provisões com ordens de a prover de forma a poder cumprir a sua finalidade. Poucos meses depois da inauguração os órfãos eram 12, mas tantos pedidos tinha que decidiu projectar um edifício maior e mais apropriado para colégio, com dormitórios, salas de aulas e oficinas. Decidiu também construir uma igreja maior, pois os fiéis eram cada vez mais assim como as esmolas. As casas religiosas do Porto também enviavam quantias importantes para o andamento das obras.
O Tripeiro - Volume 3
Igreja de Nossa Senhora da Graça vista do Largo do Viriato - à esquerda o Hospital de Santo António.
O Tripeiro - volume 3 – regressou dessa viagem com avultadas ofertas com que pôde continuar as obras.
Planta do Colégio dos Órfãos e da Igreja da Graça no Largo do Carmo
As obras de construção da Igreja do Colégio terminaram em 1683, e terão custado 28.000$000, fabulosa quantia para a época.
O Padre Baltazar Guedes teve um irmão, surdo-mudo, que muito o ajudou na recolha de dádivas para o colégio. Em Portugal e, sobretudo no Brasil, onde dedicou 15 anos de grandes e difíceis trabalhos nesta sua missão. Apesar da sua deficiência conseguia ter a arte de transmitir os seus pedidos e convencer os portugueses dessas terras a contribuir para a grande obra. Andou 1500 léguas a pé e juntou 4.000$000 de esmolas, o que era uma avultadíssima quantia. Enviava também madeiras para construção do colégio e capela e para venda, açúcar, arroz e outros géneros do maior interesse.
Maravilhosa e Excelente descripção Histórica de um grande Homem Português, dos muitos e muitas que ficaram incógnitos nas suas Obras e Coragem ao longo dos séculos da construcção desta Valente Nação que é Portugal.
ResponderEliminarMuito obrigado e Cumprimentos