quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

CONVENTOS DE RELIGIOSAS - XI

3.12.16 – Convento de S. José e Santa Teresa das Carmelitas Descalças - I





In O Tripeiro, Série V, Ano IX

Este cruzeiro era o passo final da primeira Via Sacra do Porto, que começava perto do Convento de Santa Clara e da Porta do Sol, seguia pela actual Travessa da Rua Chã (antiga Viela da Cadeia), Rua do Loureiro, onde havia a Capela de S. Lourenço com uma antiquíssima imagem do Senhor dos Passos, junto do Convento de S. Bento de Avé Maria e destruída em 1901. Depois subia a colina fronteira por um caminho onde, mais tarde, foi aberta a Rua da Fábrica. 
Este cruzeiro, também chamado do “Senhor dos Assobios”, terá estado junto da capelinha mandada construir por D. Afonso Henriques em louvor de Nossa Senhora da Graça e do Anjo S. Gabriel, em 1160. 
Há quem afirme que D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques, saindo um dia do Porto a caminho de Guimarães, sofreu um acidente provocado por um talude que cedeu e que terá caído da sua montada, embora nada tenha sofrido. De imediato o Rei prometeu construir esta capelinha. 
Esteve aí desde 1160; passou, em 1651, para o Campo da Cancela Velha, que se denominou Campo da Via Sacra, quando se construiu o Colégio dos Órfãos; em 1701, por causa da construção do Convento das Carmelitas passou para o Recolhimento do Anjo. Quando este foi destruído, em 1836, voltou para o Colégio dos Órfãos e mais tarde para o Convento de S. Bento de Avé Maria, donde foi levado para o mausoléu das freiras de Santa Clara no cemitério do Prado do Repouso. A Câmara , considerando que estas ocupavam demasiado terreno, pretendeu rentabiliza-lo. Reduziu o mausoléu a um pequeno espaço e vendeu o restante para construção de novas capelas funerárias. Foi então mudado para o local onde ainda se encontra, continuando dentro cemitério.
Supomos que o povo chama a este cruzeiro “o Senhor dos Assobios” por, em dias muito ventosos, emitir sons agudos. Será?


O Convento das Carmelitas e a sua cerca ficavam a Norte da rua do mesmo nome. Esta era em curva, muito estreita e seguia entre elevados muros; a Norte pelos do Convento e a Sul pelos do Recolhimento de Anjo. Só no fim da década de 30 do séc. XIX foi alinhada e alargada. A Sul, o terreno triangular viria a ser, em 1839, o Mercado do Anjo.
O convento ocupava, praticamente, todo o quarteirão compreendido entre as actuais ruas das Carmelitas, Cândido dos Reis, Rua da Fábrica e a Praça de Guilherme Gomes Fernandes.


Foto de Antero Seabra – 1857/1864

“Ao iniciar-se o ano de 1700, onde agora está o largo do Moinho de Vento, é bem possível que ainda houvesse ali a funcionar em pleno moinhos cujas mós eram movi­das pela força do vento que lhes enfuna­va as velas. O topónimo era antigo. O lu­gar do Moinho de Vento já vem mencio­nado em documentos de 1647…
Naquele tempo, tudo isto ficava da parte de fora do burgo medieval que perma­necia contido dentro da espessa cinta de muralhas.
Ao contrário do que acontecia na colina oposta, a de Santo Ildefonso, onde se fa­zia uma produtiva cultura de hortaliças, na encosta a poente que descia do sítio do Moinho de Vento até ao campo das Hor­tas (Praça da Liberdade) cresciam vimes a esmo e havia um denso matagal que era sulcado por um estreito caminho que muitos anos mais tarde viria a dar origem à actual Rua da Fábrica. Mais para poente, mais para as bandas da Porta do Olival, o panorama era diferente.
Havia algumas oliveiras e no vasto campo dos cordoeiros começavam a vicejar os álamos e os negrilhos ali plantados em 1611 por iniciativa da Câmara. A igreja de Nossa Senhora da Graça, do colégio dos Meninos Órfãos, andava a ser construída em substituição da antiquíssima ermida que uma lenda diz ter sido mandada fazer pela mulher de D. Afonso Henriques, no sítio onde agora se ergue o edifício da reitoria da Universidade.
Onde agora está a Praça de Guilherme Gomes Fernandes, havia uma pequena er­mida que assinalava o termo de uma via-sacra que tinha início junto da capela do Espírito Santo, à entrada da antiga Viela da Cadeia, hoje travessa da Rua Chã, atra­vessava o campo das hortas e subia pelo tal carreiro que antecedeu a Rua da Fábri­ca até ao sítio do Calvário Velho que era como então se designava a atual Praça de Guilherme Gomes Fernandes.

Ora, foi no sítio do Calvário Velho, jun­to da tal ermida que, em 1704, as religio­sas carmelitas descalças fundaram o seu mosteiro, sob a invocação de São José e Santa Teresa. Isso aconteceu oitenta e poucos anos depois de se terem instalado ali perto (1619) os padres carmelitas des­calços, onde funciona o quartel do Carmo.
Em 1834, com o liberalismo instalado no país, as ordens religiosas foram extintas e a das carmelitas descalças não fugiu à re­gra. Mas a essa altura já o convento estava abandonado.
As poucas religiosas que viviam no con­vento, quando o exército liberal entrou no Porto, aproveitaram a noite invernosa de 19 de janeiro de 1833 para fugir, seguin­do assim o exemplo que já havia sido dado, antes, pelos frades. As fugitivas, por altu­ras da Lapa, foram abordadas por uma pa­trulha do exército de D. Pedro I. (do Brasil)
Iam disfarçadas. Tinham trocado o hábi­to por roupas vulgares. Mas não consegui­ram iludir os soldados que mandaram cha­mar o juiz do bairro de Santo Ovídio que, por sua vez, providenciou para que as re­ligiosas fossem entregues no mosteiro de São Bento da Ave Maria. Assim acabou, ao fim de quase 130 anos de existência, o mosteiro de São José e Santa Teresa das Carmelitas Descalças.
Durante muito tempo, a igreja e o mos­teiro estiveram completamente abando­nados. Só depois que terminou o cerco do Porto é que se começou a pensar no apro­veitamento que podia e devia ser dado às antigas instalações monásticas.
O recheio da igreja foi dividido por vá­rios templos da cidade. Por exemplo: a sa­nefa que estava no arco cruzeiro foi para a igreja dos Congregados. Arte da talha dou­rada dos altares foi para a capela de Fradelos, que fica na esquina da Rua de Guedes de Aze­vedo com a Rua de Sá da Bandeira…



… O cha­fariz que enobrecia o centro do claustro foi colocado no mercado do Anjo quando este se construiu ali perto.
Mas, entretanto, o mercado foi demoli­do. O pequeno sino da torre da igreja foi para o cemitério do Prado do Repouso. As instalações do mosteiro foram utilizadas para vários fins: escritórios, oficinas e ca­valariças da Mala Posta Real do Porto a Lis­boa; esquadra de Policia; salas de aula da Escola Normal; estação do telégrafo; Dire­ção das Obras Públicas; e um salão de di­versões que tinha como atracão principal a atuação de bailarinas espanholas.
Ainda por lá passou um colégio e a Cozi­nha Económica. Hoje, do antigo conven­to e igreja, nada resta a não ser a memória no nome da instituição religiosa na Rua das Carmelitas.
No espaço outrora ocupado pelo conven­to construiu-se um excelente bairro - o bairro das Carmelitas, que ocupa não só o espaço em que antes haviam estado con­vento e igreja, mas também a própria cer­ca do mosteiro que era enorme. 



Quando, nos começos do século XVIII, se começou a construir o convento de São José e Santa Teresa, das carmelitas descalças, a rua hoje chamada das Carmelitas não existia. Havia um estreito e sinuoso caminho que ligava o chamado lar­go do Ermitão, em frente à fachada da igreja dos Clérigos, com a praça onde se fazia a fei­ra da farinha, hoje denominada Praça de Go­mes Teixeira. Com a construção do mostei­ro, o caminho passou a rua a que foi dado o nome atual com que aparece identificada (1813) na planta de Balck. Depois que se construiu o mercado do Anjo, a artéria adotou esta designação com várias variantes: Rua do Anjo; Rua Nova do Anjo; Rua Nova de Jesus do Anjo. Posteriormente, voltou a ser Rua das Carmelitas. Germano Silva – JN - 09-03-2014”.
O Chafariz, infelizmente, foi destruído.


Campo da Cancela Velha, depois Campo da Via Sacra, depois Largo do Calvário Velho, depois Praça de Santa Teresa e actualmente Praça Guilherme Gomes Fernandes…



Na cerca do convento existiu uma fonte com três carrancas que deitavam água para um grande tanque, que foi demolido em 1905 e, duas delas, se encontram agora no jardim do Palácio de Cristal.



Estas carrancas estiveram antes na antiga Fonte da Arca ou da Natividade, situada no Campo das Hortas e, mais tarde, Praça Nova, que tinha quatro (ver desenvolvimento no lançamento de 19/4/2013 – Fonte da Arca ou da Natividade).


Fontanário, que esteve na Praça de Santa Teresa e que está assinalado no mapa acima.


Na Praça da Universidade vendia-se farinha e pão antes da de Santa Teresa. O maior movimento era à terça e sábado, embora todos os dias houvesse pão fresco. 
Ao fundo á direita podem ver-se os Armazéns da Capella antes de passar para a esquina de Cândido dos Reis e Carmelitas. Á direita os Armazéns do Anjo que depois construíram uma grande loja  com a fachada principal para a Rua das Carmelitas e uma sucursal na esquina de Sá da Bandeira e Fernandes Tomás.



A capela do convento passou a receber, desde 1833, as carreiras do Minho e foi demolida em 1900. Em 5/11/1900 são aí inaugurados os Armazéns da Capella, que passaram em 1907, para a esquina das Ruas de Cândido dos Reis com a das Carmelitas, onde esteve até há pouco tempo.


Armazéns do Anjo na Rua das Carmelitas…


…e em Fernandes Tomás.


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Casa dos Barroso Pereira na Praça de Santa Teresa ou do Pão – antes de 1910
Curiosidade: ouvimos há muitos anos contar que havia dois irmãos em que um era muito rico e o outro menos. Divergências entre eles levaram a que este mandasse construir uma casa muito estreita na esquina da R. D. Carlos (actual José Falcão) com a Praça de Santa Teresa (Guilherme Gomes Fernandes) só com a finalidade de tapar as janelas da larga casa do irmão. O povo chamava-lhe o “ferro de engomar”, “casa esqueleto” e “casa tuberculosa”. Em 1948, em O Tripeiro, J. A. Pires de Lima escreve que esta casa seria mais larga, mas teria sido parcialmente demolida para a abertura da rua D. Carlos, o que nos parece inverosímil. 
Em 1954 Horácio Marçal dá uma terceira versão à construção desta insólita casa dizendo, que o proprietário deste estreito terreno pretendeu vende-lo ao vizinho. Como este não estivesse de acordo, aquele mandou construir a “casa tuberculosa” para lhe tapar as vistas. 


Garrett era visita frequente da Casa dos Barroso Pereira. Erguida em meados do séc. XVIII, com projetco de Nicolau Nasoni, o palacete foi demolido na década de 1960. Recordamo-nos bem de lá ter ido tirar radiografias no consultório do Dr. Roberto de Carvalho e fazer diatermia. Também lá teve consultório o otorrino Dr. Alvarenga de Andrade. 
Hoje está lá um prédio bastante deselegante onde esteve a Livraria da Imprensa Nacional Casa da Moeda.


Grandes Armazéns do Chiado na Praça dos Voluntários da Raínha - 1910


Publicidade durante a construção da Estação de S. Bento em dia da chegada de um político, vindo de Lisboa.

5 comentários:

  1. NA casa dos Barroso Pereira tinha também consultório o Dr. Luís Sá-Carneiro, dentista para onde corria vezes sem conta depois dos meus 10 anos.

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  2. Olá

    Já que o post é sobre as Carmelitas Descalças deixo a recordação de uma freira que em tempos conheci, que me habituei a admirar e que pertencia ao Carmelo de Braga . Infelizmente já partiu, certamente para outras vidas...

    Cumprs
    Augusto

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  3. Foi o Dr. Avarenta de Andrade que me operou a garganta, no Hospital da Lapa, tinha eu 5 ou 6 anos. Nessa altura o seu consultório já ficava na Rua Sá da Bandeira.

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  4. Foi o Dr. Avarenta de Andrade que me operou a garganta, no Hospital da Lapa, tinha eu 5 ou 6 anos. Nessa altura o seu consultório já ficava na Rua Sá da Bandeira.

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