4.4 – Recolhimento da Senhora da Esperança - I
Praça de S. Lázaro em 1798 – no mapa o Norte está para baixo, pelo que o Recolhimento fica em cima à esquerda.
Praça de S. Lázaro e recolhimento (12)
Praça de S. Lázaro e recolhimento (12)
No local da Capela do Recolhimento, existiu desde o século XIV uma gafaria, hospital de leprosos, que tinha como padroeiro S. Lázaro. Daqui veio o nome do Largo e Praça de S. Lázaro, anteriormente Largo do Arrabalde.
No Domingo da Paixão realizava-se, na Praça de S. Lázaro, uma feira em honra deste santo, pois existia na capela dos Hospital dos Lázaros uma imagem sua, toda em prata. Esta imagem passou, em 1662, para a Sé. Quando se construiu a Capela do Recolhimento a referida imagem foi trazida para aqui. Desconhecemos se ainda aí se encontra.
A Feira de São Lázaro passou mais tarde para a Praça da Alegria e Fontaínhas, onde ainda se realizava na primeira metade do séc. XX.
Desenho de Joaquim Casanova - 1833
Praça de S. Lázaro e Recolhimento em 1910
“Há um mês, mais coisa menos coisa, houve festa rija, de cariz tipicamente popular, nas imediações do Colégio de Nossa Senhora da Esperança, em S. Lázaro. Foi a romaria a este santo protetor contra a lepra – uma das poucas festas que ainda acontecem no interior do Porto. E porquê naquela zona da cidade? – tem o leitor toda a legitimidade para perguntar. Porque foi por ali que funcionou uma das gafarias (hospital de leprosos), «da parte de fora do muro (muralha fernandina), além da porta de Cima de Vila, não longe de Mijavelhas…», ou seja, perto do Campo 24 de Agosto que em recuados tempos teve esta pitoresca designação.
A notícia mais antiga que se conhece sobre a atividade de uma gafaria dá-a como tendo funcionado, já em 1247, na Ribeira onde hoje está a igreja de S. Nicolau. Só no século XIV se fez a transferência do hospital para a parte de fora das muralhas com a fundação de uma ermida e hospital que tomaram como padroeiro S. Lázaro. Daí adveio o nome ao local que abrangia o atual jardim e artérias circundantes. Uma descrição desses sítios dos meados do século XIX diz-nos que «o campo ou terreiro de S. Lázaro, em frente da capela e da gafaria, se assemelhava a um vulgar largo de feira em terra provinciana…». Hoje, o topónimo de S. Lázaro, no Passeio de S. Lázaro que vai da Avenida de Rodrigues de Freitas à Rua D. João IV. Da capela e do hospital, nem vestígios.
1. Em 1850 a doença da lepra não possuía, no Porto, a dimensão que atingira durante a Idade Média. Mas ainda era considerada um verdadeiro flagelo. E para o combater a Santa Casa da Misericórdia do Porto mandou construir, na Rua das Fontainhas, o hospital dos Lázaros e das Lázaras, destinado a recolher os portadores da doença. No edifício funcionaram depois os hospitais menores de que aquela instituição era administradora. Tudo feito em terrenos que, no século XVII, pertenciam a uma propriedade chamada Quinta de S. Lázaro.
2. Manuel de Passos Castro, que foi tesoureiro-mor da Colegiada de Cedofeita, morreu em 1718. No seu testamento legou uma avultada soma em dinheiro à Santa Casa da Misericórdia para que esta instituição mandasse construir um recolhimento destinado a meninas órfãs e pobres, «de boas famílias…». A Misericórdia aceitou a incumbência e deu cumprimento à vontade do clérigo mandando erguer, no local onde antes estivera a capela e gafaria de S. Lázaro, a igreja e o Recolhimento de Nossa Senhora da Esperança, obra de Nasoni.
3. Aqui, na esquina do Largo do Camarão, funcionou um curioso recolhimento que passou à história com o nome de «Recolhimento das Velhas do Camarão». Foi fundado por Francisco António Revelier e sua mulher, Inácia Maria, junto à Travessa de S. Lázaro «que vai para as Fontainhas», que é a atual Rua da Senhora das Dores. Não se conhece a data exata da fundação deste recolhimento mas sabe-se que já existia em 1804 porque uma escritura de doação desse ano refere-se a «um chão sito junto à casa do recolhimento…».
4. Emblemático do sítio de S. Lázaro é este edifício onde atualmente está instalada a Biblioteca Pública Municipal. Começou por ser um pequeno hospício dos frades menores reformados da Ordem de S. Francisco da Província da Imaculada Conceição. Posteriormente foi transformado em convento da mesma ordem. Durante as invasões francesas o convento serviu, simultaneamente, de depósito militar e de hospital. A gafaria de S. Lázaro beneficiou muito da rede de abastecimento de água criado pelos monges para seu serviço e da população.
5. Com a romântica intenção de atenuar as agruras por que as damas do Porto haviam passado, durante do Cerco, D. Pedro IV mandou fazer, para recreio delas, o Jardim de S. Lázaro. Ainda hoje é um dos mais belos da cidade mau grado a degradação que denuncia. Durante as Festas em honra de S. Lázaro e quando no jardim se davam concertos musicais, o Recolhimento de Nossa Senhora da Esperança colocava cadeiras e bancos em torno do lago que alugava, revertendo o produto para ajudar à manutenção do recolhimento”. Germano Silva - Revista Visão, 26-05-2011
Foto de 1920
Conta-se que nos dias de festa e Domingos, quando eram horas de passeio na Praça, as meninas do recolhimento corriam para as janelas apreciar as diversões e atrair os rapazes. Porém, as freiras “usando de cautela”, mandaram colocar umas frestas de madeira de forma a só se poder ver de dentro para fora, o que muito arreliou a rapaziada. Podem ver-se as referidas frestas na foto acima.
A capela teve o risco de Nicolau Nazoni; só se iniciou em 1746, tendo terminado em 1763.
Remate da fachada da capela
Pedra d’armas na capela
Ornamento sobre a porta principal
Sem comentários:
Enviar um comentário