domingo, 15 de novembro de 2015

RIO DOURO - XXV

6.1.25 - Rio Douro, Vila Nova de Gaia, Empreza Electro Cerâmica, Fábrica Cerâmica e de Fundição das Devezas


1912 - 1919 
"A origem da Empresa esteve numa pequena oficina que o Senhor Joaquim Pereira Ramos tinha estabelecido em 1912, na Rua 24 de Julho, em Lisboa. Nesta oficina dedicava-se ao fabrico de aparelhagem elétrica, adquirindo na Vista Alegre as necessárias porcelanas nuas.
Dificuldades verificadas no fornecimento destas porcelanas, quer pela Vista Alegre, quer por outros fabricantes nacionais, levaram-no a adquirir na Quinta das Regadas, no Candal, em Vila Nova de Gaia, uma pequena instalação cerâmica que se dedicava ao fabrico de estatuetas de terracota. Aqui iniciou em 1914 uma pequena unidade industrial para a produção das referidas porcelanas elétricas nuas e metalizadas.
Por volta de 1916, com o intuito de expandir o negócio, o Sr. Joaquim Pereira Ramos procedeu à transferência de Lisboa para as instalações do Candal, em Vila Nova de Gaia, tendo para isso criado a Empresa Electro Cerâmica, Limitada.


1930



1919 - 1945 
Para além do fabrico e pequena aparelhagem elétrica de baixa tensão a empresa iniciou, em 1919 o fabrico de tubo isolante, e deu início às instalações necessárias para o fabrico e ensaios de isoladores de alta tensão, tendo iniciado e sua produção em 1922. Por volta de 1930, a empresa começou também a produzir louça doméstica e de uso corrente.




Em 1936 a Empresa Electro Cerâmica e a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre estabeleceram um acordo entre ambas, mediante o qual cada uma adquiria 50% do capital da Sociedade de Porcelanas, que existia em Coimbra desde 1916, com uma gama de produtos em tudo idêntica à sua.
Em 1945 a empresa foi comprada pelo Grupo Vista Alegre, tendo alterado o seu objeto social para “exercício da indústria e comércio de porcelanas para usos eléctricos e industriais e louças domésticas e todas as outras indústrias e comércio com ele relacionadas, e bem assim o de todos os artigos em matérias plásticas e metálicas”.
Assim, por via direta e indireta a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre passou a ser a única produtora nacional de porcelanas domésticas, porcelanas decorativas, cerâmica eletrotécnica (isoladores) e pequena aparelhagem elétrica com interior de porcelana (tomadas, interruptores, quadros). Além de única produtora nacional, beneficiava do condicionamento industrial e das fortes restrições às importações.
A Segunda Guerra Mundial arrastou consigo diversas empresas e negócios para a falência. A Empresa Electro Cerâmica também foi apanhada nesta rede!



1945 - 1989 
Para a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre e para a Sociedade de Porcelanas reservou a produção de porcelana de mesa e de porcelana decorativa. Aqui tem início o grande período áureo da vida industrial da Empresa Electro Cerâmica. Beneficiou da eletrificação do país, da “abertura” dos mercados coloniais, do crescimento económico internacional (exportações para a Índia, Israel, Bélgica, Suécia, Europa do Sul e Estados Unidos da América). 


1989 - 2001 
É nesta altura, em 1989 que a Empresa Electro Cerâmica inicia uma nova fase, procedendo à gestão do seu património imobiliário do Candal, transformando as suas instalações num Parque Empresarial.
Desta forma, a Empresa Electro Cerâmica começou com 2 inquilinos em 1989, em 1993 tinha já 60 empresas, e desde 2000 conta com cerca de 110 empresas.



António Almeida Costa – fundador da Fábrica das Devezas



Rua Almeida Costa


Fábrica das Devezas – séc. XIX

Não é fácil tratar a história e a actividade da Fábrica de Cerâmica das Devesas. Assim sendo transcrevemos excertos e algumas fotos do esplêndido artigo de Francisco Queiroz em www.queirosportela.com :
“A enorme importância de António Almeida da Costa – fundador deste complexo – e do seu amigo, colaborador e sócio, José Joaquim Teixeira Lopes, na projecção das Artes Industriais em Portugal, no século XIX, até porque a dinâmica que o primeiro imprimiu a esta actividade ultrapassou a mera contribuição capitalista (aspecto mais conhecido e revelado da sua biografia), devido à formação artística que precedeu a sua actividade industrial…Ora, ao verificarmos a elevadíssima importância histórica e artística da antiga Fábrica de Cerâmica das Devesas - mesmo em termos internacionais - e a negligência e burocracia com que tem sido conduzido o seu processo de classificação patrimonial, cumpre-nos o duplo papel de divulgar um pouco da história e valor deste complexo industrial, assim como dar a conhecer a forma como tem sido conduzido o processo da sua salvaguarda…Não encontrámos qualquer documentação que confirmasse a data oficial de 1865, como a da fundação…A partir da criação da secção de fundição no seu complexo fabril, entre 1881 e 1884, António Almeida da Costa passou a ser o único industrial do Porto com capacidade para construir uma capela sepulcral com acessórios inteiramente produzidos nas suas oficinas. Esta passava a ser uma grande vantagem de António Almeida da Costa relativamente aos seus concorrentes, pois todas as oficinas do seu complexo fabril promoviam-se mutuamente, funcionando como uma concentração horizontal – a primeira e a maior que alguma vez existiu em Portugal em termos de artes industriais…A qualidade do equipamento industrial da Fábrica das Devesas era igualmente digna de nota, havendo mesmo algumas máquinas inventadas pelos mestres fabris. Os próprios edifícios fabris não eram excessivamente acanhados, ao contrário do que sucedia com quase todas as indústrias da época… Os catálogos da Fábrica das Devesas serviam, pois, como forma de publicitar a sua produção. Porém, a publicidade também se baseou na presença em exposições nacionais e internacionais, onde a fábrica obteve várias medalhas e elogios, nomeadamente uma medalha de prata na célebre Exposição Universal de Paris, em 1900…A sua habilidade e perspicácia empresarial também o levaram mais longe, ao permitirem que produzisse aquilo que o mercado queria, antes que outros o fizessem. Exemplo disso mesmo foi a sua aposta na telha de Marselha, sendo que até a terá chegado a produzir com melhores resultados do que a original.”




Pedestal em mármore da estátua de D. Pedro V, feito por António Almeida e Costa – a estátua em bronze de Teixeira Lopes.





Colunas



Pormenores dos desenhos das colunas






Azulejos lisos e relevados


Alex photos

“As ruínas da antiga Fábrica de Cerâmica das Devesas são o desfecho de uma história de horrores protagonizada pela Câmara de Gaia, pelos proprietários dos terrenos e pelos sucessivos governos e os seus respectivos organismos de conservação do nosso património. Atrás do arrastamento do processo, dos pareceres e das ideias emergem, como é costume, interesses de construtoras imobiliárias. E assim do marasmo perde-se um património incrível que conta toda a história da actividade industrial da cerâmica iniciada nas Devesas nos fins do século XIX. Mais um crime de lesa património que fica impune na chafurdice da burocracia e dos interesses obscuros.
António Almeida da Costa foi o grande responsável pela dinamização industrial de toda aquela imensa zona. Com a direcção artística de Joaquim Teixeira Lopes criou simplesmente o maior empreendimento do género em toda a península Ibérica. 
A fábrica desde logo apostou numa escola de formação dos seus trabalhadores contando assim com os melhores escultores, ceramistas e modelistas. Investiu na qualidade dos produtos com que elaborava as peças, no design e na variedade dos modelos. Nunca descorou a publicidade participando em exposições internacionais onde obteve várias menções e medalhas ganhando uma de prata na famosa exposição Universal de Paris em 1900. 
Situada junto à via-férrea distribuiu eficazmente os seus produtos criando uma rede imensa que se estendia até ao Rio de Janeiro. A mesma linha permitia-lhe receber directamente a matéria-prima...


Foto Carlos Ene



Depósito e mostruário da Fábrica de Cerâmica das Devesas, depois Sociedade de Anilinas

…Com um gosto peculiar pelo estilo neomourisco o empresário edificou, para exposição dos produtos concebidos na sua fábrica, aquele edifício que todos conhecemos na Rua José Falcão, no Porto, mas também e no mesmo estilo, um edifício semelhante no lado sul e a sua casa de habitação em Gaia (o Palacete nas fotos). Por essa altura reformou os próprios edifícios das Devesas dedicando largos espaços para a exibição das suas melhores criações…


Asilo e creche – blogue O Passado Mora Aqui


Casa do Bairro operário – blogue O Passado Mora Aqui

…Construiu uma série de instalações de apoio aos seus empregados entre as quais o bairro operário que hoje se mantém felizmente conservado, revestindo-o de uma forma original com azulejos de padrões diferentes. Aproveitou as paredes de uns dos lados do empreendimento, também no quarteirão sul, para uma magnífica exposição de painéis de azulejos entretanto também considerados de interesse público mas agora em adiantado estado de degradação.
É difícil assistir ao abandono deste enorme espólio já que ele constitui parte importante da Arquitectura e da Escultura Portuguesa do século XIX e do início do século XX sendo o seu legado cerâmico o mais relevante do país.
Para o edifício está previsto desde 1984 a instalação do Museu Nacional das Artes Industriais. Ficou pelo papel até hoje e a sua degradação parece irreversível mesmo depois de há cerca de 30 anos ter sido declarado imóvel de interesse público. E em nome de sabe-se lá de quê abandonamos mais uma vez parte significativa da nossa história recente”.


Fábrica das Devesas



Vistas de Gaia – 360 graus

4 comentários:

  1. Primeiro que tudo, quero agradecer a publicação deste excelente blog. Muitíssimo obrigado.

    Passando ao assunto que me traz aqui. Um magnífico repositório virtual de louça decorativa e de mesa fabricada pela Empresa Electro-Cerâmica do Candal pode ser admirado no blog "Detalhes Cerâmicos": http://detalhesceramicos.blogspot.com. Para ver as muitas peças que não estão na primeira página do blog, apontar para "Mensagens antigas", ao fundo da página.

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    1. Muito obrigado pelo seu comentário. É, para nós, sempre muito agradável saber que os leitores apreciam o nosso trabalho.
      Muito obrigado pela informação. Vamos visitar o blogue que indica com todo o interesse.
      Cumprimentos,
      Maria José e Rui Cunha

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  2. Olá
    Mais uma história com um final pouco feliz...e que pena é.
    Cumprs
    Augusto

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  3. Boa tarde,
    Tudo na vida tem um fim. Esperemos um um dia alguém se lembre destas ruínas.
    Cumprimentos
    Maria José e Rui

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