quarta-feira, 20 de abril de 2016

FAZENDAS QUE SE EXPORTAM PARA O NORTE - I

6.8.1 – Fazendas que se exportam para o Norte


Portos de destino das exportações do Porto - História do Porto – Luis Oliveira Ramos

Já existem referências, desde 1226, a mercadores portuenses que viajavam para a Europa do Norte, nomeadamente para a Inglaterra. 
Porém, o desconhecimento dos povos e o frequente ataque de piratas tornava estas viagens pouco frequentes e muito perigosas.


O mercador portuense Afonso Martins (Alho), procurador do concelho da cidade, foi enviado por D. Afonso IV à Inglaterra com a finalidade de tratar com Eduardo III um acordo económico, que permitisse, entre outras coisas, a pesca e o transporte de mercadorias para aquele país. 
Regressado, teve a anuência do Rei para em 20 de Outubro de 1353 assinar, em Windsor, o primeiro tratado entre Portugal e Inglaterra, válido por 50 anos. 
Este tratado foi de enorme interesse para Portugal pois defendia os barcos de ataques de piratas ingleses, os mais frequentes naquela zona.
Dado a sua habilidade e diplomacia foi considerado um excelente embaixador dos nossos interesses. 
Os portuenses criaram então o aforismo “esperto como o alho”. Ainda hoje, mais de seiscentos anos depois, esta frase é repetida mas, infelizmente, duma forma deturpada, “esperto como um alho”, o que lhe tira qualquer sentido.
No século seguinte desenvolveu-se muito o comércio com a Flandres, terra muito rica e comercial.



Existe no Porto uma pequena rua com o nome de Afonso Martins Alho, entre a Rua das Flores e a de Mouzinho da Silveira, onde se encontra a conhecida Adega do Olho.


Gravura de John Clark, dedicada ao cônsul de Inglaterra John Whitehead, cônsul britânico no Porto – 1778. 
Desde Miragaia, Muralha Fernandina, Forte de S. Filipe, Porta de banhos à muralha – em cima o Convento de S. Bento da Victória, a Igreja da Victória, Convento e Igreja de S. João Novo, Igreja de S. Lourenço e Sé - á direita Gaia e Serra do Pilar.


"John Whitehead nasceu em Ashton-under-Lynne, no Lancashire, em 1726. Foi um homem de muitos interesses e talentos: arquitecto amador, engenheiro, cientista (astrónomo, matemático e investigador), bibliófilo (possuidor de uma vasta biblioteca) e cônsul da nação britânica. Residiu no Porto entre 1756 e 1802.
Na qualidade de cônsul desenvolveu uma relação de proximidade com João de Almada e Melo e exerceu uma grande influência na actuação da Junta das Obras Públicas e na introdução da arquitectura neopalladiana em Portugal, assim abrindo caminho ao neoclassicismo, que se assumiu como uma corrente contrária e alternativa ao tardobarroco ainda persistente no Porto, no final de Setecentos.
Entre 1765 e 1780 acompanhou e executou obras integradas no programa almadino de renovação arquitectónica e urbana do Porto. Foi um dos principais responsáveis pela escolha de John Carr para o projecto do Hospital de Santo António. Teve um papel decisivo na edificação do primeiro e único cemitério protestante do Porto (1787-1788). Ficou ligado às obras na Praça da Ribeira, da Capela de Nossa Senhora do Ó e da Praça de S. Domingos e foi, provavelmente, o autor do risco da Casa da Feitoria Inglesa (1785-1790), no Porto.
Relatos da época atribuem-lhe fama de excêntrico e até mesmo de bruxo, por possuir um laboratório e um observatório privados, providos de microscópios solares, onde terá ensaiado um pára-raios por si inventado e realizado experiências nas áreas da câmara escura e da electricidade. De qualquer modo, foi uma figura muito apreciada pelos seus compatriotas e respeitado entre os portugueses. Sabe-se que em 1785 vivia na Rua de São Francisco.
John Whitehead morreu no Porto a 16 de Dezembro de 1802. A Feitoria Inglesa determinou que seria sepultado no centro do cemitério protestante da cidade, onde se ergueria um monumento em sua homenagem, o qual foi executado cerca de 20 anos depois". Site Sigarra da Universidade do Porto.


Gravura de J. G. Martini – 1835

Cais de Gaia, Rio Douro com grande movimento de barcos, e Serra do Pilar. Uma vela com o nome Porto! Na margem direita vê-se a Igreja de S. Francisco. Inícios do séc. XIX? O barco à esquerda deixa-nos surpreendidos porque nunca tínhamos visto um com cobertura triangular e com bandeira – parece ter roupa a secar – será de alguém que vivia no rio?


Gravura italiana posterior a 1846 porque já aparece a Ponte D. Maria II (pênsil).


Gravura da Torre dos Clérigos tirada da zona da Rua de Santa Catarina. A particularidade desta gravura é mostrar a torre com as bandeiras indicativas de entrada de um barco na barra, para avisar os agentes marítimos da cidade.


Memória ao Senhor dos Navegantes – séc. XVIII – reconstruída em princípios do séc. XX – foto Jorge Portojo.

A Capela do Corpo Santo foi construída em 1394, junto do cais das pedras, por promessa de navegantes que escaparam a um naufrágio quando vinham de Londres. Foi nessa capela que nasceu a Confraria do Corpo Santo, que desempenhava funções muito importantes, desde a defesa da costa dos ataques dos piratas argelinos a seguros marítimos. Tinha barcos próprios e recebia grandes proventos dos seus negócios e doações.


Quando Filipe II organizou a Invencível Armada confiscou-lhe os dois melhores barcos. As tripulações queimaram as velas e a bandeira de Espanha. O cais passou, a partir daí, a chamar-se Cais dos Insurrectos.



Brigue


O Tripeiro – Série V – Ano VIII


Painel do Corpo Santo – Igreja de Massarelos

Confraria do Corpo Santo de Massarelos – Caminhos das História 
– Joel Cleto 


Gravura do Porto em 1878 – Desde a Torre da Marca ao Colégio dos Órfãos e, na margem esquerda Vila Nova de Gaia e a Serra do Pilar – editada pela Lithografia Portuguesa a vapor. Laranjal, 116 - Porto. Admirável o pormenor, a correcção do desenho e sua descrição.


A.R.C. pediu que lhe fossem facultados os valores das exportações neste ano de 1786 “no qual se não expressam as avaliações dos géneros exportados, porque muitos deles variam anualmente de preço, como, por exemplo, o azeite, que em um ano custa o almude a 2.400, em outro se paga a 3600; e assim o sal etc.”
Uma apreciação a estes números:
a) 28.000 pipas de vinho foi uma quantidade bastante alta, dado que 100 anos depois, como brevemente se verá, as exportações foram 20 a 40% superiores. Ao preço médio de 63.000$000 a pipa serão no total 1.764.000$000.
b) 30.000 arrobas de sumagre demonstra a importância da sua exportação. Se a arroba correspondia a 14,688 kgs, o total foi de mais de 440.000 Kgs.
c) 15.000.000 de laranjas e limões…
Como se verifica pelos géneros exportados, uma grande parte do seu valor chegava-nos do Alto Douro. 
O saldo do nosso comércio com os países estrangeiros era largamente negativo, muito embora o alto valor das nossas exportações de vinho.
Inglaterra, França, Holanda eram os principais países de destino. O comércio com a Rússia estava em pleno desenvolvimento.


Barcos rabelos acostados em Gaia com pipas de vinho vindas do Douro – antes de 1886 dado que ainda está a Ponte D. Maria II (pênsil).


Desembarcando pipas de vinho vindas do Douro - 1910

2 comentários:

  1. Olá
    Ora cá está mais uma das muitas «propriedades» do alho....fazer crescer o dinheiro! ehhehe
    Cumprs
    Augusto

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  2. Pelo menos este ALHO foi um bom empreendimento!

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