quinta-feira, 27 de abril de 2017

GUERRA CIVIL ENTRE D. DINIS E D. AFONSO IV

8.1.1 – Guerra civil entre D. Dinis e o Infante D. Afonso IV - Rainha Santa Isabel, Fundação de Gaia, Couto do Porto, Rio Frio


A guerra civil a que ARC se refere foi desencadeada pelo infante D. Afonso IVdevido a favores que D. Dinis concedia ao filho bastardo Afonso Sanches. Receava que D. Dinis entregasse o trono ao seu meio-irmão.


D. Dinis – 1279-1325


Rainha Santa Isabel - 1271 - 1336


Raínha Santa conciliando D. Dinis e D. Afonso na batalha de Alvalade
Quadro de Alfredo Roque Gameiro – 1864-1935

“Estava tudo a postos para a batalha final da guerra civil, quando esta foi impedida por intervenção de Dona Isabel. 
Relato de Dom Gonçalo Pereira, bispo de Lisboa: 
«Vieram acordar-me a meio da noite, disseram-me que a rainha se encontrava ali no meu paço e me queria falar. Disse-me: 
- Dom Gonçalo, temos de impedir a batalha prestes a acontecer no campo de Alvalade, pois saldar-se-á num horrível banho de sangue! Estava eu a meio das minhas rezas, quando Deus me fez ver a desgraça: os corpos mutilados, os gritos desesperados dos feridos… E uma voz suplicou-me que me interpusesse entre os dois exércitos, acompanhada do mais alto representante de Deus que pudesse encontrar. Aqui em Lisboa sois vós, eminência! 
- Mas que podemos nós os dois fazer contra dois exércitos, minha santa senhora? Sem armas, sem soldados que nos acompanhem… Seremos chacinados! 
Ela replicou, cheia de serenidade: 
- A voz garantiu-me que nada nos sucederá, se levarmos esta cruz! 
Mostrou-me o objeto que os seus criados transportavam e, quando me admirei do tamanho, ela replicou que era para ser vista ao longe. 
Ainda me recordo de pensar que Dona Isabel teria endoudecido, quando senti uma força misteriosa apoderar-se de mim! Parecia vir do brilho dos olhos da rainha, uma força que me impedia de a contradizer. Fizemo-nos ao caminho, no escuro da noite fria, acompanhados apenas pelos serviçais que transportavam a cruz e as lanternas. Ao acercarmo-nos do campo de batalha, já ao nascer do sol, Dona Isabel disse que só eu e ela estaríamos protegidos das setas pelas forças divinas, os criados teriam de procurar abrigo. Eu retorqui que, na minha idade, jamais conseguiria carregar com uma cruz daquelas, mas ela disse: 
- Pegai nela, Dom Gonçalo, e vede como Deus a faz leve! 
E tinha razão! Logrei pegar na cruz e erguê-la! Se não o houvesse experimentado, nunca acreditaria. Mas ainda perguntei à rainha: 
- E quem guiará o meu cavalo? Fico sem mãos livres para as rédeas… 
- Deus - respondeu ela. - Tende Fé, eminência! 
A minha montada seguia a de Dona Isabel como se realmente alguma força a guiasse, nem sequer se assustava com a zoada das setas, que voavam em arco por cima de nós. O mesmo não se podia dizer de mim. Confesso que nunca senti tanto medo na minha vida e bradei para a rainha: 
- Morreremos, é o nosso fim! 
- Fechai os olhos, Dom Gonçalo, e rezai! 
- Fechar os olhos? Mas como saberei para onde ir? 
- Rezai, Dom Gonçalo, e confiai em Deus! 
Obedeci, nada mais me restava. E dei por mim com a cabeça encostada à cruz, a confessar os meus pecados, suplicando absolvição, tão convencido estava que chegara a minha hora. Não faço ideia quanto tempo assim estive, só sei que dei conta do silêncio que se havia apoderado de todo o campo. O meu cavalo parou, sem que lhe houvesse dado qualquer ordem. Abri os olhos e vi os vossos cavaleiros e os do príncipe virem ao nosso encontro. Chegaram no momento certo, pois comecei a tremer violentamente e a cruz pôs-se-me de repente tão pesada que, não fossem eles, tê-la-ia deixado cair ao chão. E só deixei de tremer aqui na vossa tenda». In blogue 2006 anodomdinis 


Um dos importantes benefícios de D. Afonso IV ao Porto foi a construção da muralha que, terminada no reinado de D. Fernando, tem o injusto nome de Muralha Fernandina. 
“Os burgueses contavam com o apoio do Infante D. Afonso, que ao tempo era senhor do castelo do Porto. E é neste contexto, sob a tutela do infante que o poder da elite burguesa vai beneficiar de um salto qualitativo: daí para diante, todos os anos pelo S. João, o Concelho escolheria três pares de homens-bons idóneos para juízes e desses três pares a Igreja escolhia um. O par escolhido juraria perante o prelado e em seu nome ouviria os feitos cíveis e crime em primeira e segunda instância”. História do Porto, direcção de Luis A. De Oliveira Ramos, pág. 240


D. Afonso IV – 1291-1357

Como é sabido, e já referimos, houve uma grave disputa entre D. Afonso IV e o Bispo do Porto sobre onde ficava o limite do Couto do Porto, se no Rio da Vila, se no Rio Frio. Antes de este diferendo ter sido sanado, D. Afonso III criou uma alfândega na margem esquerda:



Maqueta da Casa da Alfândega Velha

Em 1325 o rei D. Afonso IV mandou construir neste local o "almazém" régio, contra a vontade do bispo, então senhor do burgo. Assim nasceu a Alfândega do Porto, para onde eram encaminhadas todas as mercadorias que aportavam à cidade, a fim de ser cobrado o respectivo imposto. O edifício primitivo era constituído por duas altas torres e um pátio central. Logo no século XV, D. João I mandou construir um corpo avançado.


Com a finalidade de se decidir se o Couto do Porto, cedido por Dª. Teresa, que referia ir até ao “Canal Maior”, terminava no Rio da Vila ou no Rio Frio, em Miragaia, D. Afonso IV mandou fazer inquirições, em 1348, de que encarregou o tabelião régio da cidade, André Domingues.
Este concluiu que o Couto do Porto terminava no Rio da Vila (B), pelo que o pequeno espaço entre este e o Rio Frio era pertença do rei (REGUENGO). Esta conclusão era importantíssima, pois as casas que já mandara construir, desde 1325, nesse espaço eram legais e entre elas constava a Alfândega Velha. Podia consequentemente, tirar ao Bispo os importantes rendimentos obrigando a que as mercadorias ali fossem descarregadas e pagas as respectivas taxas.
Mas não ficou por aqui a contenda.
Em 1354 o caso vai a tribunal e sobe ao Papa Inocêncio VI, em Avignon, que leva a serem escolhidos 5 juízes para decidir o pleito.
Estes decidem que o rei ficaria com as casas e armazém que tinha construído, mas teria de pagar um foro ao Bispo.
Alguns dos historiadores do Porto consideram que o inquérito de 1348 está ferido de parcialidade a favor do rei, e que o limite ia mesmo até ao Rio Frio.
O Dr. Armindo de Sousa na História do Porto, dirigida por Luis Oliveira Ramos, dá a sua leitura deste desacordo da seguinte forma:


Rio Frio – pormenor da Planta redonda – Balk - 1813 – nasce na zona da Rua da Torrinha e segue pelo Carregal, por baixo de Hospital de Santo António, 


Foto do início do séc. XX

alimenta a Fonte das Virtudes e desagua em Miragaia, por baixo da Alfândega Nova.


In História do Porto coordenada por Luis Oliveira Ramos

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