segunda-feira, 27 de novembro de 2017

TESTEMUNHOS E MEMÓRIAS SOBRE O PORTO - XIII

9.13 - Memórias de Ramalho Ortigão - II, Descrição de Ramalho por Ricardo Jorge, Passeio dominical no Douro, O carroção segundo Ramalho, O carroção do tio de Ramalho, O fim do carroção do Manel Zé.




Artur de Magalhães Basto em Figuras literárias do Porto


Passeio em barco valboeiro de Avintes – Silva Porto


“Durante o verão o folguedo perdilecto das famílias abonadas eram as merendas e os jantares pelo rio acima, a Quebrantões, ao Freixo, à Pedra Salgada, à Quinta da China. Aos Domingos, depois da missa primeira, o patrão trazia da feira do Anjo a provisão das laranjas e dos pêssegos de Amarante, um melão afiançado, e a indispensável melancia. Um cesto levava as frutas, outro cesto maior e mais abarrotado, coberto pela alvejante toalha de linho de Guimarães levava os talheres, o alguidar de arroz de forno com o pato e o salpicão, a pescada frita, os grossos “moletes” de Valongo e a borracha atestada de vinho maduro da Companhia do Alto Douro. Fretava-se um dos grandes barcos de Avintes, remado por mulheres, um tanto escalavrado, destingido pelas solheiras, semelhante do aspecto da madeira e do cordame a uma velha nora descida para a água de uma horta ribeirinha, cheirando a brôa fresca a cebolinho e a feno. A família toda – o marido, de calça de ganga e chapéu de sol, o mulher, os filhos, a criada com roupinhas minhotas e os dois marçanos, em chinelas de bezerro compradas nas Congostas, camisa de linho caseiro, nisa de briche e chapéu braguêz de copa alta e aguda – tomavam metodicamente assento à ré, sob o toldo branco, rusticamente armado em varas de pinho, como um parreiral suspenso. O açafates com os víveres eram depostos à proa… Pela noite os que, tendo ficado na cidade, tomavam o fresco na alameda das Fontaínhas, viam em baixo na água túmida e glauca, polvilhada de ouro pelo reflexo das estrelas, deslizar de volta as barcas das musicatas, iluminadas das lanternas à veneziana, lentas, misteriosas”. Ramalho Ortigão – Porto 1850

A propósito do famigerado carroção, Ramalho escreve:


“O meio de transporte habitual das famílias, para o Teatro de S. João, para os bailes, para as romarias, era o famoso carroção, veículo de 4 rodas da forma de um prédio, com duas fachadas laterais de cinco janelas cada uma, e porta ao fundo, a que o passageiro subia por quatro degraus de escada guarnecida por um corrimão. Uma junta de alentados bois de Barroso puxava pelo "monumento”. 
“Havia famílias enormes que não cabiam em duas salas e que se acomodavam num carroção. No Inverno, uma dessas ingentes moles chegava à porta do Teatro S. João. A portinhola abria-se, havia uma escada com corrimão para descer; o carroção começava a despejar senhoras. O pátio do Teatro enchia-se e o carroção continuava sempre a deitar gente. Pasmava-se que ele pudesse conter tantas pessoas, ia-se olhar e encontrava-se ainda, lá dentro, no escuro, a mexer-se e a preparar-se para sair, tanta gente como a que estava fora”. Ramalho Ortigão

Vale a pena ler Ramalho Ortigão no seu livro As praias de Portugal, de 1876:



Carroção no Museu do Carro Eléctrico – foto Portojo

E Ramalho continua, sobre o carroção do tio:





 Ramalho termina:

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