terça-feira, 19 de março de 2013

DOS GUINDAIS A MASSARELOS - I

2.7 - Dos Guindais a Massarelos


Eis uma excelente descrição dos cais a norte e sul do Douro. É tempestivo ARC tratar destas duas margens do Douro, pois a do sul ainda pertencia à cidade do Porto, até 1834. 
Por vezes ARC foi acusado de irrealista e exagerado nas suas descrições. Penso ser este um dos casos. Quando ele descreve um “cais” que vai dos Guindais a Massarelos, não leva em conta que em Miragaia existia uma praia fluvial em cima da qual, em meados do século XIX, foi construída a Alfandega Nova. Muito mais espantoso é verificar-se que, no fim do séc. XVIII, já se "sonhava" com a construção de um cais até à Foz do Douro! Só neste século isso foi realizado, mais de duzentos anos depois.


Cais dos Guindais – Projecto do alargamento do cais e caminho para a Ribeira – Existiu a Fonte das Aguadas, que fornecia a água às embarcações, e que a Junta das Obras Públicas pretendeu melhorar, de forma a que só fosse possível aceder-lhe pelo rio. 


Cais dos Guindais – foto Aurélio Paz dos Reis


Muralha Fernandina antes da reparação – Vê-se o edifício que foi o Convento de Santa Clara


Muralha Fernandina e Guindais – foto Francisco Oliveira - é visível a parte superior do Paço Episcopal com a sua clarabóia


Guindais - Foto de Fernando Pedro


Escadas dos Guindais – segundo Eugénio Andrea da Cunha Freitas, guindais poderá significar terreno ou caminho íngreme - foto Francisco Oliveira


“O projecto foi confiado ao engenheiro portuense Raul Mesnier e a condução das obras ao mestre Adélio Couto. Em 13 de Maio de 1891 foi enviado à Câmara um pedido para a vistoria das obras e a aprovação dos horários de funcionamento e das tarifas a aplicar. Oito dias depois realizaram-se as necessárias experiências do material que satisfizeram e no dia 4 de Junho de 1891, pelas cinco ho­ras da manhã, o Elevador dos Guindais à Batalha abriu ao público. Consta de uma crónica da época que "o portuense acorreu em avultado número, desde o dia inaugural, fazendo o ascensor um vai­vém constante desde as cinco horas da manhã até às onze da noite", com preços estabelecidos entre os vinte réis, desde o cais até ao alto da escadaria dos Guindais; e de quarenta réis desde os Guindais até à estação próxima da Batalha. Passageiro que levasse uma canastra carregada pagava mais dez réis. Em regra o elevador era regularmente utilizado por vendedores de fruta e de legumes que se abasteciam junto dos barcos que, oriundos das terras do Alto Douro acostavam nas linguetas dos Guindais e levavam depois aqueles produtos para a parte alta da cidade; pelas pessoas que, especialmente na época calmosa frequentavam as praias fluviais do Douro ou neste rio praticavam desporto Mas era à noite que o elevador registava maior afluência do público com as idas aos teatros e aos cafés… Tirava a carripana um cabo subterrâneo em giro circulatório, por meio de maquinismo, contrabalançando o peso, na parte mais íngreme, um carro a descer desde o ponto culminante com lastro segundo as pessoas a elevar, anunciadas pelo condutor com toques de campainha Na parte mais suave o contrabalanço fazia-se com o carro que vinha da Batalha em serviço de passageiros, o qual, em chegando ao maior declive, arrastava para cima o que havia contrabalançado o outro na subida. Isto com um sistema de engates e desengates em marcha audaciosíssimos..." Tão audaciosas eram essas manobras que foi durante a operação de uma delas que se deu o desastre que acabou com a carreira do primeiro Elevador dos Guindais à Batalha. O acidente ocorreu às quatro horas da tarde do dia 5 de Junho de 1893. O carro principal estava equipado com uma campainha de aviso que dava sinal, respectivamente a 5 e 1,5 metros do término, na descida, a fim de o maquinista ir reduzindo a velocidade. Por desleixo, conforme se apurou em inquérito imediatamente estabelecido, o maquinista não abrandou a marcha, como se impunha, indo o veículo embater com violência contra o respectivo suporte - uma mola em forma de U. Do choque resultou que o cabo de ligação entre os elevadores se desengatou da forquilha. No entanto, os passageiros do carro descendente saíram normalmente.” Germano Silva – O Elevador dos Guindais – Casa da Música Porto 2003 – Texto colhido no blog Do Porto e Não Só
A casa das máquinas deste elevador foi usado como atelier do escultor Henrique Moreira. Eu estive lá nos anos 40/50 por várias vezes e ficava assombrado pela quantidade de obras espalhadas, terminadas ou em trabalho, a maior parte delas em gesso.



O novo elevador inaugurado em 19 de Fevereiro de 2004 – Foto de Panorameo


 Escadas do Codeçal – foto de Filipe Carmo – codeçal é um termo do séc. XV, ou anterior, que refere um arbusto leguminoso de flor amarela (codesso) que existiria nesta área – às religiosas de Santa Clara chamavam as “Madres do Codeçal”. 


Gravura de Théronde de 1882

Vê-se a “varanda firmada sobre o muro da Ribeira”, a ponte D. Maria II, pênsil (1843-1886), e grande azáfama fluvial. Segundo “O Periódico dos Pobres” no segundo semestre de 1856 atravessaram esta ponte “17.687 carros, 1387 carruagens e Cª., 103 cadeirinhas, 38.725 cavalgaduras, 6.253 cabeças de gado vacum, 4.811 de ovino, 109 rebanhos de cabras e 84.650 pessoas a pé”. Por estes números se pode verificar a importância da construção desta ponte. E muito mais pessoas a pé a teriam atravessado, não fosse o medo de que ela se desmoronasse devido ao grande balanço do tabuleiro. Por esta razão muita gente preferia atravessar de barco.


Pelourinho da Ribeira 

O pelourinho já vem do tempo do Império Romano. Era o local onde se amarravam os escravos e criminosos e se aplicavam os castigos públicos. Eram normalmente de jurisdição municipal, e símbolo da sua administração. O do Porto estava do lado de fora da muralha, junto da Porta da Ribeira. Foi construído no reinado de D. Manuel I. No cimo vê-se a coroa manuelina, a esfera armilar, o catavento e a cruz.


Ribeira em 1798 – gravura de Batty – antes da construção da ponte das barcas 





Comércio na Ribeira – fins séc. XIX/ início do XX


Ribeira – anos 20? – Foto Beleza


Lavadeiras


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