3.5.6 - Palácio de Cristal - I
Uma lei do Ministro Fontes Pereira de Melo pretendia que se organizassem sociedades agrícolas em todas as capitais de distrito. Reconhecia-se nela que “a agricultura era o recurso mais valioso e fonte mais abundante da riqueza nacional”. No Porto, por influência do Governador Civil, do Barão do Valado, foi criada a Sociedade Agrícola do Distrito do Porto, em Dezembro de 1854. O Dr. António Cruz, na História da Cidade do Porto coordenada pelo historiador Dr. Artur de Magalhães Basto, escreve: “Dispondo agora de todos os meios de que carecia, a comissão respectiva escolheu o Campo da Torre da Marca com a quinta adjacente, então já denominada de Carlos Alberto, como local mais indicado para a implantação de pavilhões e barracas destinados a recolher os produtos e animais que seriam expostos. Foi de 3 dias - 12,13 e 14 de Julho de 1857- o prazo estabelecido para manter a Exposição Agrícola aberta ao público. Não era de prever que a exposição despertasse, da parte do público, o interesse que ficou a assinala-la. Interesse que não era apenas evidente através da quantidade de expositores e qualidade dos produtos expostos porque o era também – e não esqueçamos que tudo isto se passou há um século e que foi esta a primeira grande exposição realizada em Portugal – através do subido número de forasteiros que acorreram nos 3 dias, ao Campo da Torre da Marca: nada menos de 10.000 pessoas. Uma vez mais o Porto foi o primeiro”.
Planta do Porto – já aparece o Palácio de Cristal e a Alfândega Nova – publicação de 1865
O palácio de Cristal foi construído em terrenos que pertenciam à Câmara e nos conhecidos 7 campos que eram de particulares e que tiveram de ser expropriados.
Foi criada a Sociedade do Palácio de Cristal tendo sido emitidas acções de 100$000 num total de 100 contos de reis, podendo o capital subir a 200 contos de reis.
1900
Medalha comemorativa do lançamento da primeira pedra do Palácio de Cristal, em 3 de Setembro de 1861, presidida pelo Rei D. Pedro V.
A frontaria já está construída e as obras da estrutura em ferro estão no seu início. Só em 19 de Abril de 1864 chegou de Londres a primeira remessa de ferro para a armação do tecto.
Antes da construção do Palácio de Cristal houve exposições agrícolas e industriais nesta cidade. De destacar o êxito da agrícola e industrial de 1857, a que acima nos referimos, bem como a industrial de 25 de Agosto a 16 de Setembro de 1861, realizada no Palácio da Bolsa. Esta, teve tal sucesso que o rei D. Pedro V a visitou por três vezes. Aproveitando a sua presença na cidade, foi-lhe pedido que presidisse ao lançamento da primeira pedra do Palácio de Cristal, a que ele acedeu, e se realizou em 3/9/1861. Fruto destes êxitos e por iniciativa de alguns ilustres portuenses, dos quais se destacou Alfredo Allen, 1º visconde de Villar d'Allen, numa época de grande desenvolvimento da indústria no norte do país e em especial na nossa cidade do Porto, foi construído um edifício à semelhança do Crystal Palace de Londres. Tinha por finalidade a realização, em lugar condigno, da grande Exposição Internacional do Porto, que se realizou em 1865. Para tal, acrescentaram-se ao terreno camarário da Torre da Marca, na Rua dos Quartéis, hoje Rua D. Manuel II, os 7 campos particulares em volta. A sua construção foi iniciada em 1861 e o autor do projecto, de três naves, foi o arquitecto inglês Thomas Dillen Jones.
Durante a sua construção e exploração houve sempre grandes dificuldades financeiras que por pouco não puseram em causa a possibilidade de ser terminada a obra. Um homem, porém, decidiu a sua conclusão, pondo todos os seus muitos bens a cauciona-la, o médico-cirurgião Dr. António Ferreira Braga. Dado que a exploração foi sempre deficitária, os seus bens foram hipotecados, tendo falecido em 1870 na maior pobreza.
D. Luis I veio, propositadamente, ao Porto para inaugurar o Palácio em 1865.
Perspectiva rara – vê-se o coreto e a Casa da Torre da Marca, na Rua do Triunfo – os jardins ainda estão pouco ornamentados.
Fachada posterior
O Palácio de Cristal viveu sempre com grandes dificuldades
financeiras. Lembremos o infeliz, mas dedicadíssimo cidadão do Porto, Dr. António
Ferreira Braga que, médico de grande fortuna, veio a morrer pobre por ter posto
os seus bens como aval da construção e manutenção, logo em 1865.
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