terça-feira, 24 de março de 2015

OUTROS EDIFÍCIOS PÚBLICOS - I

4.7 – A Relação Secular - I



Aljube no bairro da Sé

Muito antes da criação do tribunal de Apelação ser instalado, os portuenses apelavam ao Rei que lhes concedesse este benefício, pois todos os julgamentos de segunda instância seguiam para Lisboa, com grande incómodo e despesa dos habitantes.
A Relação do Porto foi criada em 1583 por Filipe I, tendo estado instalada por cima do açougue, perto da Sé, à entrada da Rua das Aldas. 

A CRIAÇÃO DA RELAÇÃO E A CASA DO PORTO - FRANCISCO RIBEIRO DA SILVA
http://www.trp.pt/historia/82-casaporto.html


Rua das Aldas - foto José Paulo Andrade


Sobre esta rua encontrámos um artigo não assinado, mas que supomos ser de Germano Silva: 
“Uma pergunta que me é feita vezes sem conta, é esta qual é a mais antiga rua do Porto? Parece-me uma questão curiosa e interessante para tratar nesta tribuna. Mas devo informar, desde já, que a resposta exacta não é fácil de encontrar. 
Durante muitos anos, li e ouvi dizer dos mais consagrados investigadores da história portuense, que a rua mais antiga do burgo portucalense era a Rua de Cimo de Vila. 
Mas o monge cisterciense Frei Bernardo de Brito, que foi cronista mor do reino, no tempo de Filipe II, e escreveu a célebre "Monarquia Lusitana", defende a teoria de que a mais velha artéria da cidade é a Rua das Aldas. 
Sabe-se do pouco crédito que têm algumas das obras do autor do "Monarquia Lusitana". Mas há muitos outros investigadores que estão com ele nesta questão da antiguidade da Rua das Aldas. 
Vamos por partes a mais antiga referência que se conhece à Rua de Cimo de Vila é do ano de 1247 e consta do testamento do bispo do Porto, D. Pedro Salvadores. Anterior, portanto, à construção da muralha fernandina, o que significa que a rua já existia quando na cerca se abriu a porta que tomou depois a designação da artéria. 
É de 1421 a mais remota referência à Rua das Aldas "…casas que confrontam com a rua que vai do Redemoinho para as Aldas…" 
Acerca da Rua das Aldas, porém, há que ter em conta o seguinte esta artéria, primitivamente, foi a que hoje tem o nome de Rua de Sant'Ana. A que, nos nossos dias, ostenta a designação de Rua das Aldas, foi, em remotos tempos, a Rua da Penaventosa. E a que tem esta designação era a Viela dos Palhais. Estas incompreensíveis alterações ocorreram em meados do século XVIII e por motivos que nunca foram devidamente esclarecidos. 
A atribuição da categoria, digamos assim, de rua mais antiga do Porto à antiga Rua das Aldas, actual Rua de Sant'Ana, provém do facto de se considerar que Alda é uma abreviatura de Aldara ou Ilduara e não de Aldonça, como muitos pretendem. Santa Aldara foi mulher do conde D. Gutierres Árias Mendes, pais de S. Rosendo, bispo de Dume, no tempo em que governaram o burgo portucalense como condes proprietários dele. Viveram, esses fidalgos, no ano de 920. 
Será pois a Rua das Aldas a mais antiga do Porto? Há indícios que apontam nesse sentido. Firmino Pereira, um jornalista dos finais do século XIX, começos do seguinte, que escreveu muitas e iluminadas páginas sobre a História do Porto, admite essa possibilidade, com base na situação topográfica da artéria e na circunstância de aparecer referenciada em muitos documentos antigos. O mesmo historiador é da opinião que as moradias dos condes do Porto, donos e senhores do burgo, ficavam ao começo da Rua das Aldas, "…pelo Açougue Velho até à Calçada de Sant'Ana". 
Um documento do século XVI ajuda-nos a entender melhor a localização da Rua das Aldas, a antiga, claro. "…começa ao pé da escada de Sant'Ana (onde actualmente está o oratório) para cima até ao pé do Colégio dos Padres da Companhia…"(de Jesus). Para baixo do Arco de Sant'Ana "…até à Rua da Bainharia chamava-se Pé das Aldas" que se deve entender com ao pé ou perto das Aldas. 
Uma referência ainda à actual Rua de Cimo de Vila para dizer que estou plenamente de acordo com Eugénio Andrêa da Cunha e Freitas. "Cima (e não Cimo) de Vila era a designação que se dava ao ponto mais alto, no extremo de uma povoação - o que perfeitamente corresponde à toponímia do local no Porto. Cimo de Vila é coisa nenhuma, é disparate…"

Filipe I mandou construir o primeiro edifício próprio em 1606 no sítio do Olival, mas só ocupado em 1609. Porém, este edifício, ruiu em 1/4/1752, obrigando a que a Relação passasse para o palácio do Conde de Miranda, no Largo do Corpo da Guarda, para o Hospício de Santo António do Vale da Piedade, na Cordoaria, e para o Campo das Hortas, actual Praça da Liberdade.


Mapa da zona da Cadeia da Relação feita por Teodoro de Sousa Maldonado, arquitecto (1759/1799) – A: Rua da Ferraria de Cima, hoje Rua dos Caldeireiros; B: Rua de Trás; C: Rua de S. Bento (da Victória); D: Recolhimento do Anjo; E: Relação; F: Campo da Lameda; G: Quartéis; H: Hospício dos Antoninhos (Colégio dos Órfãos).



1863


Funcionou no Campo das Hortas (Praça da Liberdade) até que João de Almada mandou construir o edifício actual, no mesmo local onde tinha estado o anterior de 1609 a 1752. Em 1765, foi lançada a primeira pedra, cuja obra só terminou em 1796. Foi um edifício tão caro que durante a sua construção as outras obras do Porto pararam. O arquitecto que o projectou foi Eugénio dos Santos, um dos reconstrutores de Lisboa após o terramoto de 1755


O edifício só foi terminado muito mais tarde, como se pode ver pela falta de remate superior.


Photo Guedes – 1900


“Muitas das janelas gradeadas da fachada que dá para o Jardim (ao todo são 103) , correspondiam a instalações de presos. A entrada destes era por este lado. Os detidos, dali, observavam a frescura do lago e o deslizar suave e manso dos aristocráticos cisnes envolvidos na plebeidade despreocupada dos patos. Esta observação quotidiana e permanente, por parte de quem não tinha mesmo mais que fazer, mereceu à ex-cadeia o significativo epíteto de «Hotel Mira-Patos… 


Janela do “Hotel Mira Patos” - Foto Portojo


Fonte Neptuno junto à Cadeia da Relação

…A pequena fachada voltada para a antiga Porta do Olival mostra, na parte inferior, um chafariz (a Fonte de Neptuno) com dois golfinhos no seu espaldar vertendo água pela boca. Num medalhão está esculpida a figura de Neptuno… 



Foto Portojo

…Para a varanda dá a porta da capela onde os presos condenados à morte passavam a sua última noite. Ali sentiam a angústia da decorrência imparável do relógio da vizinha Torre dos Clérigos…


…A cima-fronte desta fachadinha, já que por ela acima trepa maior número de pilastras, também é dotada, no friso, de mais espessos triglifos. E, a sobrepujar a cornija, vêem-se, ao centro as Armas Reais, acaireladas de farfalhudo paquife, e aos lados duas panóplias túrgidas de objectos mavórcios» (In "O Tripeiro" VI Série, Ano X, 1, 1970). Esta fachada não tem mais de oito ou nove metros, pelo que mais parecia uma esquina. Por isso o edifício era também conhecido como a "casa de três bicos" ou "casa de três esquinas». Texto do Conselheiro José Pereira da Graça.


Fachada Nascente que dá para a Rua de S. Bento da Victória – à esquerda a Igreja de S. Bento da Victória.


Sobre o frontão encontram-se as estátuas da Justiça, do Direito e da Razão.


No largo fronteiro à Relação esteve durante alguns anos a feira de Vandoma, que regressou às Fontaínhas.

1 comentário:

  1. Olá
    Mais um edifício com História.
    No largo fonteiro creio que agora se faz a «Feira dos passarinhos» ao Domingo de manhã....

    Cumprs
    Augusto

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