quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

RIO DOURO - BARRA IV

6.3.4 - Rio Douro - Barra IV - Descrições de Skelton e Murphy da entrada na barra





Gravura e texto de J. Skelton (continua em baixo)


Convento de Monchique - 1862 - a Alfândega nova em construção - em cima à esquerda a Capela de Carlos Alberto.


Porta dos banhos na Muralha Fernandina


Texto de J. Skelton – grande elogio ao Porto!


Planta da barra do Douro até Quebrantoens (Serra do Pilar) -1820


Entrada do Douro – Comander Eduard Belcher – 1833

“A planta Entrance of the RIVER DOURO by the Comander Edward Belcher – H.M.S. Etna – 1833 representa a entrada da Barra e apresenta na parte superior os rochedos de Filgueira e uma vista da entrada do Douro assinalando a Torre da Marca, a Igreja dos Clérigos, o Serra Convent e o S.to António Convent.
Filgueiras considera que “Se a estilizacão do valboeiro que se destaca, à frente, lhe falseará às proporções e retira a rudeza ou agressividade das suas linhas induzindo-nos a pensar que o artista se deixou iludir pela aparência (falseada) de uma gôndola, mesmo assim, a qualidade do trabalho é muito apreciável.” (FILGUEIRAS, O. L. – Algumas Cenas e Cenários Ribeirinhos de Vila Nova de Gaia em Gravuras dos Séculos XVII a XIX – Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia – 1984)” In Blogue Do Porto e Não Só


Interessantíssima planta da entrada do Douro, possivelmente de 1832/33 aquando do cerco do Porto. Do lado de Gaia encontram-se a Bateria, Santo André (Canidelo), o Armazém da Pólvora. No Lazant ficava o lazareto onde eram recolhidos, em quarentena, os doentes a quem tinha sido recusada a entrada no Porto. Encontra-se ainda o local do Convento de S. António do Vale da Piedade, a Ponte das Barcas, Vila Nova de Gaia e a Serra do Pilar.
Do lado Norte indica-se a Light House, o farol da Senhora da Luz, St. João da Foz. Lordelo, Ouro, Monta da Rabia, Arrábida, Massarelos, a Torre da Marca. Carazedo (?) e a Agoard, na altura Aguardente e hoje Praça do Marquês do Pombal.


Bateria miguelista a que se refere a planta acima

"Esta “curiosa panorâmica, aliás única que conhecemos, obtida do lado de Gaia, observando a Foz, e intitula-se ”S. João da Foz & The Entrance of Douro From a Miguelista Batterie on the South.”” A vista apresenta-nos em primeiro plano do lado de Gaia um forte que chamaram de “Sampaio”, e que foi um das várias fortificações construídas pelas tropas de D. Miguel, com o fim de impedir o acesso à barra por embarcações com abastecimentos destinados às tropas de D. Pedro, sitiadas na cidade. Em plano mais distante aparecem-nos o Rio Douro e a sua barra. Por último temos a “Foz”, com o seu Castelo, o Farol de “S. Miguel o Anjo” e uma elevação de terreno que é o Monte da Senhora da Luz, que se tornou um elemento valiosíssimo para a causa de D. Pedro, pois ali foi instalado um telégrafo óptico e outros sinais, que tinham por fim comunicar com os barcos que lhe traziam os indispensáveis abastecimentos, os quais desembarcavam com muitos riscos, durante a noite, na praia do ingleses, esquivando-se assim aos tiros dos fortes e baterias das forças de D. Miguel. In O Tripeiro, Série V, Ano XII



Em O Tripeiro 7.ª série, Ano XVII, nº. 12, transcreve-se a descrição da viagem a Portugal do arquitecto e antiquário inglês James Murphy (1760/1814), em 1789, que, ao chegar perto da barra, relata: “Pela tarde do mesmo dia, encontrando-nos próximos da barra do Porto, fizemos o sinal habitual para nos munirmos de um piloto. Um barco com oito remadores brancos e negros não tardou a acostar. Trazia dois pilotos encartados que nos informaram, com grande pena nossa, que seríamos obrigados a ficar no mar até ao dia seguinte, tendo passado a hora de franquear a barra. No mesmo momento fomos assaltados por um vento muito forte que levantou o mar a altura de montanhas. Um dos pilotos que tinha ficado a bordo, vendo a tempestade a crescer, decidiu-se, em boa hora, na manhã do dia seguinte, por nos introduzir na barra onde várias embarcações nos vieram prestar assistência. 
A natureza impediu quase toda a comunicação entre o Porto e o mar. O canal em alguns sítios não tem mais que a largura de um barco e está tão cheio de sinuosidades que é necessário muita habilidade para o franquear com segurança, mesmo em tempo de calma. 
Depois da tempestade que suportámos, a cena redobrava ainda de perigos e exigia uma conjunção de todos os nossos esforços para vencer os obstáculos dos rochedos, os bancos de areia e as vagas que se opunham à nossa entrada. 
O Rio Douro, que chuvas contínuas tinham feito sair do seu leito, ofereceu-nos uma dificuldade acrescida, visto a velocidade (da corrente) estimada em 9 milhas por hora (cerca de 16 km/h). É mais fácil conceber que descrever a luta que se estabelece entre esta corrente e as vagas do oceano logo que as suas águas se vêm a encontrar na embocadura do rio, esforçando-se por abrir uma passagem por um canal (tão) estreito. Pelas cinco horas da tarde atravessámos este novo caribdes e, com a perda de uma só âncora chegámos de fronte de um Convento da Ordem de Santo António (Convento de Santo António do Vale da Piedade em Gaia) que se ergue a cerca de uma milha do rio. Um navio que tentou imitar o nosso exemplo ficou desfeito quase nas nossas costas. Todo seu equipamento (guarnição), felizmente se salvou ainda que com muitas dificuldades… 
A rapidez da corrente impediu-nos durante três dias de receber a visita dos oficiais da alfândega, visita antes da qual é proibido, a quem quer que seja, descer em terra, sob pena de prisão. 
Estas visitas têm uma dupla finalidade. A primeira, procurar e confiscar as mercadorias de contrabando; a segunda, examinar e indagar do estado de saúde dos passageiros. 
Pelo fim da tarde do quarto dia, três oficiais, acompanhados de um intérprete que, com um tom de autoridade ordenou a todos os que tinham tabaco e sabão que fizessem deles uma exacta declaração. Ordem à qual nos apressámos a obedecer. Mas como o nosso Capitão respeitava as leis do País, não havia permitido (já) que tivéssemos embarcado mercadorias proibidas a bordo, salvo uma pequena porção das acima referidas para nosso uso particular por isso, nada nos foi tomado. 
Devo dizer, em abono destes oficiais, que eles cumprem os seus deveres com tão grande honestidade, que a sua inspecção se assemelha mais a uma visita de amizade do que a uma busca de polícia. 
Os viajantes que já passaram pelas mãos dos oficiais da alfândega inglesa dificilmente concebem que exista honestidade entre os homens desta classe. 
Acabada a visita dos comissários esperávamos a do médico quando, encontrando-se este indisposto, nos enviou um seu representante. A primeira operação deste filho ilegítimo de Esculápio foi de ordenar a todas as pessoas da embarcação de subirem à coberta do navio, ao mesmo tempo que os observava da margem, onde se havia instalado ao vento e à distância de 200 vergas de nós. 
Depois de um ou dois lances de olho, tomou o tabaco e, empertigando a cabeça, pronunciou solenemente, a sentença seguinte: Eu, certifico que está tudo de saúde. 
Que ele devesse esses conhecimentos seja à perspicácia de seu espírito seja à dos seus órgão visuais ou que tenha pura e simplesmente adivinhado a coisa, não é menos certo que o próprio Hipócrates não teria feito um juízo melhor” 
Consideramos este testemunho notável pela sua descrição, ilustrativo das dificuldades da entrada da nossa barra e o destaque que faz à honestidade e simpatia dos oficiais da alfândega, comparando-os com os de Londres.

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