6.17 - Companhia do Gás e Companhia de Luz Eléctrica do Porto
Cais do Ouro – Companhia do gás e Central eléctrica após 1908
Companhia do gás no Ouro
Cais do Ouro e Companhia do Gás - 1904
Desenho de candeeiros de gás – 1835 – blogue Do Porto e Não Só
Praça de Carlos Alberto – o candeeiro central está no Parque da Pasteleira - Foto Alvão
Alguns destes candeeiros de gás foram posteriormente adaptados à electricidade.
Blogue Olhares
Candeeiro de interior
Companhia do gás e a central eléctrica construída ao lado em 1908
“A primeira referência à iluminação pública no Porto data de 1771. A Rua Nova, mais tarde Rua dos Ingleses, foi palco da instalação dos primeiros “lampiões” da cidade. Um requerimento, assinado pelos moradores, deu origem a um documento oficial da autarquia que mandava que “se coloquem lampiões na dita rua, sendo a conservação e costeio por conta dos moradores”. No início de 1772 procedeu-se à sua instalação.
Um artigo do «Jornal de Notícias» do início do século XX transcreveu assim o teor do documento feito pelos moradores da época: “A grande utilidade que têm os moradores das cidades onde de noute estão as ruas iluminadas, como se pratica nas melhores da Europa, é mais considerável do que se imagina; pois não somente dá gosto e livra de quedas e maos encontros a quem por elas anda, mas evita os roubos tanto às pessoas omo nas casas”.
Foi particularmente na segunda metade do século XX (será do século XIX) que se começou a aproveitar as inovações técnicas e científicas impulsionadas pela Revolução Industrial europeia.
Em 1851 «quando veio ao Porto a Rainha D. Maria II» viu-se, pela primeira vez, «o gás hydrogénio
em arco triunphal armado ao cimo da rua de São João» (in O Tripeiro, 1908), sendo a primeira experiência de iluminação a gás na cidade.
Em 1855 o gás chegava já à Rua das Hortas (actual Rua da Fábrica) à qual se seguiram as ruas de Santo António e Clérigos. Em 1892 a cidade contava já com 2607 candeeiros espalhados por várias zonas, incluindo a Batalha. A entidade encarregue do fornecimento de iluminação à cidade era a Companhia do Gás da qual os moradores se queixavam que deixava as ruas em estado lastimável após a colocação dos candeeiros. Esta argumentava com o facto de não reparar os pavimentos porque teria de os abrir novamente para instalação do gás para utilização dos particulares (em 1893 havia já cerca de mil e oitocentas candidaturas de moradores).
Os cerca de três mil candeeiros espalhados pelo centro da cidade do Porto, em 1893, por serem novidade foram protagonistas de algumas histórias curiosas. Num artigo de «O Comércio» desse mesmo ano, podia-se ler o seguinte aviso: «Previne-se um sujeito que todas as noutes apaga um dos lampeões de gaz que se abstenha de continuar com esta gracinha, se não quizer passar pelo desgosto de que seja entregue ao domínio publico o seu nome”. Texto de Marta Almeida Carvalho em Porto Pioneiro
Cais do Ouro onde era descarregado o carvão para o gás e a central eléctrica
Artur de Magalhães Basto conta que, “em 1816, se calculou quanto custariam os 800 lampeões que se consideravam necessários, assim como o custo do respectivo combustível. O orçamento do custo da iluminação pública do Porto em 1816 era proibitivo: os lampeões custariam 16 480$000 réis e consumiriam por ano cerca de 30 105$000 réis. Ora, tal despesa estava acima das posses dos seus habitantes"
A intervenção do governo só chegou em 1824 no que se refere à iluminação a azeite.
Lemos em tempos que os primeiros candeeiros foram colocados na ponte D. Maria II. Eram duas lanternas, uma em cada entrada, acesas nas noites escuras. Nas de lua cheia nem pensar. Os raros transeuntes nocturnos levavam a sua lanterna ou, se era rico, levava criados para lhe iluminar o caminho. Não havendo iluminação pública era perigoso andar de noite.
Lemos em tempos que os primeiros candeeiros foram colocados na ponte D. Maria II. Eram duas lanternas, uma em cada entrada, acesas nas noites escuras. Nas de lua cheia nem pensar. Os raros transeuntes nocturnos levavam a sua lanterna ou, se era rico, levava criados para lhe iluminar o caminho. Não havendo iluminação pública era perigoso andar de noite.
Esquinas da Praça Almeida Garrett, Rua de Santo António e Rua de Sá da Bandeira – foto Alvão
A História do Porto, coordenada por Luis A. Oliveira Ramos, afirma que o gás “começa a cobrir a cidade a partir de 1855. Em 1862 há 1157 candeeiros públicos, e no ano seguinte 1373”. Em 1890 eram mais de 2500 e em 1900 mais de 3500.
Entretanto, começou o fornecimento de gás a particulares. Em casa de meus avós a sala de jantar tinha um grande candeeiro central com 8 bicos de gás e 4 belíssimos candeeiros de parede com o mesmo desenho.
Condições para iluminação a gás no Porto – 1853 – In blogue A Porta Nobre
Subsídios para a história de electrificação portuguesa – Engº. Francisco de Almeida e Sousa
. Estado de abandono em que se encontra o local onde esteve a Fábrica do Gás.
Candeeiro no Terreiro da Sé - foi iluminado a gás e mais tarde electrificado
Em 1886 foi introduzida a luz eléctrica no Porto. Uma pequena central situava-se no pátio das traseiras do edifício do Ateneu Comercial do Porto e fornecia uma restrita zona das ruas de 31 de Janeiro, Clérigos, Praça da Liberdade e Santa Catarina. Só em 1908 se construiu a central eléctrica do Ouro que foi substituindo a iluminação a gás por eléctrica.
Praça Almeida Garrett – este candeeiro foi iluminado a gás e posteriormente electrificado – foto de Armando Tavares
“Tal como aconteceu em Lisboa, também no Porto, na década de oitenta, realizaram-se algumas demonstrações da nova fonte de luz, como sucedeu em Outubro de 1885, na comemoração do regresso de Ivens e Capelo da sua expedição à África Austral. Na Rua Passos Manuel são colocadas duas lâmpadas eléctricas.
Avenida dos Aliados – foto Alvão
No Diário de Notícias de 24 de Maio de 1887, são publicados os estatutos de Companhia de Luz Eléctrica do Porto, anunciando-se os seus objectivos: «realizar a compra da fábrica que possui a empresa de iluminação a luz eléctrica, com sede naquela cidade, explorar a dita fábrica e dar o maior desenvolvimento ao fabrico de luz eléctrica em todas as cidades do reino[…]. A 12 de Junho do ano seguinte, o mesmo periódico publicitava que a Companhia dava início aos trabalhos de assentamento de cabos subterrâneos para fornecimento da luz eléctrica à cidade. Esta rede era, no entanto,restrita quer porque abrangia apenas uma parte da cidade, quer porque se destinava unicamente ao consumo privado já que a iluminação pública estava contratada com a Companhia do Gás do Porto. Só em 1908, com a constituição da Sociedade de Energia Eléctrica do Porto e com a construção da Central do Ouro, a iluminação pública passa a ser feita a electricidade e se amplia a rede de distribuição desta fonte de energia e iluminação aos particulares. A iluminação da estação de S. Bento, no Porto, inaugurada em 1916, é descrita pela Ilustração Portuguesa da seguinte forma: «A iluminação que é a jorros de luz eléctrica, faz sobressair esse trabalho brilhante [os painéis de azulejos que revestem as paredes interiores, pintados por Colaço], que devem causar a admiração de todos os apreciadores de coisas de arte que por ali transitem.» Em pouco mais de um século o consumo de electricidade na IP teve um acréscimo considerável.
O que hoje se considera como um bem a que todos os locais têm direito, muitas vezes sem tomar em atenção o excesso de consumo, era há cerca de cem anos uma “coisa” inovadora que merecia a atenção e admiração de toda a gente.
Do exposto, pode-se também constatar que o consumo de electricidade na IP teve um entrave, em Lisboa e no Porto, motivado pelos contratos já existentes entre estes municípios e as empresas de gás instaladas. Por este motivo cidades como Braga e Vila Real, devido à ausência de um contrato com empresas de gás desenvolveram as suas redes de IP a electricidade mais rapidamente que Lisboa e Porto.
Esta justificação aplica-se também ao consumo verificado pelas entidades privadas, em que, devido à inexistência de contratos com empresas distribuidores de gás, puderam experimentar a “fada” electricidade primeiramente que o resto do público em geral.
Avenida dos Aliados - anos 40
A iluminação dos teatros foi um dos campos em que a electricidade encontrou vasta aplicação, o que se liga com os inconvenientes da iluminação a gás, entre os quais se contavam a insalubridade do ar e os incêndios. O incêndio do teatro Baquet, no Porto, a 29 de Março de 1888, no qual morreram mais de 100 pessoas, foi decisivo, pelo impacto que teve na opinião pública portuguesa, para a introdução da luz eléctrica nestes espaços. No final do século algumas sociedades culturais e comerciais passaram a ser iluminadas a electricidade. Foi o caso, por exemplo, do Ateneu Comercial do Porto. Também por esta altura a Associação Comercial do Porto, sedeada no Palácio da Bolsa, passou a ser iluminada por 40 lâmpadas de incandescência e 24 lâmpadas de arco voltaico, cuja electricidade era produzida por um dínamo.
A iluminação da estação de S. Bento, no Porto, inaugurada em 1916, é descrita pela Ilustração Portuguesa da seguinte forma: «A iluminação que é a jorros de luz eléctrica, faz sobressair esse trabalho brilhante [os painéis de azulejos que revestem as paredes interiores, pintados por Colaço], que devem causar a admiração de todos os apreciadores de coisas de arte que por ali transitem.» Texto de Catarina Branco Leite da Silva - UP
Candeeiros antigos de interior – possivelmente já foram a gás
Que linda era a Avenida dos Aliados !
ResponderEliminarQue saudades dos canteiros, dos belos candeeiros, dos desenhos no chão, dos bancos cheios de pessoas a desfrutar o Sol e as flores, dos idosos a apanhar ar fresco e a jogar as cartas ou a dar de comer às pombas, das crianças a correr muito alegres... Na actual eira as pessoas andam sem ver, pensam nos seus problemas, estão tristes...
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