3.5.8 - Foz do Douro e praias - I
Planta da Foz do Douro – Telles Ferreira - 1892
Forte de S. João Baptista da Foz do Douro – sobre este forte trataremos com mais pormenor em local próprio.
Praia do Ourigo – 1900 - esta praia chamou-se, durante pouco tempo, de D. Manuel II.
Dia da festa de S. Bartolomeu de 1920 - às riscas, a casa dos banhos frios e quentes, há pouco desaparecida.
Praia do Caneiro – foto de Emílio Biel
Em O Tripeiro, Série VI, Ano X, a D. Albertina Marinho dos Santos, descreve memórias dos primeiros anos do passado século: “Naquele tempo as pessoas antes de iniciar a época balnear, iam primeiro ao médico para se certificar do seu estado de saúde, isto é, se estavam em condições de poder tomar banhos de mar. Os médicos eram todos unânimes em receitar, antes de mais, um laxativo, que geralmente era óleo de rícino, um dia de cama com grande dieta e, obrigava a estar 8 dias em casa para não apanhar ar nem sol. Era assim que procediam os médicos tais como o Dr. Caldas, Dr. Forbes Costa, Dr. Maia Mendes, etc… Passados 15 dias já se podia, então, ir tomar banhos de mar. Para tomar o banho, as senhoras vestiam os seus fatos de banho, compostos de calças até aos tornozelos e um vestido até abaixo do joelho e meia manga. Os homens com calças até ao joelho e umas blusas. Os fatos de banho, tanto das senhoras como dos homens, eram pretos e guarnecidos de fitas brancas.”.
Praia do Ourigo – Claudino Banheiro – era o dono dos banhos quentes da Foz. - Em primeiro plano os “Robertos”.
Quando adolescentes divertíamo-nos muito com estes "dramas". Vozes aflautadas e muita “porrada”!!! Os protagonistas habituais eram o barbeiro, o cliente, o polícia, o toureiro... – foto do blog Onde fica isto?
"Robertos" de Rui Sousa - foto de Filipa Mesquita - Palácio de Cristal - 2010
Acerca deste tipo de espectáculo já em 1909 havia um “explorador” que, em frente ao Hospital de Santo António exibia uns bonecos “miseravelmente vestidos, como o seu dono, aos quais os seus admiradores dão o nome de fantoches. Desenvolvem cenas de disparatado contexto nas quais sobressai a bordoada com moca de mais avantajada altura que o seu manejador, tudo acompanhado dum palavreado tosco e baixo” Este portuense não os apreciava e criticava a polícia por não agir pois o aglomerado de público impedia o trânsito de funcionar. Era uma excelente ocasião para os "prestidigitadores" escamotearem os bolsos dos distraídos.
Mas a verdade é que a criançada aderia com grande alegria e espontâneas gargalhadas aos “dramas” a que assistia.
Praia de Carreiros – 1907 – ao fundo o rochedo Gilreu.
Veraneantes em dia de festa – Foto de Aurélio Paz dos Reis - 1908
Praia dos Ingleses - foto de Alfredo Vilela
Venda de melancias – ao fundo o farol de Felgueiras
Esplanada do Castelo – lado nascente – ao fundo a Igreja de S. João da Foz
Esplanada do Castelo – foto Emílio Biel
“Existia nos nºs. 34 e 35 desta esplanada, entre o final do séc. XIX e as primeiras décadas do séc. XX, uma celebre farmácia denominada Amorim, do boticário Francisco José de Amorim. O serviço de atendimento ao público era permanente, o nº. de telefone era o 1 e era uma “…casa seriíssima, de toda a confiança d’onde não sáe um medicamento sem ser inspeccionado pelo proprietário”. In O Tripeiro Série 7, Ano 20.
No livro Recordando o Velho Porto, do brigadeiro Nunes da Ponte (Porto, 1963) pode ler-se:
“No início do séc. XX, na Foz do Douro, um grupo de amigos tinha por hábito juntar-se à porta da Farmácia Amorim, situada na esplanada do Castelo, frente ao Castelo da Foz, todos os dias ao fim da tarde.
Era proprietário da farmácia Francisco José de Amorim, que a dirigia, auxiliado pelo técnico ajudante de apelido Pereira. Destas reuniões nasceu uma agremiação com o nome de Clube Rigollot. De entre as várias personalidades que compunham o grupo, destacou-se o barão de Paçô Vieira, de nome José Joaquim de Sousa de Barros Coelho Vieira, juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, presidente do Tribunal da Relação do Porto, fidalgo cavaleiro da Casa real e comendador das ordens de Cristo e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, que terá sido elevado ao "alto" cargo de presidente da direcção do Rigollot por aclamação. Todas as tardes ali se juntava, junto à farmácia, o grupo de associados em vivos e acesos colóquios que por vezes se prolongavam pela noite dentro, nos quais não entrava política partidária mas se discutiam com calor e entusiasmo assuntos de vária ordem. O nome do clube foi adoptado para homenagem à memória de um benemérito de nome João Paulo Rigollot. Por esta sociedade intelectual, que se tornou famosa por toda a cidade, passaram vários vultos da política, das letras, das ciências, antigos ministros, governadores civis, professores, juízes, banqueiros, etc., que no mais ameno convívio, em conversa tolerante e variada, agradavelmente passavam as tardes. Um dos frequentadores do clube e seu associado foi Francisco Ramalho Ortigão, sobrinho do escritor com o mesmo apelido, homem muito activo e empreendedor que, diga-se a título de curiosidade, chegou a montar nos jardins da sua residência, na rua Alto de Vila, uma fábrica de tapetes. Não terá durado muitos anos esta agremiação. Em Dezembro de 1952, o brigadeiro Nunes da Ponte escreveu na revista O Tripeiro, V série, que nenhum dos sócios do clube Rigollot pertencia "ao número dos vivos".
O barão de Paçô Vieira, muito referenciado em várias iniciativas da Foz de outrora, vivia na rua do Passeio Alegre, numa casa que ainda existe, na esquina com a rua de acesso à Igreja da Foz (lado esquerdo).
Castelo de S. João da Foz e Esplanada do Castelo – o eléctrico, bem me lembro, ainda passava num fosso entre eles, nos anos 40 do séc. XX.
Cine Foz - Inaugurado no princípio do séc. XX, fechou em 1958. Nos anos 40 passei muitas vezes por esta esplanada, já bastante diferente da foto acima. Fui várias vezes ao Cine Foz não só para ver cinema, era raro, mas para assistir a festas e encontros do Colégio Brotero que aí se realizavam. Já se encontrava bastante deteriorado e com poucas exibições, salvo no Verão. Recordo-me muito bem de dois colegas mais velhos, Peter Eizel e Fernando de Azevedo que eram excelentes pianistas. A professora de piano vivia no Passeio Alegre, na casa onde hoje é o Twins e chamava-se Maria Amélia Vilar.
Hotel da Boa- Vista – inícios séc. XX
Hotel Boa-Vista – Esplanada do Castelo – foi fundado em 1835 e era, nos anos 60 e 70 do séc. XIX um dos locais mais frequentados pelos banhistas, em alegre cavaqueira. Tinha bilhares que atraíam muitos clientes.
Esplanada do Castelo actualmente.
Char-a bancs
Electrico com dois atrelados, no Passeio Alegre
Nos fins do século XIX a Foz era completamente diferente no Inverno ou no Verão. Quando começava a época dos banhos muitas famílias de posses tinham aí a sua casa de praia ou alugavam uma para esse tempo. Quem não podia dar-se a esse luxo, deslocava-se de barco, de carroção, de burro ou mesmo a pé, desde a cidade até às praias. Mais tarde apareceu o Americano e depois o eléctrico.
Interessante era a grande movimentação de carros de bois e carroças provocada pelo transporte de móveis, baús, colchões, cadeiras, tinas, cestos e todo um número de objectos para mobilar as casas. Ia também o cão e o gato de estimação. Esta movimentação era mais acentuada no fim da estação, quando as famílias retiravam para a cidade. Os carros vinham apinhados e fazendo equilíbrios inauditos. A família que vinha de muitas terras do Norte, especialmente do Porto, trazia quase tudo para esses meses de veraneio. Ainda somos do tempo, anos 40, em que a nossa grande família alugava uma casa na Rua de Gondarém e transportava grande parte dos pertences, pois pouco lá havia. Claro que já o fazia em camionete e não em carros de bois. Mas dava sempre um trabalhão à nossa mãe a direcção desta muda, para 2 meses.
O aluguer da casa era um negócio importante, que equilibrava o orçamento anual da família residente, que habitualmente a abandonava e ia morar numa pequena casota ou garagem.
Algumas famílias tinham casa permanente na Foz, mas só as mais ricas, que tinham a sua morada na cidade ou longe do Porto.
Os moradores chamavam “S. João da Foz do Douro”, no Inverno e somente “Foz”, no Verão.
Com alguma tristeza, mas certamente também com alívio, os habitantes diziam “A Foz está a ficar deserta!” ou “acabou a Foz!”. Eram os pilotos, os pescadores com suas famílias, e poucos mais de outras profissões. Voltava a ser um lugar sossegado, sem música no coreto do Passeio Alegre, sem movimento de carros, dos passeios na praia, do barulho dos aglomerados.
Claro que, para eles, o verão era importante pelo muito que os banhistas aí gastavam.
Boa tarde,
ResponderEliminarDesde já agradeço a descrição sobre a Foz do Douro no século XIX.
Muito interessante.
Por motivos profissionais, necessitava de mais informações ou fotografias da Rua do Passeio Alegre em meados de 1865. Sabe onde poderei encontrar?
Obrigada!
Marta Cunha
mcunha@ldc.pt
Boa noite.
ResponderEliminarNa imagem legendada como vapor "Duriense", julgo tratar-se do vapor de rodas "Porto", naufragado na barra em 1852.
Quanto ao electrico com dois atrelados, significa que se encontra um navio de passageiros em Leixões. O electrico propriamente dito e o primeiro atrelado transportavam passageiros, enquanto o terceiro atrelado servia para o transporte das bagagens.
Cumprimentos,
Reinaldo Delgado
Alguém tem uma foto do posto de abastecimento de gasolina do Passeio Alegre, Foz do Douro, nos anos 50, com bomba manual e 2 vasos de vidro onde se via a gasolina subir e descer para o automóvel?
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