3.5.8 - Foz do Douro e praias - V
Molhe de Felgueiras – foto de Aurélio Paz dos Reis – fins séc. XIX, princípios do XX
O rochedo Gilreu
Colónia de férias de crianças do Internato Municipal - 1946
Supomos ser a praia dos ingleses, pois ao longe pode ver-se o Molhe de Carreiros – Em primeiro plano jovens de uma colónia balnear – pela multidão e decoração festiva deve ser pelo S. Bartolomeu – anos 40 do séc. XX?
A festa de S. Bartolomeu, à qual já antes nos referimos, é em 24 de Agosto. O povo tem o antigo costume de ir à praia tomar o miraculoso banho santo ou dos sete mergulhos. “José Leite de Vasconcelos assistiu em 1880, em Matosinhos, a esta tradição popular. Assim a descreve: “…na véspera à noite e no dia de manhã, chegavam bandos de gente do campo, tocando viola, dançando e cantando. Em seguida dirigiam-se ao mar a banharem-se… e os aldeãos tímidos, procuravam sobre os afagos do luar, os penhascos mais recatados, onde chegasse a maré, para aí se libertarem das vestes domingueiras, e, com o corpinho em “leitão” darem os sete mergulhos virtuosos. Eis algumas rimas a S. Bartolomeu, recolhidas no concelho de Matosinhos, quando os foliões ao som das banzas e das tocatas se dirigiam para o amplo cenário da beira mar:
Esta viola é minha
Este pandeiro é meu
Este pandeiro é meu
Este bandinho de moças
Vai p’ró S. Bartolomeu.
Ó vida da minha vida
Adeus, adeus vou p’ró mar;
Eu venho muito suado
“Em baixo, perpendicularmente ao litoral, tal como hoje, dispunham-se em fileiras as barracas. Nos topos desses arruamentos os banheiros hasteavam bandeiras, em que estavam escritos os seus nomes: Maria da Luz; Paulino; Leão; etc.
O movimento dos banhos começava mal as estrelas se apagavam no céu. Quem aparecia primeiro na praia, ainda imersa na penumbra da manhã e coberta de neblina, eram os aldeões de Cima do Douro.
Estes banhistas iam para a água com indumentária bastante reduzida; por isso se escondiam eles, o mais possível, entre os penedos. As mulheres vestiam uma simples camisa; os homens nada mais que as famosos ceroulas de atilhos! No fim do banho agasalhavam-se muito; embrulhavam-se o mais que podiam em grossos xailes. Os homens atavam lenços de mulher em volta do pescoço; e só os tiravam passadas muitas horas. Às sete da manhã estavam banhados e almoçados. Entretinham-se conversando uns com os outros, ou ouvindo tocar os cegos que costumavam estacionar junto à Fonte de Cadouços.
A maior parte das famílias que vinham passar o Verão à Foz, começava a preparar-se para sair para o banho às 5 ou 6 da manhã. Pouco depois começavam a chegar os carroções, os jericos, as sege, os caleches, os barcos com os banhistas do Porto. Enchia-se a praia de animação e de gente… Quem arranjava barraca tratava-se de se despir; os outros, enquanto esperavam, passeavam pela beira do mar, saltavam pelos rochedos, conversavam, etc.
Ainda se não tinham inventado os maillots. Se uma senhora daqueles tempo pudesse ver a praia do Molhe à hora do banho, desmaiava horrorizada… se não morresse outra vez. A moral e a polícia de então mandavam que se fosse para a água ainda mais vestido do que se andava em terra.
Em regra os fatos eram feitos de baeta grossa, azul ou preta: os dos homens constavam de camisola de mangas e calças compridas; os das senhoras eram vestidas de cauda… tanto as senhoras como os homens levam calçados sapatos de ourelo". Artur de Magalhães Basto – A Foz há 70 anos – Conferência pronunciada no Colégio Brotero na noite de 26/6/1936.
“" Como ainda hoje, segundo suponho, a Foz recebia cada ano dois turnos de banhistas. O primeiro chegava em Agosto e retirava no fim de Setembro ou começos de Outubro. O segundo vinha apenas depois das colheitas. Aquele era constituído por gentes do Porto; este por lavradores, gente de Cima do Douro.
Há setenta e oitenta anos (década de 60 do séc. XIX) aqui não havia muito em que passar o tempo. Tomava-se banho, comia-se, passeava-se, dormia-se, jogavam-se cartas ou bilhar na Assembleia da Rua dos Banhos.
Comia-se muito – naturalmente por não haver mais nada que fazer.
Ora ouçam o programa: (segundo Ramalho Ortigão)
"De manhã, depois do banho, às 8 horas (o banho tomava-se aí pelas 6 ou 7!) almoçava-se café com leite e pão com manteiga…Ao meio dia jantava-se. Às Avé Marias… tomava-se chá com pão de Vilar (não confundir com Vilares, os da confeitaria) e biscoitos de Avintes.
Vinha depois o serão: uns costuravam, outros liam...outros jogavam o voltarete; os pobres estudantes de Latim tiravam os seus significados de Tito Lívio e adormeciam – sendo cônsules Márcio Túlio e Públio Vitélio – às oito horas e meia, quando os tambores e as cornetas do Castelo tocavam a recolher, comia-se peixe cozido, bifes, esparregado, enormes quantidades de melão; procedia-se à operação de ir cada um para o seu quarto queimar os mosquitos; e todos se deitavam em seguida".
Uma vida deliciosa! Tranquila! Bem-aventurada! Sem imprevistos, preocupações ou cuidados. O único cuidado que havia era o de digerir o melão!”"
Casas de Carreiros, depois Avenida Brasil – eram do séc. XIX – A casa de telhado triangular por baixo do farol, pertencia a Engº. José Joaquim da Costa Lima, que foi Director do IVP e Governador Civil do Porto. Foto do blog Foi Assim…
Carreiros – de notar, nas 3 fotos acima, as diferenças nas linhas do eléctricos: Nesta, de baixo, perto da Rua do Crasto, existem duas linhas juntas do passeio do lado do mar; na foto acima já só existe uma linha e a afastar-se deste passeio; na primeira, a linha já vai perto das casas. Mostra que, antes da Rua da Senhora da Luz, as duas linhas se uniam, pois a rua é estreita.
Carreiros – 1909? – eléctrico com dois atrelados – linha 1 que começava na Praça do Infante D. Henrique e terminava em Matosinhos.
Camões – busto de Irene Vilar – encontra-se na Avenida Brasil perto da Praia dos Ingleses.
Avenida Brasil em frente à Praia do Molhe – antes de 1930.
Foi nos anos 20 do passado século que a velha estrada de Carreiros foi regularizada e nasceu uma larga avenida que fez nascer as Avenidas Brasil e Montevideu.
Avenida Brasil perto da Rua do Crasto – Vê-se o prédio Belo Horizonte e a estação de serviço – anos 60 séc. XX - pertencia à família Rocha Brito.
Casa do Relógio
A Casa do Relógio – Avenida Brasil – fotos e texto de M. Branco Ferreira
A casa do Relógio foi construída em 1907 por Artur Jorge Guimarães, sob projecto de Teixeira Lopes. O seu estilo “Manuelino” levantou uma certa celeuma na cidade. O nome advém-lhe do facto de ter um relógio de Sol numa das fachadas. Lembramo-nos de, após o 25 de Abril, viver lá um sapateiro. Hoje esta casa está na maior degradação, como se pode ver nas fotos do site indicado.
O Salva Vidas – 1937 - Henrique Moreira (1890-1979)
Praia do Molhe, Av. Brasil e Montevideu, Rua Gondarém -
Foto tirada entre 1931 e 1937 – Já tem a pérgola e ainda não tem o salva-vidas de Henrique Moreira.
Avenida Brasil, pérgola e praia do Molhe
60 anos depois
Mar e Avenida Brasil
Onde se vê a multidão da festa de S. Bartolomeu é a Praia do Ourigo.
ResponderEliminarA praia dos Ingleses fica depois da curva (a seguir à Praia das Bruxas), e nunca se festejou lá o S. Bartolomeu.
Quando aqui referimos a Praia dos Ingleses não dizemos que é nesta que o povo o festeja, mas somente que a decoração poderá ser pelo S. Bartolomeu. Poderá verificar que no lançamento de 2/10/2013, em que tratámos desta festa não dizemos que é lá. Claro que a decoração festiva poderá ser noutra data.
EliminarGostaria de assinalar um lapso numa das datas da legenda do Salva Vidas: ...1979 (e não 1970). Cumprimentos.
ResponderEliminarMaria do Rosário
Muito obrigado pela correcção. Vamos corrigir.
ResponderEliminarMaria José e Rui Cunha