sexta-feira, 20 de junho de 2014

IGREJAS PAROQUIAIS EM 1788 - I

3.11.6 - Igreja de S. Nicolau




Igreja de S. Nicolau – desenho do Barão de Forrester – ainda se vêm as sepulturas dentro da igreja.


Desde o séc. XIII existiu uma pequena ermida que se tornou muito exígua para o funcionamento culto. Foi demolida e substituída pela primitiva Igreja de S. Nicolau, construída entre 1671, no tempo do Bispo do Porto D. Nicolau Monteiro, tendo a sua inauguração solene ocorrido a 6 de Setembro de 1676, presidida pelo Bispo D. Fernando Correia de Lacerda. Nestes cinco anos a paróquia teve a sua sede na Igreja de S. Francisco.
Foi destruída por um incêndio em 12 de Agosto de 1758. Os paroquianos edificaram a actual em 1762. A frontaria foi coberta de azulejos em 1861. 


S. Nicolau


Foto de TAF

Nesta igreja havia (ainda há?) um crucifixo que saía em procissão consoante era precisa chuva ou Sol.


Como ARC escreve o corpo de S. Vicente foi aqui depositado, com manifestações de grande pompa e circunstância, vindo de Roma, em 21 de Dezembro de 1785.


O historiador Sousa Viterbo, nascido na freguesia de S. Nicolau (1845/1910), escreve que ficou muito surpreendido com a afirmação de ARC referente ao corpo de S. Vicente estar na Igreja de S. Nicolau. Isto porque era do seu conhecimento que, no tempo de D. Manuel, os ossos deste santo teriam sido depositados numa caixa de pedra e embutidos numa parede da Capela do mesmo santo, na Sé de Lisboa. Tão bem terão sido escondidos que, durante muito tempo, foram considerados desaparecidos. Porém, mais tarde foram descobertos, colocados num cofre de prata e colocados num altar próprio. Quando se deu o terramoto de 1755 as ossadas foram queimadas e o que se encontrou foi recolocado na Sé de Lisboa. 
Perante a leitura do livro de ARC, Sousa Viterbo confessa que a sua convicção ficou muito abalada. Perguntava-se se teria havido mais que um mártir S. Vicente… Se um só existe no registo dos santos, o historiador considera-se incompetente para resolver este mistério. O mais curioso é que também na Sé do Porto existe um braço deste mesmo santo, segundo informa João Baptista de Castro na Relação das Relíquias do seu Mapa de Portugal. 
Faz lembrar aquele sacristão que, mostrando as curiosidades da sua igreja, diz ao visitante que um certo relicário contém a cabeça de um certo santo. Este replica-lhe que já a viu noutro local. Sem pestanejar o sacristão retorquiu que a outra era do santo quando era novo e que esta é do mesmo quando era velho! 
Sousa Viterbo também afirma que em 1 de Maio de 1752 foi depositada nesta igreja o corpo do mártir Santo Inocêncio, por especial oferta do prelado D. Tomás de Almeida, mais tarde elevado a primeiro Patriarca de Lisboa. Esta cerimónia teve grande pompa e circunstância, com a presença do bispo e todas as autoridades de cidade, Irmandades, Clero. Nobreza e acompanhada por festas em todas as freguesias do Porto.

Pinho Leal descreve, em 1875,a festa de S. Nicolau da forma seguinte:



Igreja de Nossa Senhora da Victória

mar


A Freguesia da Victória foi criada em 1583 juntamente com S. Nicolau e S. João de Belomonte (que só existiu 9 anos, tendo o seu território sido repartido entre as outras duas). O seu nome está envolvido em lendas. Pinho Leal, no seu livro Portugal Antigo e Moderno refere que : “Dizem uns que a origem de Rio Tinto, Campanhã, Batalha, e Victória proveio de um grande combate ferido, entre mouros e cristãos em volta da cidade, e que os títulos supra comemoram os triunfos alcançados nessas sanguinolentas batalhas, e os outros dizem que o título de Victória provém da conversão de grande parte dos judeus que viviam na judiaria do Porto, em volta do local onde se erigiu a igreja que simbolizava uma conquista moral, não um triunfo guerreiro”.


Igreja, largo da Bataria e, ao longe, Gaia


Portão lateral

Segundo Horácio Marçal, quando foi instituída a freguesia de Nossa Senhora da Victória em 1583, já existia uma pequena capela ou ermida no local da actual igreja. 
Em 1604 os frades do Convento de S. João Novo altearam, alargaram e construíram um Altar-Mor nessa capela e em troca foi-lhes entregue a Igreja Paroquial de S. João de Belmonte.
“Os serviços da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, instituída pelo Bispo D. Frei Marcos de Lisboa (1581-1591), foram transferidos em 1755 para a Capela de S. José das Taipas. Esta decisão ficou a dever-se ao estado de degradação em que se encontrava a igreja, carenciada de uma remodelação profunda. As obras tiveram início em 1758 por determinação do Bispo D. Frei António de Sousa (1758-1766) e o templo, reconstruído quase na íntegra, foi inaugurado no dia 5 de Agosto de 1769”. Site da UP


Brasão na frontaria – brasão dos Sousa Arronches, usado pelo Bispo D. Frei António de Sousa.


Largo da Bataria – antiga casa com janelas em ogiva.


Vista do Sul – Igreja da Victória e Largo da Bataria - junto à palmeira da esquerda pode ver-se uma bala na parede, disparada durante o cerco do Porto (1832/33). Na porta lateral existe uma inscrição alusiva a esta bala. Durante o cerco a igreja ficou muito arruinada, pelo que passaram os serviços religiosos para o Mosteiro de S. Bento da Victória de 1832 até ao fim da reconstrução, em 1852.


Rua de S. Bento da Victória – no séc. XVI o beneditino Pereira de Novais afirma que “a Rua de S. Miguel principia na Porta do Olival e termina junto da Igreja de Nossa Senhora da Victória.” Mais tarde, por volta de 1743, é que se passou a chamar Rua de S. Bento da Victória. A rua em frente à Igreja continuou a chamar-se S. Miguel, que era já o seu antigo nome.


Igreja da Victória – Altar-Mor



Altar de Nª. Sª. da Victória

Em 1874 um incêndio destruiu parte da igreja e o altar de Nossa Senhora da Victória, mas o povo rapidamente a reconstruiu, tendo aí colocado uma imagem do grande escultor portuense Soares dos Reis.



"A escultura da Senhora da Vitória que se encontra colocada num altar lateral não apresenta a cabeça original, moldada pelo mestre Soares dos Reis, que terá usado como modelo a própria mãe. A humanidade da imagem desagradou à confraria encomendadora da obra, que a substituiu por uma obra menor, executada por um canteiro. No entanto, o trabalho primitivo foi salvo pela intervenção do Padre Agostinho Jardim e hoje pode ser vista mediante autorização”. Site da U. P.


Órgão e coro - Foto de José Pedro Gomes

"Este templo barroco situa-se na confluência da Rua de S. Bento da Vitória com a Rua da Bataria da Vitória. O topónimo "Bataria da Vitória" remete para uma bateria liberal que actuou durante o Cerco do Porto e que dirigia o seu tiro sobre os pontos miguelistas na margem sul do rio Douro (S. V. Coelho, 1994). Ainda se conserva uma bala na parede lateral, junto à porta Sul. Voltada para uma área murada, a igreja funciona como um excelente miradouro de onde se avistam os centros históricos do Porto e de Vila Nova de Gaia. 
No interior da igreja sobressaem vários elementos artísticos. Desde logo, a arte da talha da autoria de artistas do rococó portuense: Francisco Pereira Campanhã, autor do retábulo-mor (datado de 1765 e alterado pelo seu filho, o entalhador Damião Pereira de Azevedo, em 1780) e José Teixeira Guimarães, responsável pelos púlpitos, pelos retábulos laterais (1772-1773) e pela sanefa do arco cruzeiro. Lugar de destaque é ocupado pela tela do altar-mor, do pintor João Glama Stroberle (1708-1792) e por uma imagem da autoria do escultor António Soares dos Reis ambas alusivas à padroeira".

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