domingo, 1 de junho de 2014

SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DO PORTO - III

3.11.4 - Santa Casa da Misericórdia do Porto - III


No tempo de D. Sancho I foi criada no Porto uma albergaria (designação atribuída na época aos hospitais) na qual se dava assistência a doentes e necessitados. Tal foi a importância deste hospital que, em 1521, D. Manuel I anexou-o à Santa Casa da Misericórdia do Porto. A designação do hospital variou ao longo dos tempos. Começou por ser de Santa Maria do Rochedo, mais tarde de Rocamador e,


 Desenho de Luis de Pina


...a partir de finais do séc. XVI, acabou por adoptar o nome de D. Lopo, pelos avultados bens que o clérigo Lopo de Almeida legou à instituição quando faleceu em 1584. Tais verbas permitiram a reconstrução e alargamento do antigo Rocamador, construindo-se uma nova ala com frente para a rua das Flores.


Segundo Artur de Magalhães Basto, este claustro pertenceu ao Hospital D. Lopo.

“Na segunda metade de setecentos, o Hospital de D. Lopo já não era suficiente para recolher os doentes que, de toda a cidade e arredores, a ele acorriam". Site da S.C.M.P. 


Em 1769, o arquitecto inglês John Carr conclui o projecto do novo Hospital Real de Santo António, encomendado pela Mesa da Misericórdia. No ano seguinte, a 15 de Julho, foi benzida e lançada a primeira pedra. O projecto não chegou a executar-se sequer em metade, pois era de uma grandiosidade extraordinária. 


Hospital de Santo António – desenho de Joaquim Villanova – 1833 

Em 1799 estava terminado o corpo sul, que foi ocupado por 150 mulheres doentes provenientes do Hospital de D. Lopo.
Nesta época, além do Hospital de Santo António, a Misericórdia tinha à sua responsabilidade:
- Hospital de D. Lopo, na Rua das Flores;
- Hospital dos Entrevados, em Cimo de Vila;
- Hospital das Entrevadas, junto à igreja de Santo Ildefonso;
- Lázaros e Lázaras, no Campo de São Lázaro;
- Hospício das Velhas de Santa Clara;
- Recolhimento de Órfãs de Nossa Senhora da Esperança.


A Santa Casa assumia o encargo de zelar pelas crianças expostas na Roda, situada na Rua dos Caldeireiros e depois mudada para o lado Sul da Cordoaria, prestava dotações à orfandade e à viuvez e socorria, com médicos, enfermeiros e remédios, os presos da Cadeia Civil do Porto que, também, recebiam assistência religiosa. Anualmente, a Misericórdia cuidava gratuitamente mais de mil doentes, amortalhava e dava enterro cristão a mais de quatrocentos defuntos.


No século XIX, outros estabelecimentos vieram enriquecer a obra assistencial da Santa Casa. Foram fundados graças à benemerência dos brasileiros de torna-viagem:
- Estabelecimento Humanitário do Barão de Nova Sintra, legado em 1871 pelo seu fundador, José Joaquim Leite Guimarães;
- Hospital de Alienados do Conde de Ferreira, inaugurado em 1883, graças ao legado de Joaquim Ferreira dos Santos;
- Instituto para Surdos-Mudos Araújo Porto, inaugurado em 1893, criado com o legado de José Rodrigues de Araújo Porto .

No início do século XX foi inaugurado o Asilo de Cegos de São Manuel (1904), para asilo e ensino de rapazes cegos, e o Hospital de Convalescentes D. Francisco de Noronha e Menezes (1906).


Destinado a combater a tuberculose, o Sanatório-Hospital Rodrigues Semide foi criado em 1926 com o legado do benemérito Manuel José Rodrigues Semide. 
Anos mais tarde, em 1938, fundou-se o Lar Pereira de Lima, estabelecimento destinado a acolher adultos cegos”.

Antes de ilustrarmos Hospital Novo de Santo António, passemos a palavra a ARC sobre o mesmo:



Foi edificado em terrenos do Casal do Robalo.


Projecto da capela a construir no pátio interior do Hospital de Santo António.


Hospital de Santo António – desenho de Joaquim Villanova – 1833


O primeiro posto oficial de meteorologia do país foi criado no telhado do Hospital de Santo António, em 1853. Estava ligado à Escola Médica, que lhe ficava por baixo, e era considerado a que melhores instalações possuía e o melhor apetrechado para esse fim em Portugal.


Hospital de Santo António – pátio interior em construção –foto Frederick Flower 


Séc. XIX – ainda não tinha as linhas do Americano – 1878 - o hospital ficava em plano superior à Rua da Restauração


A Santa Casa da Misericórdia encarregou-se, desde a sua fundação, de proceder à acção caritativa do enterramento dos mortos na forca, dos falecidos nas cadeias e sem família, dos encontrados mortos nas ruas e dos afastados da Fé. Usava um campo, onde foi construída a Igreja e Torre dos Clérigos, e no qual colocou um cruzeiro de madeira da invocação do Senhor dos Aflitos sempre acompanhado por uma lamparina acesa.
Este terreno, onde se construíram o hospital e a Torre era chamado o Campo das Malvas ou largo dos Enforcados, ia até ao Largo do Olival. Tinha este nome porque era o cemitério dos justiçados, pelo que deu origem às locuções do povo – "ir p'ras malvas", "estás aqui, estás nas malvas" a pessoas com aspecto doente ou moribundo ou ainda como insulto. Deu também origem á canção popular: 

Ai Jesus que eu vou p’ras malvas 
Caminhando p’ras urtigas 
Vão os rapazes p’ra forca 
Por causa das raparigas. 

Esta canção teve origem num assassinato, por ciúmes, de um rapaz pelo namorado de uma de uma certa cachopa. O assassino foi enforcado e o seu corpo colocado nesse cemitério.
Este tinha uma capela, um adro e um cruzeiro dedicado ao Senhor dos Aflitos. Passaram para as traseiras do Hospital de Santo António, para a parte de cima da actual Rua Alberto Aires de Gouveia,


...mas em 1842 colocaram-nos na cerca do Hospital de Santo António, onde ainda hoje existe a Capela. Recordámo-nos que nesta capela esteve, por umas horas, o corpo do nosso grande amigo e Grande Homem Padre Américo, antes de ser levado para Paço de Sousa. Faleceu no hospital em 16/7/1956, após um estúpido acidente de viação em S. Martinho do Campo (Valongo). Por cima da porta do cemitério estava a frase:

Oh! Tu, mortal, que me vês,
Reflecte como estou!
Eu já fui o que tu és
E tu serás o que eu sou.


Esta foto mostra, à esquerda, o lado Sul do Hospital de Santo António e o muro da Rua da Restauração. Devido aos muitos suicídios que se davam neste local, a C.M.P. mandou fazer aqui um forte gradeamento de ferro.
Ao fundo ainda se vê o Colégio dos Órfãos fundado pelo Padre Baltazar Guedes - foto tirada do Largo do Viriato, onde foram construídos os banhos públicos e houve um lindíssimo jacarandá.


1900


Em 25 de Novembro de 1825 realizou-se a abertura solene da Real Escola de Cirurgia, localizada na zona Sul do Hospital de Santo António que em 1836 passou a Escola Médico-Cirúrgica do Porto, até à fundação da Universidade em 1911.


Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – antes de 1935


Após 1935


Hospital de Santo António na actualidade – á direita, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, o Quartel do Carmo, as Igrejas dos Carmelitas e do Carmo e o Hospital do Carmo.

1 comentário:

  1. Boa noite!
    Pela sua traça arquitectónica, o primitivo edifício da Escola Médico-Cirúrgica / Faculdade de Medicina era conhecido pelo "Chalet do Brasileiro".
    Abraço tripeiro!
    Alberto Guimarães

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