terça-feira, 10 de junho de 2014

SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DO PORTO - V

3.11.4 - Santa Casa da Misericórdia do Porto - V


Joaquim Ferreira dos Santos nasceu na freguesia de Campanhã. O jovem Joaquim Ferreira dos Santos estudou latim, lógica e retórica, mas concluindo que não tinha vocação para o sacerdócio, abandonou os estudos aos 14 anos de idade, empregando-se como caixeiro e manifestando vontade de ir para o Brasil e seguir a carreira comercial. Os conhecimentos que adquirira viriam a ser úteis, mais tarde, na sua carreira comercial.
Depois de um curto período como caixeiro no Porto, contrariando os pais, emigrou para o Brasil em 1800, levando consigo carta de recomendação dirigida a um parente que se encontrava estabelecido como comerciante no Rio de Janeiro. No Brasil, ajudado e protegido pelo seu parente, foi prosperando no negócio, dedicando-se ao comércio por consignação de produtos enviados do Porto.
Depois de ter estabelecido relações comerciais entre a sua casa e a praça de Buenos Aires, dirigiu as suas atenções para África, com o intuito de alargar as suas relações com essa parte do mundo, foi três vezes a Molumbo, Angola, onde criou várias feitorias e montou um lucrativo negócio negreiro, importando cerca de 10 mil escravos para o Brasil.
Em 1828 contribuiu com importantes donativos para os emigrados portugueses no Brasil, declarando-se partidário da causa política de D. Maria II, para a qual contribuiu com avultadas somas de dinheiro.
A rainha D. Maria II de Portugal agraciou Joaquim Ferreira dos Santos com o título de conde de Ferreira, em 6 de Agosto de 1850, pelos serviços prestados ao País e ao Partido Constitucional.
Ingressou na política activa durante o cabralismo, sendo feito par do Reino por carta régia de 3 de Maio de 1842.
Faleceu na cidade do Porto em 24 de Março de 1866, com 84 anos de idade. Está sepultado num mausoléu no Cemitério de Agramonte, concluído em 1876, dez anos após o seu falecimento, obra do escultor António Soares dos Reis.


Cemitério de Agramonte – Jazigo do Conde de Ferreira



Na falta de descendência legítima e possuindo avultados rendimentos, deixou a sua fortuna a um grande conjunto de beneficiários, entre os quais muitos colaboradores, parentes e amigos, e instituições como a Santa Casa da Misericórdia do Porto e as Ordens Terceiras do Terço, Carmo, Trindade e São Francisco. Destinou ainda fundos para a construção de 120 escolas e um hospital para doentes mentais. Além de muitos donativos oferecidos a diversas instituições no Brasil, ainda conseguiu doar ao Estado Português 144 000$000 reis para construir 120 escolas, para cuja construção se seguiu uma planta única, pois era mais prático, económico e rápido. Foi o grande mecenas da instrução primária em Portugal, colocando como condição que as escolas a construir o fossem em sede de concelho e que tivessem aposentos para os professores residirem. Com o remanescente da sua herança foi fundado o Hospital do Conde de Ferreira, no Porto, para doentes de foro psiquiátrico.


No seu testamento escreveu: "Quero que os meus testamenteiros empreguem todo o remanescente da minha fortuna (…), em construir onde julgarem conveniente, um edifício para o hospital de alienados, não devendo gastar no edifício mais da terça parte do remanescente e, acabada a obra e mobilado o hospital, farão entrega à Santa Casa da Misericórdia desta cidade, não só do edifício, mas também dos fundos sobrantes, previamente empregados em efeitos de crédito público, que farão averbar a favor do hospital e à mesma Santa Casa prestarão contas da sua gerência com respeito ao remanescente".


Festa com doentes do Hospital Conde de Ferreira

No site da Santa Casa da Misericórdia do Porto pode ler-se: 
“1866 – Falecimento de Joaquim Ferreira dos Santos, Conde de Ferreira (24 de Março). Uma das disposições do seu testamento contemplou 678000 réis, quantia invulgarmente elevada, para a edificação de um hospital para alienados, de raiz, na cidade do Porto, onde viveu os seus últimos anos.
1868 – Início da construção do Hospital de Alienados do Conde de Ferreira, na Quinta da Cruz das Regateiras, situada na antiga estrada para Guimarães. A extensa propriedade, com 120.000m2, com água em abundância e boa exposição higiénica, possibilitava a existência de jardins, prados e terrenos cultiváveis, considerados factores indispensáveis na terapêutica psiquiátrica. O projecto, cuja arquitectura foi inspirada no Hospício Pedro II, inaugurado a 05 de Dezembro de 1852 no Rio de Janeiro (Brasil), é da autoria de Manuel d’Almeida Ribeiro, arquitecto e professor na Academia Portuguesa de Belas Artes.
1883 – Inauguração do Hospital de Alienados do Conde de Ferreira. António Maria de Sena foi convidado pela Misericórdia do Porto para o cargo de Director Clínico, oriundo da Faculdade de Medicina de Coimbra. O Hospital é constituído por um vasto edifício que se desenvolve por quatro grandes alas e dois pavilhões envolvidos por jardins. Em anexo foi construído um pavilhão para observação médico-legal dos criminosos de ambos os sexos, assim como o laboratório. 
188? – Poucos anos após a inauguração foram construídos dois pavilhões para doentes furiosos.
1916 – A Portaria n.º 555, de 17 de Janeiro, atendeu ao representado pela Misericórdia do Porto e autoriza a que esta instituição aceite a doação de um grupo de indivíduos, em nome de quem outorgara determinada pessoa sem menção dos nomes deles, lhe fizera de valores na importância aproximada de 60000 e que o mesmo grupo poderia ir aumentando, para a construção e sustentação de um pavilhão anexo Hospital dos Alienados do Conde de Ferreira para o internamento de pobres incuráveis, começando pelos que já se encontram internados no mesmo hospital. 
1976 – Nacionalização do Hospital de Alienados do Conde de Ferreira pelo Estado Português.
2002 – Transferência da tutela do Estado para o da Santa Casa da Misericórdia do Porto das instalações do Hospital e dos cerca de 300 doentes residentes (01 de Janeiro, às 09h00). O Hospital de Alienados do Conde de Ferreira dava, assim, lugar ao Centro Hospitalar Conde de Ferreira.


2011 – Criação do Centro de Dia para Doentes de Alzheimer e Outras Demências “S. João de Deus” (26 de Outubro)”.
RTP - notícias
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=553549&tm=8&layout=122&visual=61


Provedor da S.C.M. do Porto

As gravíssimas consequências económicas e sociais da 1.ª Guerra Mundial e a tremenda inflacção que a mesma provocou, colocou a Misericórdia do Porto numa situação de ruptura financeira que quase paralisou a sua acção caritativa. Basta verificar que, se em 1915 as despesas eram de cerca de 185.000$00, em 1921 eram de mais de 950.000$00. Porém as receitam não aumentaram devido à grave crise.
Nomeadamente o Hospital de Santo António tinha, em 1915 555 doentes com uma despesa de 86.000$00, em 1921 tinha somente 382, que custaram 480.000$00.
Receava-se, mesmo que a Misericórdia tivesse que deixar de existir.
O governo desse tempo também passava dificuldades e não pretendeu ajudar esta Obra.
Escrevia o Provedor: “Toda a acção do poder central em matéria de assistência quase se encontra concentrado em Lisboa. Chega a ser revoltante esta desigualdade, pois se o Estado não encontrasse na nossa Misericórdia os hospitais para pedagogicamente anexar à Faculdade de Medicina e houvesse de fazer a assistência pública que a nossa Instituição vem realizando, milhares de contos necessitaria de se despender nesses serviços”


Perante estas graves dificuldades a mesa decidiu recorrer à benemerência dos portuenses, organizando uma campanha de benemerência, entregando a D. Ana José Guedes da Costa a sua organização.
Acompanhada de várias senhoras da sociedade havia, já em 1917, organizado uma que tinha tido grande sucesso. Desta feita foram envolvidas centenas de pessoas que mostraram à população do que se tratava de salvar a Misericórdia. Também os jornais da cidade organizaram uma vibrante e convincente campanha que uniu o povo do Porto á volta da sua Misericórdia. Esta festa rendeu 300.000$00 o que, sendo uma avultada quantia, era insuficiente. O Provedor classificou esta campanha como “uma das páginas mais brilhantes da história da caridade e beneficência do nosso país”. 
Em 1924 as contas da Misericórdia acusavam já um défice de 2.200.000$00.
Logo que o público tomou conhecimento de tão desesperada situação, começaram a surgir avultados donativos. A referida Comissão de Senhoras dirigiu-se à Misericórdia, oferecendo-se para organizar o “Dia da Misericórdia”. Num só dia, ao fim da tarde, estas senhoras entregaram à Santa Casa 750.000$00 em cheque, notas e moedas de ouro, prata e cobre. Estas eram centenas e centenas de quilos e eram as ofertas dos mais pobres da cidade. Passados mais alguns dias as ofertas chegaram a quase aos 1.000.000$00. Os portuenses deram, uma vez mais, prova da sua abnegação e generosidade.
Faz-nos lembrar o “o grito” do Padre Américo, no anos quarenta “Ai Porto, Porto, quão tarde te conheci!”. 


Dr. Domingos Braga da Cruz


“Figura emblemática no âmbito médico hospitalar, teve um papel fundamental como mentor do projecto Prelada. 
Nascido na cidade de Braga, a 3 de outubro de 1899, desde estudante que prometia uma carreira brilhante. Em 1922 defende a tese de doutoramento com 18 valores. Médico, Governador Civil do Porto, Provedor da Santa Casa da Misericórdia (em três mandatos) e também director do Hospital Geral de Santo António deixou marcas memoráveis à medicina e a grupos de jovens estudantes pelo apoio demonstrado em épocas polémicas. 
Na Santa Casa da Misericórdia do Porto o seu percurso foi exemplar e honorífico. Além de Provedor foi proposto Irmão Benemérito pelo Hospital de Santo António pelos auxílios materiais e morais prestados à Instituição. Em 1957 foi nomeado, por unanimidade Irmão Honorário. 
Já com avançada idade, concebeu e orientou o processo relativo à construção do Hospital até nível adiantado do programa e assegurou a comparticipação financeira das receitas das apostas mútuas. Com determinação ultrapassou os problemas políticos e económicos, que cercavam o projeto e com pragmatismo e força de espírito conseguiu ganhar a batalha ao lançar o Hospital da Prelada com a dinâmica de um hospital de ponta”. In site da S.C.M. do Porto


“As obras de construção do Hospital da Prelada tiveram início em 1971. Contudo, a definição do projecto ocorreu em 1961, ano em que a Mesa da Santa Casa da Misericórdia do Porto, pela provedoria do Dr. Domingos Braga da Cruz, esboça a execução de um Centro de Reabilitação a construir nos terrenos da Quinta da Prelada. O projecto estabelecia a inclusão de determinadas especialidades: Medicina Física e Reabilitação, Cirurgia Plástica e Reconstrutiva, Ortopedia e também uma Unidade de Queimados. Apenas em 17 de Outubro de 1988, é que o Hospital da Prelada abre portas e recebe os primeiros doentes nos serviços de Ortopedia, Cirurgia Plástica e Reconstrutiva e Medicina Física e Reabilitação.
O Hospital da Prelada - Dr. Domingos Braga da Cruz tem como missão, melhorar a saúde através de cuidados de qualidade, garantindo acesso atempado e a optimização dos recursos disponíveis na comunidade, assim como participar na investigação e no ensino pós-graduado. Pelo seu posicionamento (socialmente responsável, promotora da equidade de acesso, não lucrativa) e pela excelência dos resultados obtidos nas diversas especialidades de que dispuser, o Hospital será reconhecido – pela comunidade, pelo S.N.S. e pelos restantes interessados – como um Estabelecimento de qualidade na saúde, tanto pelos cuidados prestados como pela sua participação na investigação e no ensino pós-graduado”. In site da S.C.M. do Porto

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