sexta-feira, 27 de junho de 2014

IGREJAS PAROQUIAIS EM 1788 - III

3.11.6 - Igreja de Santa Marinha


Igreja de Santa Marinha – Século XIV e reconstruída, sob desenho de Nicolau Nazoni, no século XVIII.
A freguesia de Santa Marinha pertenceu à cidade do Porto até ao final das guerras liberais, tendo sido criado, em 20/7/1834, o concelho de Vila Nova de Gaia. 




Igreja de Santa Marinha - Interior 

No local existiu uma pequena ermida românica, talvez do tempo de D. Afonso II. 
A igreja foi edificada no século XVI e profundamente reformada a partir de 1745 sob projecto de Nicolau Nazoni. Por dificuldades financeiras somente nos anos 70, do referido século, terminaram as obras. A fachada não é a original, que teria duas torres, e a que lá se encontra é de 1894.


“Diz-se que, numa época de peste, que foi assinalada por uma invasão de mosquitos, fora revelado a uma freira de Corpus Christi, em seus sonhos ou êxtases de clausura, que existia uma imagem de Cristo escondida entre um juncal, nos domínios do Convento. 
A religiosa estava doente, contagiada pela peste, e sugeria que buscassem a imagem para libertarem o povoado dessa praga, levando-a em procissão quando a encontrassem. 
Procurada a Cruz do milagre foi ela descoberta e por muitos anos veio a ter a devoção dos fiéis. 
Conforme a lembrança da dona de Corpus Christi foi levada em triunfo pelas ruas da vila, extinguindo-se a seguir o flagelo da peste. 
Assim, por esta crença popular, explicada fica a origem da escultura que, no dizer de alguns, já existia no ano de 1420, embora também conste segundo outros — que a imagem fora trazida à terra por anjos da corte celestial. 
Entretanto, há quem entenda que a alusão não oferece foros de credibilidade. 
Sousa Reis, por exemplo, é de parecer que a escultura devia ter vindo do convento de emparedadas que existiu no Monte de S. Nicolau ou da Meijoeira (hoje Serra do Pilar). 
E refere que esse convento de emparedadas fora fundado em 1140 por D. Pedro Ribaldis, bispo do Porto, nos primeiros tempos do seu Governo, acrescentando que o crucifixo se encontrara junto à ermida de S. Nicolau, no alto do monte e do lado de Quebrantões. 
Esclarece ainda que esse mosteiro já existia em 1300, quando o bispo D. Sancho Peres — ao fazer seu testamento em 17 de Janeiro de 1338— deixara às donas inclusas ou emparedadas a quantia de 20 libras — item mulieribus de portu XX libras. 
Ao extinguir-se o referido Convento por falta de freiras que o frequentassem existiam nele mais imagens de santos do que aquelas a que se refere D. Baltazar Limpo, bispo do Porto, na carta de 17 de Junho de 1539 — um Santo Cristo e as imagens de S. Nicolau e S. Bartolomeu. 
Tais imagens foram recolhidas na Capela do Senhor de Além depois de uma luzida procissão fluvial levada a cabo até Massarelos. 
Foram os cónegos regrantes de Grijó que pediram a remoção da ermida quando vieram para o monte de S. Nicolau edificar o seu novo mosteiro. 
E foram tais cónegos que fizeram a reconstrução da dita capela, sobre um penedo sobranceiro ao rio, conhecida pela do Senhor de Além. 
É possível e de admitir que a imagem do Senhor Jesus fosse recolhida em convento próximo, como era o das religiosas de S. Domingos. 
Deve assinalar-se que as freiras de Corpus Christi tinham o direito — na procissão de 3 de Maio — de ver a imagem conduzida ao terreiro do seu convento. 
Um ano aconteceu que — de propósito ou por esquecimento — a procissão não passou no convento, nem a imagem entrou no terreiro, ficando as freiras de tal modo emocionadas e ofendidas que fizeram a ameaça de sair à rua de cruz alçada, como acontecia quando se juntavam em corporação. 
Sabe-se por outro lado que a primeira procissão do Senhor Jesus saiu precisamente do convento das donas ficando depois recolhida na igreja de Santa Marinha. 
Assim, tudo inculca que a imagem viera de lá. Porém, poderá a verdade estar em conformidade com a tradição pois se diz que a imagem ao ser encontrada onde a freira a situava, foi levada em procissão e recolhida na igreja referida. 
Ainda mesmo que venha a tomar-se como exacta a versão com base na remoção da capela de S. Nicolau a notícia popular continua de pé e pode, portanto, corresponder a um facto certo. 
Afinal, tudo dependerá de se encontrar ou não documentação esclarecedora. 
Doutro modo, tudo continuará na obscuridade da lenda como sucede com a capela de S. Marcos que se diz ter sido matriz da freguesia, mas cuja localização se ignora”. 
Fonte Biblio VALLE, Carlos Revista de Etnografia 26, Tradições Populares de Vila Nova de Gaia - Narrações Lendárias Porto, Junta Distrital do Porto, 1969 , p. 426-428


“Foi em 1288 que D. Dinis, atribuiu o Foral que deu lugar à criação de Vila Nova de Rei. Nesse lugar, hoje correspondente à zona ribeirinha da freguesia de Santa Marinha, havia então um estaleiro naval que trazia gente e desenvolvimento.


Santa Marinha é provavelmente a freguesia de mais antigo povoamento, do concelho de Gaia, estendendo-se desde a ponte ferroviária de D. Maria II (engano, Ponte Maria Pia), sobre o rio Douro, até à Afurada, freguesia com a qual faz limite, próximo da foz do mesmo rio.Com um rico património, possui aquele que é considerado o ex-libris da Cidade de Vila Nova de Gaia, a Igreja e Mosteiro da Serra do Pilar, Monumento Nacional, reconhecido pela UNESCO, juntamente com a Ponte de D. Luís I e o Centro Histórico da Cidade do Porto, como Património da Humanidade”. Site da J. F. Santa Marinha



A festa de S. Gonçalo realiza-se no domingo após o dia 10 de Janeiro



Igreja de S. Pedro de Miragaia



Igreja de S. Pedro de Miragaia 

Neste local existiram desde tempos imemoriais algumas capelas edificadas pelos moradores. No séc. XVIII efectuaram-se grandes obras, sendo a fachada e a torre de 1740. A reconstrução do interior, que vinha do Bispo D. Nicolau Monteiro em 1672, foi erguida em 1741, embora mantendo alguns pormenores de obras mais antigas. 
Já no terceiro quartel do séc. XIX o tecto, as paredes e o soalho foram renovadas, continuando, mais tarde, obras na sacristia. Os sinos são de 1885. 



Altar Mor – retábulo de 1730 - parte da talha deste altar veio, mais tarde, do Convento de Monchique


Altar que pertenceu ao Convento de Monchique 


Altar de Nossa Senhora do Carmo que pertenceu ao Convento de Monchique. Há mais cinco lindíssimos altares deste convento que estão na Igreja de S. Mamede Infesta. O sétimo, que era destinado ao Hospital Militar, ardeu.



O Padre Bernardo Xavier Coutinho escreveu em O Tripeiro que estes dois altares devem ter sido comprados à Ordem da Trindade, quando esta se encontrava na Capela do Calvário Novo. São altares joaninos do fim do Séc. XVIII, que se encontram a tapar duas portas do corpo da Igreja. 
Um incêndio em altares desta igreja levou à necessidade de os adquirir.




Fonte na entrada da igreja – foto de carlos Cunha do blog Porto Revisitado


No primeiro andar ao lado da igreja existe um museu no qual está depositado o tríptico de Pentecostes vindo da Capela do Espírito Santo. Sobre este valioso tríptico trataremos com mais pormenor quando referirmos aquela capela. É arte flamenga do séc. XVI.


Sobre a Igreja de Miragaia e do museu vale a pena visitar este blog:


Ícone de S. Pantaleão 


Padroeiro dos médicos, parteiras e contra as dores de cabeça

"Viveu no séc. III e IV da era cristã, durante um período de intensa perseguição aos cristãos que não podiam professar a própria fé, pois o que predominava naquela época era o culto aos deuses pagãos.
Pantaleão era filho de Eustóquio, gentio e de Êubola, cristã. Sua mãe encaminhou-o na fé cristã. Após o falecimento de sua mãe, Pantaleão foi aplicado pelo pai aos estudos de retórica, filosofia e medicina.
Durante a perseguição, travou amizade com um sacerdote, exemplo de virtude, Hermolau, que o persuadiu de Nosso Senhor Jesus Cristo ser o autor da vida e o senhor da verdadeira saúde.
Um dia que se viu diante de uma criança morta por uma víbora, disse para consigo: “Agora verei se é verdade o que Hermolau me diz”. E, segundo isto, diz ao menino: “Em nome de Jesus Cristo, levanta-te; e tu, animal peçonhento, sofre o mal que fizeste”. Levantou-se a criança e a víbora ficou morta; em vista disso, Pantaleão converteu-se e recebeu logo o Santo Baptismo.
Acabou sendo convocado pelo imperador Maximiano como seu médico pessoal. As milagrosas curas que em nome de Jesus Cristo realizava, suscitaram a inveja de outros médicos, que o acusaram de cristão perante o imperador que, por sua vez, o mandou ser amarrado a uma árvore e degolado". Site da Canção Nova

Em 1453 alguns arménios católicos fugiram de Constantinopla quando esta cidade caiu nas mãos dos turcos. Trouxeram o corpo de S. Pantaleão que depositaram nesta igreja. Em 1499 as relíquias foram transladadas para a Sé e feito padroeiro da cidade. S. Pantaleão foi um mártir católico (275-303) da Nicomédia, muito venerado pelos arménios. 



Jóias em que foram encastoadas restos da cabeça e braço direito de S. Pantaleão. A primeira está no Museu Soares dos Reis e este no museu da Igreja de Miragaia – fotos de Portojo

Em artigo no JN, Germano Silva afirma:
"No dia 22 de Novembro de 1841, oito anos depois do fim do Cerco do Porto, a Câmara Municipal desta cidade escreveu ao delegado do procurador Régio, o equivalente, naquele tempo, ao procurador da República dos nossos dias, no seguintes termos: "Tendo tido (ela, Câmara) conhecimento do roubo da prata da arca de S. Pantaleão que existia, em depósito, na igreja da Sé, e sendo este roubo de grave importância, não tanto pelo valor do metal, como pela preciosidade em que geralmente era tido o lavor da prata, que denotava grande antiguidade, rogo a vossa excelência que empregue todo o zelo e bons ofícios na descoberta do delinquente e seu imediato castigo".
O que era esta arca de S. Pantaleão da qual, alguém, no recuado ano de 1841, surripiou a prata? Pelos vistos, a tal arca encontrava-se no interior da catedral, onde "estava em depósito", como se infere do teor da carta acima reproduzida.
Vamos por partes. Primeiro, S. Pantaleão. Julgo que não há portuense que já não te­nha ouvido falar deste santo que, durante muitos anos, foi o padroeiro da cidade e o patrono da classe médica. S. Pantaleão era arménio, da cidade de Nicomédia, e médico de profissão. Por professar a fé católica foi perseguido, às ordens dos imperadores Diocleciano e Maximiano, sendo martirizado no ano de 320, da Era de Cristo. Os seus restos mortais foram levados, por alguns companheiros, para a cidade de Constantinopla, onde ficaram muitos anos e sendo aí objecto de grande veneração popular. Mas os turcos andavam a preparar um assalto a Constantinopla. Perante tal ameaça os cristãos arménios, que viviam naquela cidade, pegaram no corpo de S. Panta­leão e meteram-se com ele num navio, atravessaram o Mediterrâneo, passaram o estreito de Gibraltar e chegaram ao Atlântico. Navegaram até à embocadura do rio Douro. Demandaram a barra e foram lançar ferro na praia de Miragaia, mesmo em frente à igreja de S. Pedro, em cujo interior fizeram recolher o corpo de S. Pantaleão. Os companheiros do mártir instalaram-se nas imediações do templo, em ruas que ainda hoje evocam, no nome, esse acontecimento: Rua Arménia e Rua Ancira, antiga Rua de Aljazira.
A chegada dos restos mortais do mártir a Miragaia aconteceu a 8 de Agosto de 1453. Pouco depois, um terrível surto de peste invade a cidade, pela então chamada Rua do Olival. A Câmara, no intento de evitar a progressão da epidemia, manda entaipar a artéria que, a partir daí, passa a ser a Rua das Taipas. 
Entretanto os moradores da zona de Miragaia apelam a S. Pantaleão para que os livrem da peste. O mal não chega à zona ribeirinha e isso é atribuído a milagre do santo. E a cidade promove-o, de imediato, a padroeiro do burgo, destronando S. Vicente, que ocupava aquele lugar desde, pelo menos, o século XII. 
Diz uma lenda antiga que, naquele tempo, uma relíquia de S. Vicente estava a ser transportada de Lisboa para Braga. E que ao passar no Porto houve uma milagrosa intervenção do santo no sentido de que a relíquia ficasse nesta cidade. E foi deste modo que S. Vicente apareceu como padroeiro do Porto. Ainda tem altar na catedral onde a sua imagem é venerada. 
Logo a seguir à entronização de S. Pan­taleão como padroeiro da urbe portucalense, o culto que a cidade lhe devotava aumentou consideravelmente e de tal forma que, em 12 de Dezembro de 1499, o bispo do Porto, D. Diogo de Sousa, ordenou a remoção dos restos mortais do padroeiro para a catedral. Em Miragaia ficou apenas um fragmento de um braço que ainda hoje se guarda no interior de um relicário de prata em forma de um braço. 
Na Sé, a arca com as relíquias de S. Pan­taleão foi metida num artístico e valioso relicário de prata, mandado fazer por D. João II mas que só foi entregue à cidade, em 1502, pelo rei D. Manuel I, numa sua deslocação ao Porto. Foi a prata desse relicário que roubaram. 
O furto aconteceu em 1834, já depois do fim do Cerco do Porto. E ao que consta, o autor do roubo nunca foi descoberto. Melhor dizendo: parece que se soube quem foi. Mas o autor da façanha nunca foi denunciado 
Muitos anos mais tarde, em 1875, Pinho Leal, no seu muito apreciado e célebre dicionário "Portugal antigo e moderno", no volume sétimo e na parte respeitante ao Porto, ao tratar do assunto S. Pantaleão, alude também ao roubo da arca e escreve isto: "tinha muito que dizer sobre o roubo deste cofre, o que não faço por certas considerações, sendo a principal envolver neste abominável crime pessoas de alta categoria que se não podem defender por estarem já cobertas com a lousa da sepultura". 
Tudo muito estranho, não é ?”
Em vários locais lemos que o roubo foi executado em 1841.


Procissão em honra de S. Pantaleão, saindo da Sé - 1950

S. Pedro de Miragaia - vídeo


Miragaia – 1955 – foto Henri Cartier Bresson

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