sábado, 3 de setembro de 2016

ARTES E OFÍCIOS - XI

6.24.11 - Artes e Ofícios - Escultores, esculturas - II e outros ofícios



O atelier de Henrique Moreira, talvez o escultor que mais obras deixou no Porto, ficava na antiga casa das máquinas do antigo elevador dos Guindais, desactivada depois do acidente. Amigo de nossa família, ainda o visitei em jovem, tendo ficado assombrado com a quantidade das esculturas em gesso que aí estavam “semeadas”. Uma boa parte delas eram de obras já executadas. Na foto ainda se vêm pedras e trabalhos.
Desde o século XIX a escola de Belas artes do Porto tem-se distinguido por grandes escultores tais como Soares dos Reis (1847-1889), Teixeira Lopes (pai) (1837-1918), Teixeira Lopes (filho) (1866-1942), Américo Gomes, António Fernandes Sá (1874-1959), Henrique Moreira (1890-1979) e tantos outros.


Juventude (conhecida por A Menina Nua) -1929 - Henrique Moreira – 1890/1979


A modelo muitos anos depois

“Chamava-se, Aurélia Magalhães Monteiro, e era conhecida por Lela, Lelinha ou pela «Ceguinha do 9» (cegou aos 43 anos) - para a eternidade ficará sempre a ser a «Menina Nua» da Av. dos Aliados. Nasceu no dia 4 de Dezembro de 1910, na freguesia do Bonfim, e pouco tempo antes de falecer, dizia-me «que tinha sido uma das mulheres mais apreciadas e cobiçadas do seu tempo» … Estive duas semanas a «posar» e ainda hoje recordo com alegria e saudade aqueles momentos de trabalho, pois posso morrer amanhã que todos ficarão a saber quem era a Lela... se a memória não me falha, comecei com o mestre Teixeira Lopes, na figura-modelo da rainha D. Amélia, esta estátua encontra-se actualmente no Museu com o mesmo nome, em Vila Nova de Gaia… fiz de modelo para vários mestres, entre eles: Acácio Lino, Joaquim Lopes, Dórdio Gomes, Sousa Caldas, Augusto Gomes, Camarinha e os consagrados, Henrique Moreira e Teixeira Lopes…” Aurélia Magalhães Monteiro, a Lela, Lelinha, ou a «Ceguinha do 9», faleceu no dia 2 de Junho de 1992, com 82 anos de idade; no entanto a «Menina Nua», continua viva, fixa e eterna, ali na Av. dos Aliados envolta nos nevoeiros citadinos, perpétua e ardente, nos dramas e vitórias deste povo.
Do livro Pasteleira City, de Raul Simões Pinto. Edições pé de cabra Fevereiro de 1994


“O Pirolito” de 7 de Fevereiro de 1931, e não de Janeiro indicado por engano, fez uma piada ao frio da Menina Nua, oferecendo-lhe um casaco – desenho de Cruz Caldas.


O quiosque de Sebastião Vieira de Magalhães, conhecido como o "Correligionário", aquando da sua remoção da praça da Liberdade mereceu um poema no "Pirolito" n.º 9 de 21 de março, com alusão às estátuas da Menina Nua e do rei D. Pedro IV:

"Havia um tempo já, que a praça era catita, 
E frequentava a mesma, uma rapariguita, 
De risonho perfil, mágico e expressivo, 
Elegante e roliça, olhar esperto e vivo, 
Vestida de mãe Eva, de frio a tiritar. 
Mas uma vez D. Pedro, fitou-a ao passar: 
"diz-me cá, que é isso?... Andas nua, safada?..." 
"É a moda futura", responde a descarada. 
"Ah, sim, bem sei, adiante. Tens ar fino e matreiro, 
Não sabes do quiosque, meu velho companheiro?…"

Quiosque de Sebastião Vieira de Magalhães – Monumentos Desaparecidos


Primeiro monumento aos mortos da Grande Guerra de José de Oliveira Ferreira, de 1924. Porém, o povo considerava-o tão feio que foi abatido em 1925


Seguiu-se o de Henrique Moreira que ainda hoje se encontra na Praça Carlos Alberto - 1928


O Salva Vidas – 1937- Henrique Moreira 1890-1979


Foto de Helena Cristina Coelho


A vindima de Henrique Moreira - 1918


Padre Américo - Henrique Moreira – 1959

Lista das esculturas e estátuas no Porto



Fadistas do Porto



In O Tripeiro – Volume 7 – Dezembro de 1930

Nos diversos bairros havia-os, no início do séc. XX, muito populares: o Hermínio e o Raimundo Preto da Sé, O Quinzinho Cigarreiro de Paranhos, o Cardoso, o Coimbra e o António (Pinta-ratos), o famoso Zé Ceguinho que era cauteleiro e que conhecia tão bem a cidade que não precisava de quem o guiasse. Todos os sábados e domingos era convidado para animar festas.

Fado menor do Porto

Fado do adeus ao Porto

Danças e Cantares do Douro do Orfeão Universitário do Porto


Feira do gado - foto Emílio Biel - c. 1900



A Praça da Boavista foi, durante muitos anos, local onde se realizaram importantes feiras. A Feira de S. Miguel, talvez a mais importante da cidade, realizava-se em 29 de Setembro na Cordoaria, desde os anos de 1672 a 1876. Por essa época a Câmara deslocou-a para a Boavista. “Prolongava-se esta feira por uns dias (um mês, aproximadamente) e nela apareciam à venda as alfaias agrícolas, os tamancos, os jugos e cangas, os móveis de madeira de pinho em cru, os cestos, varapaus, chapéus de palha, todo género de quinquilharias, louça de barro grosseiro, cereais, muita cebola e muita abóbora, os típicos doces de Paranhos e da Teixeira, as fritadas etc. As barracas de comes e bebes também não faltavam no recinto bem a sim como as diversões. Em matéria de comestível, além das regueifas de Valongo e das nozes, sobrelevavam-se aos restante produtos, as características esperadas, constituídas por carne de porco assada em espetos e vendida ao público espetada num pauzinho. Na feira de S. Miguel do ano de 1906, como novidade sensacional e como número de invulgar atracção, apareceu o primeiro animatógrafo ou cinematógrafo portuense – o salão High Life – instalado num modesto barracão de madeira coberto de folha zincada, ali mandado construir por Manuel da Silva Neves, que em Novembro desse ano de 1906, depois de terminada a feira de S. Miguel, passou a dar sessões de cinema mudo no largo fronteiro à Torre dos Clérigos, na Cordoaria, onde se conservou bastante tempo e para além da inauguração, em Fevereiro de 1908, do novo salão High Life, na Praça da Batalha, do mesmo proprietário. No ano de 1906, a Câmara Municipal anunciou a mudança da feira de S. Miguel para o largo da Arca d’Água. Todavia, os feirantes, de comum acordo e fazendo orelhas moucas, deliberaram tomar de arrendamento um terreno particular na mesma rotunda da Boavista (onde estivera uma praça de touros) e aí continuaram a realizá-la pelo curto período de 2 ou 3 anos”. O Tripeiro série VI, Ano X.  
Foi transferida em 1909 para a Arca d’Água até 1917.
A feira dos criados ou moços e moças da lavoura mudou da Praça dos Ferradores (actual Carlos Alberto) para a Boavista em 1876. Realizava-se duas vezes por anos. Em Novembro para os trabalhos de Inverno e em Abril para os de Verão. Esta feira era muito concorrida. Apareciam os lavradores e os criados que pretendiam trabalho. Havia um diálogo entre eles e quando chegavam a acordo davam um aperto de mão e tomavam um copo de vinho acompanhado de pão ou broa, que era oferecido pelo patrão, seguindo de imediato para os locais de trabalho.
A Praça da Boavista foi ajardinada em 1906 passando o trânsito de veículos a fazer-se à sua volta.


Vendedor de porcos na feira dos moços na Curujeira – 1913


Feira dos moços – Custóias 1960



Feirante do Porto - 1930


Venda ambulante na Rua Escura – 1960


Venda ambulante



Ferradores

Ferrador – vídeo


Largo dos Ferradores, marcada com o número 20, a antiga estalagem do Peixe, no nº. 10 o Hospital do Carmo e no 29 as Igrejas do Carmo e Carmelitas e o seu convento.


A actual Praça de Carlos Alberto chamava-se, até 1852, Largo dos Ferradores pois aí existiam vários, dado ser a paragem e passagem de muitas carruagens que, pela R. de Cedofeita, seguiam para Viana, Póvoa, etc. e pela rua de Santo Ovídio, para Braga. Quando o deposto rei da Sardenha, Carlos Alberto, se refugiou no Porto ficou em primeiro lugar na Hospedaria do Peixe ou Pexe, antigo palácio dos Condes de Balsemão. Tendo mudado para a quinta da Macieirinha, aí faleceu em 28 de Julho de 1849, com grande desgosto do povo do Porto que a ele muito se tinha afeiçoado, razão pela qual esta praça passou a ter o seu nome.

2 comentários:

  1. Gostaria de assinalar um lapso numa das datas da legenda do Salva Vidas: ...1979 (e não 1970). Cumprimentos.
    Maria do Rosário

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  2. Muito obrigado. Já emendámos.
    Melhores cumprimentos
    Maria José e Rui Cunha

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