sexta-feira, 25 de março de 2016

ADENDA AO LANÇAMENTO - MATOSINHOS, LEIXÕES, LEÇA DA PALMEIRA - IV DE 10/3/2016

6.3.12 - Adenda a Matosinhos, Leixões, Leça da Palmeira, Rio Leça - IV de 16/3/2016

Sentimo-nos muito honrados e felizes por termos leitores que nos seguem com a maior atenção e interesse. 
Recebemos hoje um mail de um nosso habitual leitor, José Fiacre, portuense, que nos enviou um extraordinário estudo sobre as pontes de Leça e que entendemos dever publicar, pois completa aquilo que já publicamos.
Aqui vai o texto integral da explicação que nos enviou por mail:

Como já vos disse o vosso blogue é para mim uma referência diária, já que, muito do tempo que venho tendo no gozo da minha aposentação, vou-o passando pesquisando sobre a cidade do Porto onde nasci e sempre vivi.
Influenciado pelo vosso brilhante trabalho, ultimamente tenho-me embrenhado nas imediações do porto de Leixões. Resultante das minhas pesquisas, tento, para uso exclusivamente de uso pessoal, condensar aquelas pesquisas num trabalho escrito de consulta própria. 
Por isso e dada a consideração que o vosso trabalho me merece envio-vos em ficheiro anexo, uma parte sobre aquela zona de Matosinhos.
Como se compreende, sempre que tal me é possível e do meu conhecimento faço, no trabalho, a devida referência às fontes. Caso vejam interesse nalgum facto ainda não mencionado por vós têm toda a liberdade de o usar não necessitando de qualquer referência à minha pessoa. 
Como irão verificar a problemática das pontes sobre o rio Leça é o alvo da minha atenção.
A descrição sobre as dimensões da ponte dos 19 arcos e a sua configuração ajudam a perceber algumas fotografias da época.
Por outro lado a narrativa sobre os antecedentes da ponte Tavares é interessante e pouco conhecida, bem como a localização do primitivo forte da Senhora das Neves. 
Interessante e pouco conhecido o facto, de inicialmente a estátua de Passos Manuel na Alameda, estar de costas para o mar, pelo que segue, também,pequeno texto sobre esse assunto.
Aproveito esta oportunidade para agradecer a cópia da entrevista que deram ao JN, já que me foi possível conhecer mais um pouco de vós. 
Agradeço e dou-vos os parabéns pelo vosso blogue que é uma referência na blogosfera. 
Deve ter constituído para muitos uma surpresa, ficarem a saber quantas horas despendem nas vossas pesquisas o que, para mim não o é, pois, sei o quanto uma pesquisa com critério implica.
Com os meus melhores cumprimentos, sou...

Pontes no Rio Leça

Desde do reinado de D. Afonso V existia a chamada ponte dos 19 arcos toda em pedra a unir as margens esquerda e direita do rio Leça, próximo da foz do rio. Por aqui nasceria o porto de Leixões. 
Esta ponte estava lançada entre as duas margens, sensivelmente onde estão hoje as ruas do Conde Alto Mearim em Matosinhos e Óscar Silva em Leça da Palmeira. 
O tabuleiro da ponte descia ligeiramente de Leça para Matosinhos, em rampa mal perceptível, e perto da margem sul flectia um pouco para a direita, numa pequena curva. 
“As dimensões da ponte são [em metros]: 
Comprimento total: 121,50 
Idem, da curva até à margem sul: 26,20 
Largura junto da margem norte: 4,00 
Idem, a meio da ponte: 4,22 
Idem, junto da margem sul: 4,20
Cumpre analisar, finalmente, as duas meias-laranjas abertas no tabuleiro, sem dúvida os pormenores mais curiosos deste monumento. Compõem-se de dois corpos ligeiramente ovais, de fundo lageado, que apoiados, cada um, no seu talhamar cilíndrico, avançam fora do piso da ponte, formando varandas para o lado de montante. 
Tais construções destinavam-se a facilitar o cruzamento de carros, descongestionando a via. Ainda se utilizavam como miradouros ou caramanchões, para o que serviam os bancos de pedra que lhes correm a toda a volta. 
A primeira meia-laranja encontra-se mesmo na curva que o tabuleiro faz, à distância de 26,20m da margem sul (Matosinhos) e de 95,30m da margem norte (Leça da Palmeira). Adiante 25,30m fica a outra meia-laranja, a 70m da margem norte e a 51,50m da margem sul. O uso destes corpos salientes - feitos para dar passagem aos carros, cavalos, e peões que se enfrentavam na ponte - divulgou-se a partir do século XVII”. Com a devida vénia ao blogue “aportanobre”
Cerca de 1 km a montante desta ponte existiu uma outra chamada “Ponte Tavares”.
Os veraneantes em Leça da Palmeira em seus momentos de lazer costumavam, em barcos a remos, ir em passeio até à Ponte Tavares após passarem por baixo do 5º arco da Ponte de Pedra.
Junto da ponte Tavares, o Leça formava dois braços de rio; o rio Doce, do lado de Leça da Palmeira e o rio Salgado, do lado de Matosinhos. Estes dois braços do rio só voltavam a unir-se a jusante da ponte de Pedra. 
Os Brito e Cunha, da Casa do Ribeirinho, eram senhores de grandes extensões de terrenos em Matosinhos, nomeadamente nas cercanias da sua casa. 
Entre os dois braços do rio Leça, o doce e o salgado possuíam terrenos que antes tinham sido salinas e se denominava “Campo das Marinhas”. 
Este topónimo, “Campo das Marinhas”, sobreviverá até meados do século XX quando esta ilha, entre os dois braços (o “doce” e o “salgado”) do Leça, desapareceu com a construção da Doca nº 2 do Porto de Leixões.
Algumas daquelas salinas, em tempos, foram adaptadas para a criação de peixes.
Supõe-se que nas décadas de 30 e 40 do século XIX, se estabeleceu um litígio entre João Eduardo de Brito e Cunha e suas tias (Joana e Ana Brito e Cunha), a propósito da divisão daquela propriedade e da sua forma de exploração.
Existe um documento não datado, que refere que António Bernardo Brito e Cunha, irmão de João Eduardo Brito e Cunha, havia destruído uma ponte de pedra, chamada “Ponte de Brito”, que ligava as Azenhas, propriedade das tias, ao Campo das Marinhas e, que, esta propriedade havia passado de juncal para marinhas de sal.
Terminada a exploração salineira no estuário do Leça, em 1866, a ilha dos Brito e Cunha sobreviverá ainda durante quase um século sob a designação do seu tradicional e multissecular topónimo: Campo das Marinhas. Durante esse espaço de tempo o local serviu para outros fins. Foi o campo de tiro do Real Club Caçadores de Matozinhos. 


Bairro Piscatório do Rio Salgado em Matosinhos-Ed. Photo Guedes


Em 1908 a Ponte Tavares

O braço do rio que se vê na foto anterior é o salgado que, por correr a uma quota inferior, sofria a influência das marés.


Na foz do rio Leça a ponte de 19 arcos com Leça no horizonte 


Ponte dos 19 arcos e Escola Régia de Leça da Palmeira


Escola em Leça da Palmeira à saída da Ponte de Pedra


Ponte de 19 Arcos com Leça à esquerda 


Ponte de Pedra e a Alameda de Leça que “roubou” 1 arco à ponte


Ponte dos Arcos em cheia do rio Leça com Matosinhos em fundo
Na foto acima a Alameda de Matosinhos desenvolvia-se à direita da mesma.


Outra foto da foz do rio Leça e da Ponte de 19 Arcos 


Ponte de 19 Arcos, na foz do rio Leça com Leça em fundo-Ed. Foto Beleza-Porto 


À esquerda o que restou da Ponte dos Arcos com viaduto ao fundo
Na foto à esquerda está Leça da Palmeira.

Em 1886 seria construída uma ponte sobre o rio Leça, chamada a Ponte de Pau, a mando da Companhia dos Carris de Ferro do Porto, ligando a Rua de Roberto Ivens (Juncai de Baixo), em Matosinhos, ao Largo do Amado, em Leça da Palmeira. 

Ponte de Pau
Na foto acima pode ver-se ao fundo a Ponte de Pedra e à direita um pouco da Alameda de Matosinhos.
ponte foi alvo de um incêndio em 1899. Em 1922 foi abatido completamente, o que dela restava. 
Mais para montante existia entre aquelas duas pontes, a Ponte Metálica ou Ponte do Eléctrico, que servia também peões e que se situava sensivelmente onde está hoje a Ponte Móvel.


Ponte do Eléctrico c. 1890
Legenda:
1. Ponte do Eléctrico 
2. Quartel dos Bombeiros de Matosinhos-Leça e dos Socorros a Náufragos
3. Capela (demolida em 1890) da Nossa Senhora da Apresentação à saída da Ponte de Pedra
4. Ponte dos 19 Arcos 
5. Igreja de Leça


Carro eléctrico atravessando o rio Leça - Ed. Alberto Ferreira-Batalha-Porto 
A foto anterior tem por fundo Leça da Palmeira.


Ponte do eléctrico
A foto anterior tem por fundo Matosinhos


Vista sobre Leça da Palmeira - Ed. Photo Guedes 
Na foto anterior, ao fundo, adivinha-se a Igreja de Leça e mais à direita a Capela de Santana.
Pela Ponte de Ferro transitou a pedra para construção do molhe norte do porto de Leixões.


Ponte de Ferro ou Ponte do Comboio em 1900 
Na foto acima pode ver-se o pormenor de, ao fundo, ainda ser visível o Senhor do Padrão.


Ponte do Comboio no centro do postal

Na foto acima vê-se à esquerda o famoso Restaurante Ariz, no local onde hoje está o restaurante “Bem- Arranjadinho” e bem à direita, na outra margem, a praia de Matosinhos. 
O eléctrico preparava-se para entrar na “Sala de Visitas” e a poucos metros da curva passava em frente ao Hotel Estefânia situado na Rua Vareiro, depois de ter passado pelo Hotel Central situado no Largo Fonte Seca. 


Estação do Caminho- de- Ferro no local de gravura anterior
A Estação do Caminho-de –Ferro está à esquerda da gravura anterior tendo ao lado o Hotel Leixões.


Sala de Visitas- Ed. Alberto Ferreira –Praça da Batalha-Porto


Hotel Estefânia no fim do século XIX 

No edifício acima pode ver-se que as paredes têm um ângulo de 45º e, isso deve-se, ao facto de terem sido os alicerces duma fortaleza do século XVII, que aqui existiu e que se chamava de Nossa Senhora das Neves e que foi abandonada aquando da construção do Forte de Leça. 
O actual forte herdou o nome da anterior fortaleza, de Forte de Nossa Senhora das Neves e foi levantado sob a Dinastia Filipina, em 1638 ou 1639.


O local da foto anterior na Avenida Antunes Guimarães-Fonte: “Google Maps”
Na foto acima pode ver-se que as edificações estão numa cota superior à da rua. 


Fachada do Hotel Estefânia em 1895


Forte de Nossa Senhora das Neves-Fonte: “Wikipédia”


Forte de Leça em 1900


O comboio passando junto ao Forte Nossa Senhora das Neves, em Leça da Palmeira 
Por outra ponte sobre o rio Leça, se desenvolveu mais tarde a linha férrea Boavista –Leça e Póvoa do Varzim.

Passos Manuel na Alameda de Matosinhos

Ficou conhecida como Revolução de Setembro o movimento de insurreição que se deu em Lisboa a 9 de setembro de 1836, no Terreiro do Paço, depois de desembarcarem os deputados portuenses, liderados por Passos Manuel, cujo nome de baptismo era Manuel da Silva Passos, irmão de um político importante da época, Passos José, cujo nome de baptismo era José da Silva Passos, ambos naturais de Bouças. 
Passos José viria a ser presidente da Câmara do Porto.


Estátua de Passos Manuel inicialmente na Alameda em Matosinhos-Ed. Photo Guedes
Na foto acima vemos a estátua de Passos Manuel, virada para Guifões, como quiseram os seus amigos e contemporâneos, na chamada Alameda de Matosinhos com a Ponte de Pau em fundo.


Foto tirada da Alameda Leça para a Alameda de Matosinhos
Acima na foto no bordo direito, na outra margem do rio Leça, está a estátua de Passos Manuel na Alameda de Matosinhos.
A ponte dos 19 Arcos aparece à esquerda da foto.


Foto de Passos Manuel na Alameda de Matosinhos–Ed. A. Vieira
Na foto acima o jardim da Alameda já tem bancos oferecidos pelo Conde Alto Mearim.


Estátua de Passos Manuel actualmente-Fonte: “Google Maps”
Na foto acima a estátua encontra-se numa rotunda da Avenida da República confluente com a Avenida Serpa Pinto e Rua Roberto Ivens e veio para aqui aquando da construção da doca nº 1 do Porto de Leixões.

4 comentários:

  1. Há que agradecer ao autor e leitor José Fiacre.
    Cumprimentos
    Maria José e Rui Cunha

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  2. Um pormenor, a imagem que diz 'em 1908' a ponte tavares, é na realidade, 'em 1908 a ponte dos brito e cunha'. Essa nao é a ponte tavares.:)

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