segunda-feira, 14 de março de 2016

MATOSINHOS, LEIXÕES, LEÇA DA PALMEIRA - V

6.3.13 - Matosinhos, Leixões, Leça da Palmeira, Senhor de Matosinhos - V



1910


Avenida Serpa Pinto – á direita o teatro Constantino Néry - 1910

Inaugurado a 10 de Junho de 1905, o Cine-Teatro Constantino Nery foi, em Matosinhos, durante vários anos, o ponto de encontro da comunidade matosinhense. Décadas mais tarde, pelos anos 80, o espaço cultural entrou em decadência ficando praticamente em ruínas.


Antes da recuperação


Após a recuperação

Consciente da importância deste espaço na memória e na herança cultural do concelho, a Câmara Municipal adquiriu, em 2001, este equipamento e recuperou-o, segundo projecto do arquitecto Alexandre Alves da Costa. Reabriu em 2008.



Portão do antigo convento de Bouças

Durante toda a sua história, Matosinhos esteve ligado ao mosteiro de Bouças, que será bastante antigo, sendo a sua construção anterior a 944. No ano de 900 já existia uma pequena povoação com o nome de Matesinus que em 1258 se chamaria Matusiny, um lugar da freguesia de Sendim. Os romanos davam o nome de "sinus" a um local da costa que abrigasse barcos, o que aqui acontecia por força dos leixões e do estuário do Rio Leça.
Aí se venerou, durante séculos, a imagem do Bom Jesus de Bouças. No séc. XVI, face à ruína do mosteiro a imagem foi transferida para uma nova igreja que foi construída no lugar de Matosinhos. A sua construção iniciou-se em 1542 por iniciativa da Universidade de Coimbra a quem D. João III tinha concedido o padroado de Matosinhos. Para realizar esta obra foi inicialmente contratado João de Ruão, tendo a obra sido posteriormente completada por Tomé Velho.
No séc. XVIII a crescente importância da devoção ao Senhor de Bouças, particularmente entre aqueles que demandavam as terras do Brasil, vai levar à realização de grandes obras de ampliação da primitiva igreja, que ficaram a cargo do arquitecto italiano Nicolau Nasoni e que lhe deram a sua configuração actual.


Igreja do Bom Jesus de Matosinhos


"A devoção ao Bom Jesus de Matosinhos estendeu-se a quase todo o país, mas teve raízes mais profundas no norte de Portugal.
Sobretudo o povo simples e pobre, designadamente os pescadores e gente ligada às fainas do mar, invocava o Bom Jesus e fazia-Lhe as suas promessas. Algumas destas promessas consistiam em fazer determinado percurso dentro ou fora do templo (no adro) em atitude penitencial, geralmente de joelhos; outras eram menos custosas, como eram as ofertas de velas e figuras de cera de diversos órgãos da anatomia humana e até de pessoas.
Os armadores marítimos da cidade do Porto, quando os seus navios partiam para longas viagens pagavam tributo ao Bom Jesus de Matosinhos, para os proteger. Os marítimos de várias zonas do litoral norte do país faziam romagens ao templo levando as velas das suas embarcações que tinham prometido ao Bom Jesus em horas de eminente tragédia e de perigo para as suas vidas com o naufrágio a cercá-los. Estes mesmos marítimos, outras vezes ofereciam miniaturas dos seus barcos nos quais tinham sido salvos com o auxílio do Senhor. Todas estas ofertas tinham uma única finalidade: agradecer as graças que o Senhor lhes tinha concedido.

Entre as gentes do interior, mais ligadas à agricultura, não era menor a devoção. Para agradecer os favores ou «milagres» feitos, ofereciam ao Senhor figuras de cera representando diversos animais ligados à agropecuária, salvos de doença ou de pestes. Igualmente traziam grandes círios e, muitas vezes, até os cabelos das mulheres, também para agradecer «milagres». Do mesmo modo se ofereciam grandes quantidades de azeite para alumiar de noite e de dia a lâmpada do Bom Jesus.
Pessoas de classes com mais possibilidades económicas ofereciam alfaias litúrgicas e decorativas de prata e outros materiais valiosos e nobres, sempre como acção de graças.
Esta devoção ultrapassa a dimensão individual e atinge dimensões colectivas, porque, poderemos dizer, todo o povo desta área de Matosinhos, Porto, Gaia e Maia encarnou esta devoção ao Senhor de Matosinhos. A comprová-lo estão as preces públicas e as procissões realizadas em ocasiões difíceis para as populações, para a comunidade humana, com a intenção de pedir «milagres».
Assim, em «Junho do ano de 1526, por ocasião de um largo período de tempestades que destruíram as colheitas e desvastavam os haveres dos pobres, semeando a fome, foi a imagem levada em procissão de Matosinhos à cidade do Porto, sendo, assim, causa de bonança pois serenaram-se os ares» (Cerqueira Pinto, António, in obra supra citada, págs. 169-170).
Em sete de Junho de 1585, também por causa de tempestades e chuvas torrenciais, fez-se outra procissão à cidade do Porto. Em 1596, o motivo e o resultado foram os mesmos. Em 1644, no dia 20 de Junho, a imagem foi de novo à «cidade da Virgem» (assim é conhecida a cidade do Porto), mas agora a pedido do Senado do Porto que solicitou à irmandade do Bom Jesus auxílio para a calamidade pública que afectara a cidade. Nesta procissão ter-se-ão incorporado cerca de quarenta mil pessoas. Eis a crónica do milagre que teve lugar depois da celebração da Missa na Sé Catedral do Porto, neste dia: «Terminada a Missa cessó el dilúvio tuvo fin el agoa y se removió toda la tempestade de todos los malos temporales y lo rigoroso del tiempo, quedando tam fixo y de tanta bonança que admiro a los mesmos prasaentes tam repentino caso; enfim, obra deste Diviníssimo Senhor» (Manuel Pereira de Novais (monge beneditino), in «Anacrisis Historial, 1915, vol. IV).
Em 1696, foi novamente a imagem ao Porto para debelar uma epidemia que dizimava a população da cidade, os hospitais cheios e os cemitérios incapazes de suportar tantos corpos, atribuindo-se o fim da calamidade ao Bom Jesus de Matosinhos.
Em 1733, a procissão teve como objectivo dar um ar solene às obras importantes que tinham acabado de ser realizadas na igreja. A procissão saiu, tendo atravessado a Ponte de Pedra em direcção a Leça da Palmeira e regressado por uma de madeira, sobre barcos, construída para o efeito. Daí, dirigiu-se à Praia do Espinheiro, onde foram lançadas três bênçãos: uma sobre o mar, outra na direcção do Porto e a última ao povo de Matosinhos. Durante a cerimónia houve quem tivesse presenciado dois milagres: num deles, os peixes, no mar em frente, saltavam de alegria sobre as ondas da praia; no outro, o Sol teria parado durante bastante tempo e o dia ter-se-ia prolongado muito para além do que é normal. Depois das bênçãos a imagem regressou à igreja (António Cerqueira Pinto, 1737, in História da Prodigiosa Imagem de Cristo Crucificado …).
Em Junho de 1944, a imagem saiu à rua para agradecer a Deus o fim da Segunda Grande Guerra. Em 1967, saiu pela última vez, para celebrar o Cinquentenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima e pedir a paz no mundo.
Um dos mais característicos votos de gratidão com que os gregos agradeciam ao deus curador Euculápio, ou a outros deuses, a graça das curas, era a tábua votiva, uma pequena placa de barro cozido onde se indicava a doença de que padecera o ofertante ou o seu parente. Este uso estava ligado com a medicina grega que geralmente era exercida no templo pelos médicos-sacerdotes.
O culto católico conservou esse hábito pagão oferecendo tábuas votivas ou ex-votos aos Santos, à Virgem ou a Cristo que miraculosamente os protegeram. Eram oferecidos por ocasião de doenças mortais, guerras ou naufrágios, cativeiros e outras situações-limite.
É de várias dezenas a colecção de ex-votos oferecidos ao Bom Jesus de Matosinhos, narrando os «milagres» feitos aos suplicantes.
São tábuas de pequeno valor artístico e geralmente oriundas de gente simples". In Paróquia de Matosinhos

Texto da C. M. de Matosinhos/ Joel Cleto
http://www.cm-matosinhos.pt/uploads/document/file/4866/Apresenta__o_da_imagem_do_Senhor_de_Matosinhos.pd
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A Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos foi construída no séc. XVI pela Universidade de Coimbra que possuía o padroado do “Sam Salvador de Bouças” e sob a direcção de João de Ruão. Desta igreja não existe quase nada, pois a partir de 1743 sofreu grandes obras, dirigidas pelo grande Nicolau Nasoni. Todo o interior foi modificado e a fachada barroca transformou-a numa das mais belas igrejas portuguesas. Também a sua talha é uma das mais belas de Portugal.
Tem um amplo adro no qual estão seis capelas ligadas à paixão de Jesus Cristo.


Altar Mor no dia da festa


A festa teve início em 1733 e, ainda hoje é uma das maiores romarias portuguesas. No sábado anterior à festa a Igreja do Bom Jesus de Matosinhos é maravilhosamente decorada com flores. É uma verdadeira obra de arte floral que nos enche os olhos de beleza.
Tem um sentido católico muito forte, desde a Novena à Terça-feira do Espírito Santo, mas também é ocasião de muitos divertimentos, venda de doçarias da região norte, de louças de todos os estilos, artesanato, fogo de artifício, etc.


Procissão do Senhor de Matosinhos

Joel Cleto


Reportagem antiga de um baile dos romeiros, picnic, vendedor e jogo de bola num pinhal.



Gravura de louvor pela derrota dos franceses quando das invasões.

Legenda: “Senhor de Matosinhos que Vos dignaste excluir já três vezes do nosso País o Inimigo declarado de nossa felicidade, sede Nosso Amigo sempre contra este Perseguidor astuto do gênero Humano, fazei ver mil vezes a todo Mundo que só Vós sois Senhor dos Exércitos e das Victórias para glória do Vosso Poder e benefício dos Portugueses que têm sido objecto particular das Vossas Misericórdias”.

Horizontes da Memória – José Hermano Saraiva




Feira da louça



Ai que bom!


Construção da Ponte Móvel – anos 50


1962


4 vídeos sobre Matosinhos-Leça antigo - Uma delícia!



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