6.3.16 - Matosinhos, Leixões, Leça da Palmeira, Veronese - naufrágio, Farolim da Boa Nova, Farol de Leça, Casa de chá da Boa Nova
Veronese
Saído de Liverpool com 20 passageiros e 93 tripulantes, aportou a Vigo onde recolheu mais 119 passageiros com destino à América do Sul.
Debaixo de uma terrível tempestade encalhou no rochedo Lenho, cerca das 4 horas da madrugada do dia 16/1/1913, a 200 metros da Boa Nova, tendo aberto um grande rombo.
Pela manhã juntou-se muito povo para tentar resgatar os náufragos, mas só com os bombeiros de Leça, Porto, Póvoa e Viana foi possível lançar foguetões com cabos, porém tal era a distância e dificuldade provocada pelo vento, que somente 5 dos 58 atingiram o barco.
Pelos cabos foram salvos 89 passageiros e pelos salva vidas Rio Douro e Cego do Maio e os rebocadores Berrio e Tritão, 103. Perderam a vida 40 pessoas.
Um lavrador das redondezas foi abater dois pinheiros para dar altura à corda que haveria de salvar náufragos. Teve essa ideia após verificar que os cabos iam demasiado baixos e não atingiam o alvo.
O povo acorreu em grande quantidade, pensa-se que mais de 15.000 pessoas, muitas delas em gesto de ajuda e solidariedade.
Salvamento de um náufrago pelo sistema de cabo vai vem com uma bóia-calção. Ficou decidido que as primeiras pessoas a serem resgatadas seriam as crianças e mulheres, seguidos pelos homens e, por fim a tripulação. A primeira pessoa a chegar a terra foi uma menina de 15 anos, Doroteia Olkat. O último foi o comandante Charles Turner, somente ao terceiro dia após o encalhe.
Foto da missa do primeiro aniversário da tragédia. Ainda se vê o Veronese
A Capela de S. João da Boa Nova foi usada para abrigar os náufragos. Este salvamento demorou 48 horas terríveis e de tremendos esforços.
Naufrágio do Veronese - Invicta filme - 1913 - documentário excepcional
Tempestade em Leça da Palmeira – 4/1/2014
Entre 1916 e 1926, existiu nas imediações do local onde actualmente se situa o Farol da Boa Nova, o Farolim da Boa Nova, uma torre encimada por uma lanterna verde, com luz branca fixa, quadrangular branca com cerca de 12 metros, junto à Capela da Boa Nova, tendo estado dez anos em ensaios, findos os quais foi abandonado por se considerar pouco potente e ineficiente, mesmo após melhoramentos. Passou a servir de camarata aos alunos da Escola de Faroleiros e mais tarde demolido. No local subsiste ainda hoje o muro em alvenaria de pedra que sustentava a base da torre.
Este farol foi pedido pela Associação Comercial do Porto após vários trágicos naufrágios na costa a Norte de Leixões:
“Exmo. Ministro da marinha, Lisboa
Naufragaram nas madrugadas de 13 e 14 do corrente, perdendo-se totalmente, nas praias de Angeiras e Lavra, ao norte do porto de Leixões, os vapores “Silurian” e “Bogor”, havendo neste último a lamentar a morte de 34 tripulantes, além da enorme perda material das embarcações e seus carregamentos.
Em menos de três anos naufragaram, pois, nas pedras da costa do norte, entre Leixões e Esposende, os navios de guerra “São Raphael” e “Almirante Reis”; os vapores mercantes “Métèore”, “Vidago”, “Veronese”, "Silurian” e “Bogor”; e os hiates “Oceano” e “Viajante”, devendo notar-se que alguns destes sinistros, justamente os de consequências mais graves, ocorreram de noite, no meio da mais completa escuridão.
A Associação Comercial do Porto, fundada na opinião unânime da marinha mercante que frequenta esta costa do norte, insiste em que a deficiência neste ponto do litoral português tem tido grande parte nestes acontecimentos. Em tal convicção, vem novamente pedir ao ministério da marinha o imediato cumprimento da promessa, que lhe fez há um ano, por ocasião de uma catástrofe semelhante, da construção e instalação de um farol de grande alcance nas imediações de Esposende, que substitua, com vantagem para a navegação de longo curso, a luz que ali existe e que parece não ter mais de oito milhas de penetração.
(ass.) António da Silva Cunha, Presidente
(In jornal “Comércio do Porto”, de 15 de Dezembro de 1914)”
Farol da Boa Nova - 1926
Em 1926, 15 de Dezembro, entrou em funcionamento a título experimental o Farol de Leça, em substituição do farolim da Boa Nova.
Em 1927, 20 de Fevereiro, foi oficialmente inaugurado.
Em 1950 foi substituída a máquina de relojoaria por motores de rotação eléctricos, tendo-se, um pouco mais tarde, equipado o farol com um ascensor para acesso à torre.
Em 1964 o farol foi ligado à rede eléctrica de distribuição pública e foi-lhe instalada uma lâmpada de 3.000W, que lhe proporcionava um alcance luminoso de 60 milhas náuticas.
Em 1979 foram iniciadas as automatizações dos farolins do porto de Leixões (Quebra-mar, Molhe Norte e Molhe Sul) e o farolim de Felgueiras à entrada da barra do Douro. Estes farolins, passaram a ser controlados à distância a partir do farol de Leça, por meio de equipamento concebido para o efeito. Foi a primeira rede de farolins telecomandados da costa portuguesa. A potência da fonte luminosa foi reduzida com a instalação de uma lâmpada de 1.000W.
Em 2005 encontrava-se em curso, uma grande obra de remodelação e beneficiação do farol de Leça.
O farol situa-se a uma altitude de 57 metros acima do nível do mar, e tem uma altura de 46 metros.
A sua luz, de cor branca, alcança aproximadamente 28 milhas náuticas (52 quilómetros) e o seu sistema iluminante é constituído por uma óptica de cristal direccional rotativa com seis lentes. O seu sinal luminoso distingue-o de todos os outros por produzir três lampejos luminosos de 14 em 14 segundos.
Junto do farol já funcionou um sinal sonoro de nevoeiro, consistindo num duplo grupo de máquinas compressoras que faziam soar duas trompas, tudo accionado por um motor de combustão de 30 cavalos. As suas características eram: Som 5s; silencio 25s; período 30s.2
Possui 225 degraus: 213 em cimento armado, pertencentes à torre; 12 em ferro fundido que fazem já parte do aparelho iluminante.
Farol da Boa Nova – vídeos
Subida ao Farol da Boa Nova e da Câmara do Porto
1962
Casa de chá da Boa Nova em construção – arqtº. Siza Vieira – 1958/1963
1963
Paradigma da inserção da arquitectura na paisagem, a Casa de Chá da Boa Nova foi construída sobre os rochedos, a dois metros do mar, entre os anos de 1958 e 1963, e depressa se tornou numa referência obrigatória.
A escolha daquele lugar difícil mas deslumbrante partiu de Fernando Távora, que havia ganho o concurso de arquitectura. “A solução surge hoje como óbvia e inevitável, mas só a grande experiência e a intuição de Fernando Távora a tornaram possível”, reconheceu Siza Vieira, o arquitecto que viria a ficar responsável pelo projecto. Na altura, Siza Vieira era discípulo de Fernando Távora e a Casa de Chá da Boa Nova marcou o início da sua carreira, consagrada mundialmente em 1992, com a obtenção do prémio Pritzker, o “nobel” da arquitectura.
Depois de alguns anos de abandono, o edifício foi alvo de profundas obras de requalificação por parte da Câmara de Matosinhos, novamente sob a orientação de Siza Vieira. Até o mobiliário original foi reproduzido de acordo com os desenhos da época e usando os materiais inicialmente previstos, com o objectivo de devolver à Casa de Chá da Boa Nova toda a beleza e singularidade que levou à sua classificação como Monumento Nacional, em 2011
Visita guiada à Casa de chá da Boa Nova
1927 - Extraordinário filme da Cinemateca Portuguesa sobre Matosinhos, Leça e área até Leça do Balio, Construção do Porto de Leixões e actividade de pesca a partir do minuto 21 - um verdadeiro documento histórico.
Este filme já foi publicado em 2/3/2016, porém, repeti-lo, parece-nos ser a melhor forma de terminar este capítulo.
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