quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

ELÉCTRICO XII

6.26.7 - O Eléctrico XII - Minas de S. Pedro da Cova, Cavalete do Poço de S. Vicente, S. Pedro da Cova abandonada, Museu Mineiro de S. Pedro da Cova


Mineiros de S. Pedro da Cova

“Da sede de concelho, segue a estrada para a região mineira da freguezia de S. Pedro da Cova, nome que a disposição topographica rigorosamente justifica. A paysagem severa e melancholica parece condizer nas suas linhas ásperas com a mysteriosa vida subterrânea, que se sente palpitar em toda a extensão d’esta pequena bacia orographica. As medas de anthracite accumulam-se á superfície da terra, os seres vivos apparecem-nos empoeirados de carvão, ouve-se á bocca dos poços o soluçar estridente dos cestos que sobem e descem, como se um mysterioso poder, occulto nas entranhas da terra, os repellisse com impulso desabrido.” (Vieira, 1887) 


Google Earth

Situada a 10 km da cidade do Porto e a 4 km da sede do concelho, a Vila de S. Pedro da Cova tem uma área de 14,42 km2 e 17 324 habitantes (Censos 2001). Confronta a Norte com Alfena e Valongo (Valongo); a Sul com as freguesias de Jovim e Foz do Sousa (Gondomar); a Oeste com a Vila de Fânzeres e a cidade de Gondomar (S. Cosme) e a Este com as freguesias de Aguiar do Sousa (Paredes) e Campo (Valongo). As referências históricas sobre S. Pedro da Cova remontam aos princípios da fundação de Portugal: em 1138, o Couto de S. Pedro da Cova foi doado por D. Afonso Henriques a D. Pedro Rebaldis, sucessor de D. Hugo, Bispo do Porto. Em 1379, D. Afonso III confirmou a doação do Bispo do Porto do Couto de S. Pedro da Cova, no julgado de Gondomar. Com a extinção dos coutos em 1820, a freguesia de S. Pedro da Cova adquiriu a designação de concelho, que foi extinto em 1836,…


…passando a pertencer definitivamente ao concelho de Gondomar (freguesias.esoterica.pt/jf-spedrocova/). Em 1989, a freguesia foi elevada a Vila. Sem ter perdido o cariz agro-pecuário, a partir de 1802, S. Pedro da Cova tornou-se um importante pólo industrial na sequência da descoberta de jazidas de carvão (e também manganês e volfrâmio), materiais imprescindíveis ao arranque e desenvolvimento da industrialização oitocentista. 
Durante muitas gerações, foram as minas de S. Pedro da Cova um dos grandes alicerces da economia do país e da Região Norte. A sua dinâmica tornava-se visível a quem percorresse a região do Grande Porto,


Posto de lançamento das cestas metálicas

confrontando-se com o vaivém incessante de cestas metálicas, movimentando-se ao ritmo febril da actividade do complexo mineiro, percorrendo cabos paralelos que se sobrepunham aos povoados, vias de locomoção e a todo o género de acidentes orográficos do concelho (Câmara Municipal de Gondomar, 1999). Nos anos 30 do séc. XX, a exploração mineira intensificou-se em grande escala, então na posse da Companhia das Minas de Carvão e S. Pedro da Cova e transformou-se num pólo importante de migração, localidade que passaria a ser conhecida por "terra mineira", por excelência, até que a década de 1970, trouxe o encerramento da mina. (www.ippar.pt).


Complexo industrial

As Minas de São Pedro da Cova (São Pedro da Cova, Gondomar) datam a sua descoberta de 1795, no lugar da Ervedosa, tendo sido reconhecida a existência da bacia carbonífera em 1804/05. Eram minas de carvão, do tipo antracite (de origem mineral), em geral de boa qualidade.


Corte transversal, profundidade e comprimento das minas de S. Pedro da Cova

A profundidade da mina é de 140 metros e a sua máxima extensão horizontal de 320 metros. O sistema adoptado na lavra era o de talhes laterais, enchendo o vazio dos desmontes com entulhos trazidos na maior parte da superfície, visto os trabalhos subterrâneos pouco produzirem, por serem executados no interior da camada de carvão (Oliveira, 1983).


Foi intensamente explorada a partir dos anos 30 do séc. XX, com extracção de carvões domésticos e industriais (energia temo eléctrica, produção de vapor, fábricas de cimentos, etc.) (FCG, 1985). 


In Portojofotos


As minas estavam ligadas à cidade do Porto por cabos aéreos que levavam o carvão em vagonetas, aos depósitos de Rio Tinto e Monte Aventino numa extensão de 9 km e à Central Térmica da Tapada do Outeiro numa extensão de 10,5 km (FCG, 1985). Hoje encontram-se em estado devoluto.

Percuso dos cestos sobre o Douro - vídeo
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Cavalete da mina de S. Vicente – construído em Agosto de 1936



Esquema de dispositivo de produção às “andorinhas” do poço de S. Vicente

O cavalete de extracção de carvão e as instalações do poço de S. Vicente da Mina de S. Pedro da Cova, incluindo a casa da Malta (S. Pedro da Cova, Gondomar) são um conjunto arquitectónico construído em betão, cuja presença dominante na paisagem tornou-se símbolo da actividade mineira na freguesia de S. Pedro da Cova. Localiza-se nas proximidades do Largo do Outeiro, Rua de Santa Helena, Rua das Minas, Rua do Centro Revolucionário Mineiro e Rua Nova, sobre o Poço de S. Vicente. Enquadradas num ambiente rural, isolado nas proximidades de pequenas habitações, as antigas Minas de São Pedro da Cova localizam-se a Oeste da serra de Valongo, nas proximidades do Outeiro dos Foguetes. O cavalete pela sua altura destaca-se de um complexo construído em apoio à actividade mineira (www.monumentos.pt). Em 1795, foram descobertas abundantes jazidas de carvão em S. Pedro da Cova (existindo as de manganês e de volfrâmio em Zebreiros), material imprescindível ao arranque e desenvolvimento da Industrialização oitocentista que se seguiu. O ano de 1921 é a data provável da construção do Poço de São Vicente, com a orientação técnica do Eng. Carlos Barros. 
O Poço de São Vicente, dada a sua capacidade de extracção, era o mais importante deste complexo e localizava-se junto ao limite entre as duas mais importantes concessões do Couto Mineiro: a de São Pedro da Cova e a do Passal. Segundo o relatório do Eng. Augusto Farinas de Almeida, director técnico da mina de São Pedro da Cova, o Poço de São Vicente possuía na época uma profundidade de 148 metros e uma secção circular de 4 metros de diâmetro revestida com betão de 25 cm de espessura (www.monumentos.pt). O cavalete de extracção de carvão, construído em 1935, totalmente em betão, localiza-se sobre este poço. Desconhece-se o seu projecto e autoria, existindo um projecto anterior de técnicos franceses utilizando uma estrutura metálica. O cavalete propriamente dito é constituído por uma estrutura vertical porticada, marcado por quatro pilares nos ângulos e sucessivos patamares de contraventamento. Com uma altura aproximada de 13 pisos tinha como função principal apoiar na parte superior grandes roldanas vulgarmente designadas por "andorinhas", nas quais deslizavam cabos de aço que desde a máquina de extracção passavam por estas até desceram na vertical aos poços.


“Andorinhas” do poço de S. Vicente

O remate superior do cavalete onde se localizavam as "andorinhas" é ligeiramente mais profundo e mais largo que o corpo da torre passando a apresentar seis pilares nos ângulos. Este aspecto é conseguido através de sucessivos frisos com uma guarda de betão ao nível da plataforma de assentamento das roldanas e na parte superior pelo beiral denteado da cobertura, os quais referenciam este elemento a edifícios como a Clínica Heliantia. A cobertura em telhado apresenta seis águas. As escoras do cavalete prolongam-se inclinadas até ao terreno com uma quebra de forma a garantir a manutenção de um acesso pré-existente. O corpo da torre com diversos patamares unidos por escadas apresenta nos sucessivos níveis guardas em betão armado de expressão delicada. Na base do cavalete na parte inferior de uma escada metálica, vê-se uma inscrição em relevo: "Poço de S. Vicente - 1935"” (www.monumentos.pt). Nos anos trinta do séc. XX, intensificou-se a extracção mineira, assistindo-se, então, a um processo de migração para S. Pedro da Cova, localidade que passaria a ser conhecida por “terra mineira”, por excelência (www.ippar.pt). Em Julho de 1934, iniciou-se a remodelação do antigo cavalete em madeira, tendo sido concluída em Agosto de 1936. Foram construídos oito silos em cimento armado, para carga de zorras, com uma capacidade de cerca de 500 toneladas, seis silos em cimento armado para carga do cabo aéreo, com uma capacidade de cerca de 450 toneladas e de um novo edifício para escritório da mina, adaptando o antigo armazém (www.monumentos.pt).


O fim...

Em Março de 1975, a exploração mineira de São Pedro da Cova foi encerrada e dois anos mais tarde, a suspensão da lavra foi requerida.


A casa da malta era onde ficavam os mineiros vindos de fora da terra

A memória produtiva das minas cristalizou-se no seio da primeira “Casa da Malta” (assim designada por nela habitarem os trabalhadores oriundos de outras regiões do país) (www.monumentos.pt), um exemplo vivo da preservação de todo um passado histórico relativo à tradição mineira local, bem como à memória colectiva das gentes de S. Pedro da Cova (www.amp.pt).


Localizado na Rua de Vila Verde, o Museu Mineiro é uma antiga casa que servia de alojamento aos mineiros, os "malteses", este edifício foi adquirido à Companhia das Minas de Carvão e reconstruído e reconvertido em museu pela Junta de Freguesia da Vila de S. Pedro da Cova, desde 30 de Setembro de 1989. As rodas ou “andorinhas” do Cavalete estão agora ao ar livre no jardim do Museu Mineiro. A empresa a quem se encontra arrendada o couto mineiro de S. Pedro da Cova procurou nos últimos anos a recuperação do carvão dos maciços de protecção à superfície, assim como do existente nas escombreiras produzidas pela arrendatária (www.monumentos.pt). O conjunto arquitectónico formado pelo cavalete de extracção de carvão, as instalações do poço de S. Vicente da Mina de S. Pedro da Cova, incluindo a Casa da Malta está em vias de classificação desde 1996. (www.ippar.pt).

Visita ao Museu de S. Pedro da Cova 

2 comentários:

  1. Olá
    Ainda me lembro de ver as cestas do carvão no ar....
    Cumprs
    Augusto

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  2. E eu também. Quando as via "sonhava" um dia ir nelas para apreciar os locais por onde passava. Sonho de criança!

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