sexta-feira, 21 de outubro de 2016

TRANSPORTE DE TODAS AS MERCADORIAS POR TERRA - I

6.25.2 – Transporte de todas as fazendas por terra - I


Vias medievais do Termo do Porto – Carlos Alberto Ferreira de Almeida - in História do Porto – Luis Oliveira Ramos.


“No Porto considera-se eminente uma greve dos donos de carros de bois, como protesto contra a câmara municipal que mandou modificar os eixos e as rodas destes vehiculos” Almanach Palhares, 13 de Setembro de 1910


Em Miragaia vendo-se ao longe o Palácio das sereias

"O carro-de-bois, será certamente um dos mais primitivos meios de transporte, remontando a sua origem a tempos imemoriais, à altura em que Homem inventou a roda e aprendeu a domesticar os animais e a colocar a sua força ao seu serviço, em diferentes formas e contextos. 
Em Portugal foi sempre um instrumento importante no desenvolvimento do país e da sociedade, assegurando o transporte dos produtos necessários ao do dia-a-dia das populações, da floresta ou da campo bem como da matéria prima necessária à construção das cidades, vilas e aldeias, como pedra, madeira, areias, argilas, etc.
Hoje em dia ainda é utilizado mas apenas em meios rurais interiorizados, em aldeias com difíceis acessos, servidas por caminhos estreitos e sinuosos, onde o tractor não chega. Mesmo assim já serão raros os exemplares que sobrevivem. 
Todavia, até há cerca de duas décadas atrás, mesmo já com a vulgarização do tractor, que susbtituiu em rapidez e eficiência muitas das tarefas do campo e da floresta, o carro-de-bois era um elemento vulgar na maior parte das localidades rurais.
Neste momento na minha aldeia ainda sobrevive um exemplo, com um velho agricultor que ainda detém uma parelha de bois e o inevitável carro e alfaias, como a charrua, a grade e o arado. Mas recuando esses vinte ou trinta anos atrás, existiam vários carreteiros, ou laboreiros, que asseguravam a prestação do serviço de lavoura e transporte, para além de que muitos dos agricultores, como meu pai ou meu avô, tinham as suas próprias parelhas ou juntas de bois e os carros. Para além do carro normal, existia ainda a variante de carroça, a qual tendo a mesma configuração, era ligeiramente maior e dispunha de rodas raiadas e sistema de travões”. Blogue Santa Nostalgia


Transporte de esteios – postal de 25/11/1920 – de reparar na roda de ferro que deve ser um travão



Carros de bois na Ribeira aguardando carregamento. Os bois mais utilizados eram de Ramalde, com grandes cornos, considerados os mais fortes.


1900


Ribeira - carros de bois esperando transporte - c. 1900


Transporte de panelas - 1900


Carregando cebolas


Pausa em frente aos Congregados - 1905


Que bela foto do Cais das Pedras em plena laboração - 1910


Na esquina da Rua de Mouzinho da Silveira e do Infante D. Henrique


A Rua de S. João era uma das mais ricas do Porto devido à concentração de armazenistas de mercearia.


Rua do Infante D. Henrique – 1924



Foto tirada do lado de Gaia abaixo da Serra do Pilar.

“Os carros de bois fizeram parte da paisagem do Porto durante séculos. Vinham dos arredores, antes do nascer do sol, e concentravam-se na Ribeira, na Alfândega ou junto aos mercados e aos grandes armazéns. Transportavam qualquer tipo de mercadorias para qualquer ponto da cidade ou da periferia. Em 1894 estavam registados e ativos pelas ruas do Porto 248.370 carros de bois. Acabaram por ser proibidos na década de 1940 para dar lugar aos veículos motorizados”. Texto de Germano Silva



Jugos trabalhados

“Na minha aldeia existiam antigamente alguns carros de bois que quando andavam vazios faziam uma chiadeira infernal. Daí eu aprendi uma lição que jamais vou esquecer
Certo dia meu pai, homem trabalhador e muito sabedor também.
Disse me que íamos essa manhã roçar uns molhos de mato para fazer a cama dos animais
Fui com muito prazer até ao pinhal acompanhando o meu pai, e numa clareira depois de algum silencio pergunta me ele:
Além do chilrear dos pássaros, estás a ouvir mais alguma coisa??
Apurei os ouvidos e disse lhe que sim , estava a ouvir a chiadeira dum carro de bois que pelo som vinha na sua marcha pachorrenta
É isso mesmo disse o meu pai; é um carro vazio
Então como é que sabe que esta vazio?? não o estamos a ver ....
Pois é , é muito fácil saber quando um carro de bois vem vazio, por causa do barulho.
Quanto mais vazio vier mais barulho faz.
Agora depois de muitos anos passados, quando vejo alguém a falar alto de mais, a gritar, ou a tratar os outros com prepotência querer fazer ver que é dono da razão e da verdade total, sinto a voz do meu pai a dizer : quanto mais vazio vai o carro de bois, mais barulho faz.
Tenham um óptimo dia e pensem nisso”. Blogue Ecos da aldeia.


Arredores do Porto

O carro de bois terá sido um dos mais antigos meios de transporte de mercadorias. Quando tratámos da Ribeira, em Outubro de 2015, mostrámos o quão importante era este meio de transporte para a economia da cidade. Há certamente milhares de anos já era utilizado, sobretudo para os trabalhos da agricultura. 
Os portuenses eram muito incomodados pelo barulho dos eixos o que levou a Câmara a exigir que os tratassem de forma a fazer menos ruído. Recordámo-nos que em Paredes os lavradores untavam os eixos com gordura. 

Carro de bois de Trás-os –Montes – com chiadeira das rodas

5 comentários:

  1. MUITO INTERESSANTE ESTE TEMA! TENHO A OBRA "HISTÓRIA DO PORTO" E LÁ NÃO ESTÁ "VIAS MEDIEVAIS DO TERMO DO PORTO" DE CARLOS ALBERTO FERREIRA DE ALMEIDA. PODER-ME-IAM INFORMAR SE ESTÁ NOUTRA OBRA OU SE É OBRA AUTÓNOMA? GRATA

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  2. Muito obrigado pelo seu comentário. Na História do Porto de Direcção de Luis A. de Oliveira Ramos, editada pela Porto Editora, encontrará a páginas 186 a referida gravura.
    Cumprimentos
    Maria José e Rui Cunha

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    1. Maria José e Rui Cunha, obrigada pela V/ resposta. Só agora a vi. Mas, no livro «História do Porto», de Luis A. de Oliveira não tem nenhum artigo de C. A. Ferreira de Almeida. Há o mapa que publicam num artigo de Armindo de Sousa, as notícias dos transportes para o Porto, não estão lá. Se me puderem esclarecer, fico muito grata. O meu e-mail se preferirem é: hnatividade@gmail.com

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  3. Não nos recordamos já algo mais sobre este assunto.
    Maria José e Rui Cunha

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  4. Uma viagem pelo tempo. Parabéns aos autores pelo artigo muito bem escrito.

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