6.26.1 - Transportes de passageiros II - Cadeirinhas do Porto, Seges, Liteiras e Traquitanas
Cadeirinha do Porto
In O Tripeiro - Volume V
Cadeirinha do Porto - 1888
In O Tripeiro – Volume V
Um Velho Tripeiro descreve, de forma divertida, a cadeirinha portuense: “Não corria parelhas com o caracol, esse cómodo e económico veículo; porque, embora não tivesse rodas, marchava a quatro pés de dois possantes de Tuy, que, no seu passo cadenciado, venciam as distâncias em pouco tempo. E não pense que o trabalho da cadeirinha era trabalho material. Não senhor. O ofício de cadeirinha era tido, na classe, como superior ao da delicada indústria que nos fornece instrumentos de precisão e de marcação de tempo. Tanto assim que, quando algum dos transportadores, por falta de prática, ou por lhe doerem os cascos, faltava ao ritmo locomotivo, o companheiro admoestava logo pela seguinte forma:
“Oh Xoan acerta o passo.
Se num sabes do ofício, vai aprender a reloxoeiro!”
Ora, aquele tipo de veículo, com forma de uma retrete ambulante, era cómodo, porque a pessoa que fosse dentro dele, sentada, não estava sujeita às oscilações e solavancos dos veículos de outra espécie: tal era a serenidade com que os portadores o conduziam, suspenso pelos varões em correias pendentes dos ombros deles, que, a não ser algum acidente extraordinário, chegavam ao seu destino com os intestinos no seu estado normal.
Tinham cadeirinha privativa os bispos e outros magistrados, assim como certas casas particulares do Porto. Havia-as discretas e muito luxuosas, consoante as posses do proprietário. Também havia cadeirinhas de aluguer que pertenciam aos galegos que as transportavam.
Cadeirinha de família rica – desenho de Roque Gameiro
In O Tripeiro volume V
Em alguns locais da cidade também havia cadeirinhas de aluguer que custavam 1 pinto cada viagem.
Liteira - 1859
Liteira de machos – desenho de Roque Gameiro
Já o mesmo se não podia dizer da liteira pois os machos a abanavam muito mais.
“Tipo de transporte de dois lugares, sem rodas, puxado por duas mulas.
As mulas atrelavam-se aos varais fixos nas ilhargas laterais. Pertenceu à família dos Melos, Alvins, Velhos e Carrilhos. “O exterior apresenta caixa aberta com dois lugares frente a frente, modelo italiano Painéis decorados com cercaduras de volutas e concheados, apresentando cenas alegóricas onde se reconhecem as figuras de Neptuno, Belona, Ceres, Apolo e Mercúrio. No alçado traseiro o brasão que identifica o proprietário. O interior é forrado a damasco vermelho”. Blogue de JMGS
Sege ou traquitana
E a sege, então, tornava-se torturante pelos saltos provocados pelas covas e irregularidades da estrada. James Murphy, de que damos uma pequena descrição sua no início do lançamento anterior, viajava numa sege para Lisboa. No primeiro dia chegou aos Carvalhos e no segundo, depois de 15 horas de viagem, chegou à Arrifana. No terceiro, depois de esperar que os galegos assistissem à missa, pois era Domingo, chegou às 5 da tarde a Albergaria-a-Velha. Ao quarto atravessou o Vouga até à Mealhada e atingiu Coimbra às 10h. da manhã do quinto dia. No sexto partiu para o Pombal, e no sétimo para a Batalha, sem parar em Leiria. Descansou aqui uns dias para conhecer o mosteiro e seus arredores e partiu para Vila Franca donde seguiu de barco para Lisboa, o que lhe demorou mais dois dias. Teriam sido portanto uns 9 dias úteis de viagem, sempre aos solavancos.
Em 1841 ainda se levava 7 dias e, em 1862, o 1º. Visconde de Castelões, que fretou uma carruagem puxada a cavalos, “só” demorou 5 dias. Ainda havia gente muito teimosa, rija e saudável! Por causa destas grandes dificuldades de deslocação por terra se compreende que a maior parte dos viajantes o fizessem por mar, apesar da perigosidade da barra do Douro.
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