O palacete do grande incêndio da Boavista
Por António
Coutinho Coelho
Esta casa, na esquina da Avenida da Boavista com a Rua de Belos
Ares, não foi construída por um qualquer «brasileiro- de-torna-viagem», nem foi
propriamente demolida. Foi a morada do banqueiro Manoel Pinto da Fonseca, e destruída por um incêndio,
no dia 14 de Outubro
de 1926.
Manuel Pinto da Fonseca nasceu em 10 de Outubro de 1804 em Divino Salvador de Moure, Felgueiras. Era filho de Francisco Pinto Lemos e Violante Ribeiro da Fonseca e irmão de Joaquim Pinto da Fonseca e António Pinto da Fonseca.
"Em A Infanta Capelista e em O Carrasco de Vítor Hugo José Alves
(1872), são os grandes negreiros Fonsecas, Manuel e Joaquim, os chamados à
colação. O primeiro, Manuel Pinto da Fonseca, porventura o único grande
negreiro invocado, até então, pelo nome próprio, na ficção portuguesa. Negreiro
classificado, nos anos quarenta, no Rio de Janeiro,
pelos comissários ingleses ali destacados para fiscalizarem o tráfico de escravos, como o maior deles. Regressado a Portugal em 1851,
aureolado com a fama de uma fortuna
fabulosa, as aquisições de quintas e palácios faustosos aliadas a um comportamento social extravagante de novo rico, tiveram grande eco nomeadamente na imprensa. O
que lhe valeu ser alcunhado de “Conde de Monte Cristo”. Camilo refere-o,
nominalmente, associado ao presuntivo amigo, o conde de Baldaque: Tal era
aquele Raul, (Epifânio em A Infanta Capelista) filho único do conde de
Baldaque, milionário que entrara em Lisboa
com o seu sócio e amigo Manuel
Pinto da Fonseca,
o homem que as mulheres de carne cognominaram ‘o conde de
Monte Cristo’.
Quando regressaram, os dois irmãos fizeram carreira como banqueiros. Criaram a casa Pinto da Fonseca & Irmão, que se veio a fundir, mais tarde, com o Banco Burnay e dar origem ao Banco Fonsecas e Burnay".
Pinto da Fonseca & Irmão na Praça da Liberdade, 35 a 37, em 1920
"Francisco Isidoro Viana, em 1860 fundava a casa Fonseca, Santos e Viana. Vejamos quem eram os seus sócios. Carlos dos Santos Silva, filho do 1.° barão de Santos, nascera no Porto, em 1828, e emigrara para o Brasil com 18 anos, para trabalhar com um tio. Após ter casado com a filha de um grande banqueiro do Pará, regressara a Portugal, associando- se então a Francisco Isidoro e aos irmãos Fonsecas, também ligados ao Brasil. Um destes irmãos, vulgarmente conhecidos pelos Monte-Cristos, viria a casar com uma filha de Francisco Isidoro, assim solidificando os laços do grupo. Sobre os irmãos Fonsecas corriam as coisas mais fantasiosas, reveladoras da sua espectacular fortuna: um deles, dizia-se, comia em baixelas de prata renascentista, bebia em taças de oiro e fazia-se conduzir em caleches reais; outro, instalara-se, com pompa e circunstância, no Palácio Palmeia, ao Calhariz, tendo, pouco depois, comprado, em Sintra, a Quinta do Relógio, além do Palácio da Mitra, à Junqueira, tudo edifícios sumptuosíssimos. A casa bancária Fonsecas, Santos e Viana manteria sempre relações íntimas com o Tesouro, através não só do contrato do tabaco, mas também dos empréstimos que foi fazendo ao Estado. (Cf. Maria Filomena Mónica, Capitalistas e industriais (1870-1914))
Em 1861 (reinado de D. Pedro V), o terreno é adquirido por Manuel Pinto da Fonseca, um negociante rico e traficante de escravos conhecido como «Monte Cristo», denominação retirada do conhecido romance de Dumas publicado em 1846, por ter enriquecido à custa dos escravos. Manuel Pinto da Fonseca entregou o projecto da casa a António Manuel da Fonseca Júnior.
Adquirida por Manuel Pinto da Fonseca, traficante de escravos com o Brasil e cognominado o "Monte Cristo", pelas múltiplas viagens e vida atribulada, as anteriores construções foram demolidas, para dar lugar a um dos mais exóticos palácios privados sintrenses. Inspirando-se possivelmente nas suas viagens tendo em vista o acesso à sociedade erudita, culta e endinheirada da Nobreza de Corte (Regina Anacleto, 1994, p.116), optou por uma estética neo- árabe, para o que contratou o arquitecto António da Fonseca Júnior, que encontrou também importantes sugestões estilísticas na própria serra de Sintra, em particular nos palácios da Pena e de Monserrate. A obra é uma das mais marcantes construções românticas da zona.
“Conta-se que, um dia o rei D. Pedro V passava diante desta casa na companhia do seu amigo o marquês de Sá da Bandeira, este último, ouvindo a doce melancolia de um repuxo, perguntou-lhe: «Senhor, o que é este barulho?». «certamente a água» « Não, senhor, é o sangue dos negros flagelados pelo chicote que este homem transformou em ouro»
Avenida da Boavista, perto da Rua da Belos Ares
Avenida da Boavista com os carris da STCP
17 subindo a Avenida da Boavista
Fonte da Avenida de Montevideu
Linha 1 - vê-se a popa do Jackob Maerk junto ao Castelo do Queijo
O 17, que ia da Praça da Batalha ao Passeio Alegre, entrando na Praça Gonçalves Zarco – diariamente nele viajávamos para ir para o Colégio Brotero.
Eléctrico, com dois atrelados, circulando pela esquerda na Avenida de Montevideu, frente à casa da família Moreira – Deve ser a linha 1 de Matosinhos à Praça do Infante - 1905
Carro “Brill” de Bogies – o mais cómodo e sereno devido à sua suspensão – foto Os Velhos Eléctricos do Porto.
Foz do Douro antigamente
Mar agitado na praia de Gondarém
Carreiros – à direita é visível o Gilreu
1920
Eléctrico com 3 atrelados
“O carro motor desta curiosa composição foi construído pela Constructora, entre 1904 e 1906. No Museu do Carro Elétrico encontra-se um veículo da mesma série, o 163”. In Porto Desaparecido
Avenida Brasil – Photo Guedes
Eléctricos com 2 tróleis - 1904 - Photo Guedes
Avenida Brasil – c. 1940 – pelas casas e as árvores parece-nos perto de Rua do Molhe – dia de Sol e de grande tráfego de eléctricos. O da frente deve ser o “belga” da linha 1 para Matosinhos. Este carro já tinha janelas de abrir pelo que era permitido fumar.
Avenida Brasil – anos 30 – ainda não está colocado o Salva Vidas
O Salva Vidas – 1937 - Henrique Moreira (1890-1979)
Na Rua da Senhora da Luz – ainda se circulava pela esquerda - 1927
No Passeio Alegre – carro importado da Alemanha – o atrelado do meio era aberto para os fumadores - ainda havia bons artistas que construíam postes em ferro muito belos.
Eléctrico com 2 atrelados – Um aberto para desfrutar o bom tempo e o outro para o transporte de peixeiras e canastras – Photo Guedes
Foto de 1900
O 100 era aberto e usado no verão - foto de 2012
Eléctrico 100 - interior
Bancos com estofos de palhinha - estes bancos eram os mais bonitos e cómodos. Porém, talvez devido ao seu preço, foram substituídos por forrados em plástico.
Carro “Brill” de Bogies no Passeio Alegre – era o carro mais cómodo pelas sua suspensão - em cima a Igreja de S. João da Foz.
No Passeio Alegre
O “Belga”, como era conhecido – Construído em 1929, tinham 40 lugares sentados - pena é que só circulava na linha 1 do Infante a Leixões
Uma viagem na linha 1 - 2015
Os obeliscos da Prelada só foram aqui colocados em 1938
Era muito comum verem-se estes soldadores a tratar dos carris destruídos pela contínua passagem dos eléctricos. Eram frequentes os furos dos pneus dos automóveis provocados pelas rebarbas dos carris.
Eléctrico 172 a ser carregado para um barco que o levará aos EUA - este veículo e a zorra n.º 64 foram adquiridos pelo Rockhill Trolley Museum - in Porto Desaparecido
Eléctrico 249 a chegar a Filadélfia - 1972
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