quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

BICICLETA

6.26.9.1 - A Bicicleta - Evolução da bicicleta, Club Velocipedista do Porto, Corridas de bicicleta no séc. XIX, Real-Velo Club do Porto, Velódromo Rainha D. Amélia, 


Antes da invenção dos motores a explosão havia já veículos de transporte movido a “gazo-broa”. 
Começou no início do séc. XIX e estendeu-se até aos nossos dias. Era a bicicleta. Já dedicamos alguns lançamentos a este transporte, tendo destacado o desporto. Esta “máquina” entrou de tal forma no nosso dia a dia que passou a ser o habitual meio de transporte para alguns portuenses, mas muito mais seria se o Porto fosse uma cidade horizontal. Até porque é muito mais barato o “combustível”. 
Sobre o desporto ciclista poderão visitar o nosso lançamento de 16/1/2014.


“Em 9 de Março de 1880, um grupo de rapazes fundava no Porto o Clube velocipedista Portuense, a primeira agremiação velocipédica do nosso país, e em 18/7 o referido clube organizava a primeira corrida de velocípedes que houve em Portugal; em Lisboa só se organizaram alguns anos depois. A corrida foi em estrada, contra cronómetro, entre a Alameda de Matosinhos e o Passeio Alegre da Foz (cujo vencedor foi Aurélio Vieira que fez o percurso em 13 minutos e 8 segundos, em estrada com muito trânsito e mal cuidada)…


…Foi tão grande o seu êxito, que em Novembro seguinte se organizaram novas corridas – as chamadas “corridas de Outono” desta vez na Rotunda da Boavista.
Os jornais da época falaram, com espanto, do elevadíssimo número de pessoas que ali se juntou para presenciar as lutas que se travaram na improvisada pista; do extraordinário movimento de trens, de nunca vista afluência de gente nos Americanos, da grande quantidade de senhoras da nossa primeira sociedade que acorreu à função. 
O periódico humorístico de Sebastião Sanhudo, o famoso “O Sorvete”, dizia: 
“- Palavra que gostei… velocípedes a toda a brida, música de Caçadores, Senhoras entusiasmadas, convidados formalizados, muito povo a aplaudir os “cavaleiros”, muita chalaça aos mais ronceiros, muita animação, muita reinação e, sobretudo, muita satisfação. 
Tudo muito bom… gostei; para outra vez, fico freguês”.
E, dizia ainda:
“- Agradou-me a função; falo com o coração na mão! Carlos Soares, Luis Vilares, Camilo de Almeida e Minchin, estes sim!
O Puls, o Sousa e o Tugman levaram sempre a vantagem… de correr atrás dos outros, como quem vai na bagagem…”. 
“- Senão fosse o garoto do Minchin, um inglesito azougado, desembaraçado, desempenado e que parecia desengonçado, a palma da vitória, a grande glória tinha cabido toda aos portugueses”. Artur de MagalHães Basto em O Tripeiro Série V, Ano V.
Jorge Minchin Junior, o campeão, faleceu em 2/7/1939 com 77 anos


Campeão em 1880 – todo orgulhoso com as suas taças. Foram os ingleses que começaram as corridas de ciclismo no Porto. 


Jacinto Matos (horticultor), Abel do Nascimento Pereira Magro (escrivão de direito) e Cristóvão Lagoá (negociante) velocipedistas que participaram na corrida do Palácio de Cristal, em 9/12/1883 – foto de Agosto de 1945.


“Almeida Barros e Magalhães Campos, realisaram domingo passado, pelas 4 e meia da manhã, a corrida em bicycletas, desde o Club, Campo Pequeno, Villar, Campo Alegre, rua de António Cardoso, Bellos Ares e Boavista e vice-versa. A aposta entre os dois era de 10$000 réis e a condição era que: o primeiro que desmontasse em qualquer subida, perdia.
Magalhães de Campos, na subida de Villar, quasi ao cimo, teve de desmontar, seguindo sempre Almeida Barros, que foi sempre montado. Era vigia por parte do sr. Campos, Ernesto de Magalhães e por parte do sr. Almeida Barros, o sr. Dias, que acompanharam sempre os corredores.
Juiz de partida e chegada – Vidal Oudinot, o qual entregou a quantia de 10$000 réis ao vendedor”. O Velocipedista – 1893.


“Foi tirada num estúdio do Porto, na sua primeira viagem a esta cidade, cerca de 1894, esta foto do Infante D. Manuel [futuro Rei D. Manuel II]. (Cliché da Phot. União – Porto)” In Velocipedista
“Pestalozzi, o celebre pedagogo, afirmava que no brincar da creança podiam vêr-se as acções futuras do homem. Por uma subtil revivescência de inclinações ancestrais, a mecânica, esse officio dilecto aos Orleans e aos Bourbons, exercia uma seducção irresistível sobre o pequeno Infante [ D. Manuel]. As suas mãositas travessas estendiam-se, súplices, para os relógios dos dignatários e dos familiares. Nada o entretinha como vêr caminhar os ponteiros nos mostradores de ouro ou porcelana, entre os algarismos romanos, e ouvir o tic-tac isochrono dos machinismos. O relogio era o grande mysterio fascinador, perante que se dilatavam os seus olhos meditativos. Os brinquedos que o interessavam eram, sobretudo, os de movimento. E a sua curiosidade avida exigia a explicação minuciosa dos segredos que faziam caminhar os comboios sobre os tapete e gesticular os polichinelos”. Foto e texto retirados do livro de 1908 de Carlos Malheiro Dias


“Carlos Minchin, A. Machado, Peixoto, partiram para Braga no sabbado, em bicycleta, regressando domingo à noite, perfeitamente bem dispostos. Foram assistir às festas que a academia de Braga alli realisara”. O Velocipedista (1893)


Ciclista em Carreiros – Foz – 18/12/1897
“O Porto conta hoje perto de 2:000 velocipedistas sendo 500 montados”. In O Velocipedista de 1893


“Que os velocipedistas medrosos – que não são em pequeno número, diga-se a verdade – se tranquillisem, certos de que podem entregar-se aos seus exercícios com a máxima confiança. Efectivamente, está demonstrado, por cálculos feitos sobre elementos estatísticos, que qualquer velocipedista tem uma probabilidade contra 680:000 de ser victima de um accidente velocipédico.
Nenhum outro meio de transporte nos offerece tamanha garantia de segurança”. O Velocipedista (1893)


Chalet do Palacio de Cristal, onde foi fundado, em 1893, o Real Velo-Club do Porto.

“Realisou-se na segunda-feira 11 do corrente, pelas 7 e meia horas da tarde na séde d’este club, no Palacio de Crystal, sob a presidência do snr. Dr. Paulo Marcellino, secretariado pelos snrs. Dr. Bento Vieiro e Antonio de Lemos, uma assembleia geral extraordinária.
Lida e aprovada a acta da sessão anterior foi lida uma proposta da direcção para se eleger presidente honorário, sua majestade el-rei.
Em seguida o sr. barão de Paçô Vieira (Alfredo), como presidente da direcção, participou á assembleia que sua majestade acabava de dar mais uma prova da sua amabilidade para com este club, concedendo-lhe licença para estabelecer um ‘velodromo’ na quinta do real paço dos Carrancas. Propôz que em vista d’esta generosa offerta e das demais provas de consideração já dispensadas, sua majestade el-rei fosse também nomeado socio benemérito.
O sr. dr. Paulo Marcellino, fazendo notar o valor e importância da concessão feita por El-Rei, alvitrou que a votação da preposta do sr. barão de Paçô Vieira fosse feita por acclamação . A assembleia acolheu com ruidosas salvas de palmas as palavras do sr. dr. Paulo Marcellino, sendo em seguida levantada a sessão.
A assembleia esteve numerosamente concorrida.
Foi enviado a Sua Magestade o seguinte tellegrama:
‘Ex.mo Camarista de Semana de Sua Magestade El-Rei – Lisboa – A assembleia Geral do Real Velo-Club do Porto acaba de votar enthusiasticamente, por acclamação, socio benemérito e presidente honorário Sua Magestade. Rogamos a V. Ex.ª queira dar conhecimento d’este facto ao mesmo Augusto Senhor, apresentando-lhe os nossos agradecimentos e protestos da mais profunda gratidão. – O presidente d’assembleia geral, Dr. Paulo Marcellino Dias de Freitas; o presidente da direcção, Barão de Paçô Vieira (Alfredo)”. Notícia d’O Velocipedista (1893)



Velódromo Maria Amélia – 1900 – foto de Humberto Fonseca (1877-1940)

“Real Velo-Club do Porto – Já está concluída a pista do velódromo d’este Club, na quinta do palácio real, devendo ser posta à disposição dos sócios, para a trainagem, no próximo domingo 17 do corrente.
A tribuna principal, que é de um bello e elegante desenho, deve ficar concluída por toda esta semana.
Já foram nomeados os jurys para as corridas que teem de realizar-se ás 4 horas e meia da tarde do dia 29 do corrente, os quaes ficaram assim constituídos:
Juizes de chegada, conselheiro Campos Henriques, barão de Paço Vieira (Alfredo) e José Izidoro de Campos; juiz de partida Arthur Rumsey; fiscais de pista, Guilherme Andersen, Adolpho Vieira da Cruz, Henrique José da Cunha e Fernando Nicolau de Almeida; cronometro, John Minchin Junior.
Toda a obra do velódromo, construção da tribuna, etc., tem sido, desde o principio, dirigida pelo socio o snr. José Izidro de Campos, que a isso se prestou obsequiosamente.
Tem sido grande o numero de sócios ultimamente inscriptos.
Começou há dias a semear-se a relva no redondel do velódromo.
Calcula-se que a lotação das tribunas e lugares de peões seja approximadamente de 2:500 a 3:000 pessoas.
A commissão das corridas, convida os snrs. associados que desejem bilhetes de tribuna para a festa de inauguração, a requisital-os até ao dia 24 do corrente, d’esde as 8 horas da manhã ás 9 da noute.
A Direcção d’este Club, nomeou sócio, por acclamação , S. A. o infante D. Affonso, que sendo um distincto velocipedista, requereu n’esse sentido á mesma direcção”. O Velocipedista (1894)


Velódromo Maria Amélia, nome dado em honra da rainha, depois de Príncipe Real, que existiu, entre 1895 e 1910, nas traseiras do Palácio dos Carrancas em terreno cedido por D. Carlos. Foi construído em 1895. A pista tinha 333,33 metros, pelo que em 3 voltas se percorriam 1000 metros. Á direita vê-se a bancada real que tinha 700 lugares e 50 camarotes para os sócios. Neste complexo havia também 3 campos de ténis, desporto muito pouco praticado nessa época.


Alfredo Vieira Pinto de Vilas-Boas, conde Paçô Vieira, junto à bancada do Real Velo Club do Porto, localizado nas traseiras do actual Museu Nacional de Soares dos Reis.


Real Velo Clube em 1937 – tinha campos de ténis


O antigo velódromo no terreno do actual Museu Nacional Soares dos Reis que aparece na parte inferior da fotografia.


Vestígios do antigo Velódromo Maria Amélia em Abril 2012 – in Biclanoporto

Há mais de 15 anos, passando nós pela R. Adolfo Casais Monteiro notámos que o portão de acesso ao antigo velódromo estava entreaberto e a curiosidade levou-nos a entrar. O local estava em obras, mas ainda conservava intacto a inclinação da curva do lado poente, mostrando perfeitamente a estrutura do circuito e restos dos antigos campos de ténis. 
Existiram ainda velódromos na Quinta de Salgueiros, pertencente ao Clube de Caçadores do Porto e na Serra do Pilar que eram muito concorridos.


Como se pode ver acima, também se realizavam festas no velódromo Maria Amélia. 
Esta carta-convite, de 8/3/1895, informa que, no Domingo de Páscoa seguinte, se realizaria “uma grande Kermesse” a favor do Dispensário Rainha D. Amélia. 
Porém, devido ao mau tempo só se realizou em 5 de Maio, duas semanas depois. Os bilhetes custavam: entrada geral 100 reis; Tribuna 500 reis. 
Dois pormenores desta carta-convite têem interesse: verifica-se que a sede do clube se manteve no Palácio de Cristal e reporta-se ao… 


…futuro Dispensário Rainha D. Amélia que foi construído no largo onde existiu a Porta do Sol, a Capela de Santo António do Penedo e a Sul da Casa Pia. Photo Guedes - 1900


Princípios do séc. XX?


“Abilio Machado, José do Amaral, Baião, Meirelles, Mourão, Santos, Santos Vidal, irmãos Lopes e muitos outros, realisaram no domingo largos passeios, almoçando no campo, com um apetite, dizem, phenomenal. Maldita velocipedia!” O Velocipedista – 1893

O Porto visto de Drone – Uma maravilha

1 comentário:

  1. Viva
    Quem as viu...e que as vê.
    Enorme evolução...até nos preços.
    Cumprs
    Augusto

    ResponderEliminar